Santo Agostinho
Sermão 188 sobre o Nascimento do Senhor
O
dia de hoje nos leva ao dia eterno
No princípio existia a Palavra, e a Palavra
estava junto de Deus, e a Palavra era Deus, e também: a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Talvez possamos dizer o
motivo pelo qual habitou entre nós;
talvez ele possa ser explicável onde quis ser visível. Por isso celebramos
também este dia em que se dignou nascer de uma virgem, permitindo que, de
alguma forma, sua geração fosse narrada pelos homens.
Mas quem narrará sua geração, isto é, aquela
que teve lugar na eternidade, e pela qual nasceu Deus de Deus? Eternidade na
qual não existe um dia que possa ser celebrado solenemente, que passa para
voltar cada ano, mas que permanece sem ocaso, porque também não teve aurora.
Assim, a Palavra única de Deus, a vida e luz dos homens, é o dia eterno. Em vez
disso temos este que, unido à carne humana, fez-se como esposo que sai de seu
leito nupcial, e que agora lhe chamamos hoje, porém amanhã lhe chamaremos
ontem. No entanto, o dia de hoje nos leva ao dia eterno, porque o dia eterno,
ao nascer de uma virgem, tornou sagrado o dia de hoje.
Que louvores
proclamaremos, pois, ao amor de Deus! Quantas graças temos de lhe dar! Tanto
nos amou que por nós foi feito no tempo aquele por quem foram feitos os tempos,
e neste mundo teve idade menor que muitos de seus servos aquele que era mais
antigo que o mundo por sua eternidade. Tanto nos amou que se fez homem aquele
que fez o homem; foi criado por uma Mãe a qual Ele tinha criado; foi levado nas
mãos que Ele formou, se amamentou do peito que Ele encheu; e chorou no presépio
a infância muda, a Palavra sem a qual é muda a eloquência humana.
Considera, ó
homem, o que Deus veio a ser por ti; aprende a doutrina de tão grande humildade
da boca daquele doutor que ainda não fala. Em outra época, no paraíso, tu foste
tão fecundo que impuseste o nome a todo ser vivente; apesar disso, deitado no
presépio sem falar, estava o teu Criador; sem chamar por seu nome, nem sequer a
sua Mãe. Tu, descuidando da obediência, te perdeste no amplo jardim de árvores
frutíferas; Ele, por obediência, veio em condição mortal a um estábulo
apertado, para buscar, mediante a morte, ao que estava morto. Tu, sendo homem e
para tua perdição, quisestes ser Deus; Ele, sendo Deus, quis ser homem para
encontrar o que estava perdido. Tanto te oprimia a soberba humana, que somente
a humildade divina podia te levantar.
Celebremos,
pois, com alegria o dia em que Maria deu à luz o Salvador; a casada, ao Criador
do matrimônio; a virgem ao Príncipe das virgens; ela que era virgem antes do
matrimônio, virgem no matrimônio, virgem durante o parto, virgem quando
amamentava. De fato, de nenhum modo o Filho todo-poderoso violou, ao nascer, a
virgindade de sua Mãe, escolhida por Ele.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
38-39. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também uma homilia de Orígenes para esta Missa clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário