O dia 08 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, é uma data fixa no calendário das celebrações presididas pelo
Papa: todos os anos o Bispo de Roma dirige-se neste dia à Praça da Espanha em Roma para um momento de oração diante da imagem da Imaculada.
No dia 08 de dezembro de 1854, através da Bula Ineffabilis Deus, o Papa Pio IX (†1878) proclamou o dogma da Imaculada Conceição. Para comemorar esse histórico evento, três anos depois, no dia 08 de setembro de 1857, é inaugurada a Colonna dell'Immacolata na Piazza Mignanelli, parte da Piazza di Spagna em Roma.
A imagem foi colocada na Praça da Espanha, local onde se encontra a embaixada deste país junto à Santa Sé, em homenagem aos teólogos espanhóis, grandes defensores do dogma da Imaculada. Nesta praça encontra-se também o Palazzo di Propaganda Fide, sede da Congregação para a Evangelização dos Povos (atual Dicastério para a Evangelização).
O projeto, financiado pelo Rei Fernando II das Duas Sicílias (†1859) [1], ficou a cargo do arquiteto Luigi Poletti (†1869), incluindo a coluna de mármore de cerca de 12 metros e a base com várias figuras bíblicas, como veremos adiante.
Como foram cerca de 200 bombeiros de Roma (Vigili del fuoco) a levantar a coluna,
estes costumam oferecer uma coroa de flores em homenagem a Nossa Senhora no dia 08 de dezembro,
colocando-a no braço da imagem. Com o tempo, outros grupos passaram a enviar
flores para serem depositadas aos pés da coluna nesse dia.
Vista da Praça da Espanha em Roma (1895) |
O primeiro Papa a visitar a estátua para depor uma coroa de
flores foi Pio XII (†1958), na abertura do Ano Mariano de 1953-1954, convocado justamente para
comemorar o centenário do dogma da Imaculada Conceição. Nos anos seguintes, por sua vez, o
Papa enviava as flores por um representante.
João XXIII (†1963), eleito em 1958, deu início ao costume de levar as flores pessoalmente praticamente todos os anos, tradição foi continuada por seus sucessores Paulo VI (†1978), João Paulo II (†2005), Bento XVI e Francisco.
A entrega das flores costuma acontecer em uma breve celebração, composta por uma leitura, a Ladainha de Nossa Senhora e algumas orações e cânticos. Para esta “Homenagem à Imaculada” também é costume que o Papa componha uma oração, que ele recita diante da imagem durante a celebração, pedindo a intercessão da Virgem Maria pela cidade de Roma e pelo mundo inteiro.
Confira o vídeo da visita de Pio XII à imagem em 1953:
Alguns detalhes da coluna e da imagem
A imagem da Imaculada Conceição em bronze, obra de Giuseppe Obici (†1878), possui cerca de 4 metros. A Virgem está em cima de um globo,
símbolo do mundo, sustentado pelos animais que representam os quatro
evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João (respectivamente: um homem, um leão, um touro e uma águia).
Maria tem a lua sob seus pés (cf. Ap 12,1) e pisa a cabeça de uma
serpente (cf. Gn 3,15). Ao redor da cabeça, possui uma coroa de doze estrelas (cf. Ap
12,1). Com a mão direita aponta para o céu, enquanto que a mão esquerda aponta
para o chão, simbolizando sua intercessão pela cidade de Roma.
Estátua da Imaculada (Giuseppe Obici) |
Na base da estátua estão representadas quatro figuras de
mármore de importantes personagens do Antigo Testamento: Moisés, obra de Ignazio Jacometti (†1883); Davi, de Adamo Tadolini (†1868); Isaías, de Salvatore Revelli (†1859); e Ezequiel, de Carlo
Chelli (†1877).
Abaixo de cada uma das figuras há uma citação bíblica
relacionada com o dogma da Imaculada:
Moisés: “Inimicitias ponam inter te et mulierem”
- “Porei inimizade entre ti e a mulher” (Gn 3,15) .
Este texto do Gênesis, conhecido como “protoevangelho”, por ser a primeira profecia do Messias, recorda a total oposição da Mulher e sua descendência ao mistério do mal,
representado pela serpente. A associação da frase a Moisés se deve a que antigamente se lhe atribuía a autoria de todo o Pentateuco.
Moisés (Ignazio Jacometti) |
Davi: “Sanctificavit tabernaculum suum Altissimus” - “Santificando as moradas do Altíssimo” (Sl 46,4).
Este versículo do Livro dos
Salmos, tradicionalmente associado ao Rei Davi, fala de Deus que santifica o Templo, símbolo aplicado aqui ao ventre de Maria, templo que acolhe
o Filho de Deus encarnado.
Davi (Adamo Tadolini) |
Isaías: “Ecce Virgo concipiet” - “Eis
que a Virgem conceberá” (Is 7,14).
Uma das mais famosas profecias messiânicas, embora
refira-se primeiramente à esposa do rei Acaz, é geralmente interpretada como uma prefiguração de Maria, a
Virgem que concebe o Emanuel, “Deus conosco” (cf. Mt 1,20-23).
Isaías (Salvatore Revelli) |
Ezequiel: “Porta haec clausa erit” - “Esta
porta ficará fechada” (Ez 44,2).
O versículo refere-se à porta oriental do Templo de Jerusalém, que
permaneceria fechada e só se abriria para o Senhor entrar. É lido aqui em
referência à virgindade de Maria: seu ventre abriu-se apenas para acolher o
Filho de Deus feito homem.
Ezequiel (Carlo Chelli) |
Entre as estátuas há ainda quatro relevos
representando: a Anunciação, obra de Francesco Gianfredi (séc. XIX); o Sonho de José, de
Nicola Cantalamessa Papotti (†1910), a Coroação de Maria, de Giovanni Maria Benzoni (†1873) e a proclamação do dogma da Imaculada, de Pietro
Galli (†1877).
Completam a base da coluna uma citação da Ave Maria - “Ave gratia plena Dominus tecum benedicta tu
in mulieribus” (Lc 1,28) - e uma inscrição referindo-se à proclamação do dogma da
Imaculada, além do brasão de Pio IX.
Nota:
[1] O Reino das Duas Sicílias (Regno delle Due Sicilie) surgiu em 1816, abrangendo o sul da Itália (antigo Reino de Nápoles) e a ilha da Sicília. Foi unido ao Reino da Itália em 1861.
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