Na última semana publicamos aqui no blog um texto do site Vatican News sobre a reforma da Liturgia das Horas pelo Concílio Vaticano II. Segue agora uma reflexão sobre a reforma das Exéquias:
A celebração da Liturgia das Exéquias
19 de agosto de 2020
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar no programa de hoje sobre a celebração da Liturgia
das Exéquias.
Dando continuidade neste nosso espaço ao estudo dos
documentos conciliares, em particular sobre a Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Sagrada Liturgia, promulgada
por São Paulo VI em 04 de dezembro de 1963, Padre Gerson Schmidt nos remete
hoje ao Capítulo III do Documento: “Os outros sacramentos e os sacramentais”,
onde no número 81 fala sobre o rito das Exéquias. E recorda, que “a Igreja,
presente com seu ministro das exéquias, deve ir ao encontro do sofrimento das
pessoas”, ilustrando com palavras de São João Paulo II da Carta Apostólica Salvifici Doloris sobre o sentido
cristão do sofrimento humano. Padre Gerson:
A celebração das Exéquias deve, segundo a reforma, “exprimir
melhor a índole pascal da morte cristã” (SC, n. 81). A celebração das Exéquias
é uma Liturgia. Na revisão dos ritos fúnebres, dever-se-á dar maior destaque a
alegria da Ressurreição de Cristo, razão da nossa fé, para não se cair num tom
demasiadamente penitencial e derradeiro da morte, que atinge a todos e que por
si só, já traz tristeza e angústia. Os Padres conciliares também pedem que se
adapte “mais o rito às condições e tradições das várias regiões, mesmo no que
respeita à cor litúrgica e se faça a revisão do rito de sepultura das crianças
enriquecendo-o de Missa própria” (SC, nn. 81-82). Ou seja, que na sepultura das
crianças, haja um rito próprio para a Missa, pois o que estava em vigor remonta
ao século XV.
Há nas celebrações dos enterros por vezes um acento muito
antropológico, acentuando-se os aspectos positivos do defunto, havendo um
demasiado saudosismo e sentimentalismo exagerado, que pode trazer ambiguidades
e descompassos pastorais. A nova concepção da Liturgia das Exéquias necessita,
a partir da mentalidade nova do Concilio, dar acento à dimensão cristocêntrica
da fé pascal, que deve ter destaque na celebração, na pregação, nas orações
fúnebres.
Cristo não parou na morte e, como Ele, também nós todos
vamos ressuscitar. Por isso, os ministros das Exéquias não devem acentuar tão
somente o aspecto derradeiro e dramático da morte, trazendo mais tristeza aos
fiéis enlutados, que choram o passamento de seu ente querido. Devem aproveitar
essa hora em que as pessoas estão sensíveis e abertas para proclamar um
querigma, um verdadeiro anúncio da fé, de um Deus amor que veio ao mundo para
resgatar o homem do pecado e da morte.
Não cabe aqui muitas cobranças de participação ou de
compromisso comunitário das pessoas presentes no velório, mas de um primeiro
anúncio do Deus que ama a todos e que preparou um lugar na eternidade para
todos. Não se poderia perder a oportunidade de “querigmatizar” sobre a vitória
de Cristo sobre a morte e sobre todas as nossas mortes e desilusões na vida.
Nos funerais, proclame-se a morte não como o fim de tudo,
mas, como na celebração da festa dos santos, como o “dies natalis”, dia do nascimento para a verdadeira vida,
proclamando-se “o Mistério Pascal realizado neles que sofreram com Cristo e com
ele são glorificados” (SC, n. 104).
A celebração das Exéquias deixa de ser, assim, apenas uma
intercessão pelo defunto ou oração pelos mortos, ou ainda entendida como um
rito de alívio e consolo para os enlutados, mas uma oportunidade de catequese
para o povo, uma verdadeira mistagogia que proclama a salvação de Cristo
Ressuscitado dos mortos.
A Igreja, presente com seu ministro das Exéquias, deve ir ao
encontro do sofrimento das pessoas. Como proclamou o Papa João Paulo II: “A
Igreja, que nasce do mistério da Redenção na Cruz de Cristo, tem o dever de
procurar o encontro com o homem, de modo particular no caminho do seu
sofrimento. É em tal encontro que o homem «se torna o caminho da Igreja»; e
este é um dos caminhos mais importantes” [1].
Por isso, os funerais cristãos não conferem ao defunto um
sacramento, como aponta o Catecismo da Igreja, mas não deixam de ser uma
autêntica celebração litúrgica da Igreja.
[1] João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici Doloris sobre o sentido cristão do sofrimento humano, n.
03.
Fonte: Vatican News
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