Homilia na
Ordenação Episcopal de D. Daniel Henriques e D. Rui Valério
Celebramos a
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, este ano com a feliz
Ordenação Episcopal de D. Daniel Henriques e D. Rui Valério – o primeiro para
Bispo Auxiliar de Lisboa e o segundo para Bispo das Forças Armadas e de
Segurança.
Saúdo fraternalmente os dois, bem como todos os irmãos no Episcopado, com especial menção de D. Manuel Linda, a quem D. Rui Valério sucede. Saudação alargada aos irmãos sacerdotes e diáconos, bem como a todo o Povo de Deus aqui jubilosamente reunido. Destaco respeitosamente todas as autoridades civis e militares que estão connosco e as famílias dos dois novos Bispos – incluindo a família religiosa de D. Rui Valério, caros amigos Monfortinos.
Saúdo fraternalmente os dois, bem como todos os irmãos no Episcopado, com especial menção de D. Manuel Linda, a quem D. Rui Valério sucede. Saudação alargada aos irmãos sacerdotes e diáconos, bem como a todo o Povo de Deus aqui jubilosamente reunido. Destaco respeitosamente todas as autoridades civis e militares que estão connosco e as famílias dos dois novos Bispos – incluindo a família religiosa de D. Rui Valério, caros amigos Monfortinos.
O facto de
celebrarmos Cristo Rei, com o Evangelho que acabamos de ouvir, leva-me a
partilhar convosco uma breve reflexão. Partilho-a com todos, mas poderá incidir
especialmente nos Ordinandos e no ministério eclesial que desempenharão.
Trata-se da realeza de Cristo, como Ele a viveu e confessou. Trata-se da Igreja, que é o seu Corpo neste mundo, como Ele quer continuar com todos, em qualquer tempo e circunstância. Trata-se, sobretudo, da nossa adequação ao seu modo de ser e de estar, que é unicamente o do serviço.
Trata-se da realeza de Cristo, como Ele a viveu e confessou. Trata-se da Igreja, que é o seu Corpo neste mundo, como Ele quer continuar com todos, em qualquer tempo e circunstância. Trata-se, sobretudo, da nossa adequação ao seu modo de ser e de estar, que é unicamente o do serviço.
Lembremos
como sempre se furtou a qualquer outro tipo de soberania, fosse diante das
multidões que o aclamavam, fosse diante dalgum discípulo equivocado. Lembremos
como opôs a realeza do serviço à realeza da imposição. Lembremos que se
apresentou como servo de todos e disse ser essa a verdadeira grandeza (cf. Mt 20,25-28). Lembremos que a única coroa que teve
foi a de espinhos e o único trono a que subiu foi a cruz.
Lembramos
certamente que assim foi. Neste momento, porém, confirmamos com a nossa
presença aqui a verdade realizada do que também predisse: «Quando for erguido
da terra atrairei todos a mim» (Jo 12,32).
É este o seu
trono e realeza. Se, muito especialmente nesta aceção, a Igreja é Corpo de
Cristo, não poderá ser doutra maneira. Atrai porque se oferece, reina quando
serve. Só assim somos membros de Cristo, profeta, sacerdote e rei, como cada
batizado deve ser deveras.
Se, quando Cristo pronunciou tais frases, contava apenas com a fé dos primeiros ouvintes, hoje conta também com dois mil anos de evidência.
Diante de Pilatos esclareceu que o seu Reino não é deste mundo, nem se defende como se defendem os outros, no respetivo nível. Mas disse mais, disse que quem fosse da verdade escutaria a sua voz. Ao dizer isto definia a sua realeza, como nos mantém consigo (cf. Jo 18,36-37).
Se, quando Cristo pronunciou tais frases, contava apenas com a fé dos primeiros ouvintes, hoje conta também com dois mil anos de evidência.
Diante de Pilatos esclareceu que o seu Reino não é deste mundo, nem se defende como se defendem os outros, no respetivo nível. Mas disse mais, disse que quem fosse da verdade escutaria a sua voz. Ao dizer isto definia a sua realeza, como nos mantém consigo (cf. Jo 18,36-37).
Assim foi
com os primeiros súbditos que a sua verdade própria granjeou; assim foi e
continua a ser em tantas gerações acrescentadas, O grande reino e império que
Pilatos representava acabaria por ruir. O novo Reino que diante dele se
propunha, naquele Jesus que ali estava, cresceu depois e cresce agora, pela
verdade inteira que transporta.
Verdade sobre Deus, pois quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14,9); verdade sobre o homem, como o próprio Pilatos indicou sem avaliar o que dizia: “Eis o homem!” (Jo 19,5); verdade sobre o único sentimento em que Deus se define, para nos definir a nós - «Deus é amor» (1 Jo 4, 8). Com o sentido concreto de servir totalmente, pois «ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15,13).
Assim cresceu e cresce o Reino que o Crucificado – Ressuscitado assinala com os que aderem à verdade que revela e nos revela a nós, no que temos de mais essencial e profundo. Mas atenção: só assim cresce e se garante.
Verdade sobre Deus, pois quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14,9); verdade sobre o homem, como o próprio Pilatos indicou sem avaliar o que dizia: “Eis o homem!” (Jo 19,5); verdade sobre o único sentimento em que Deus se define, para nos definir a nós - «Deus é amor» (1 Jo 4, 8). Com o sentido concreto de servir totalmente, pois «ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15,13).
Assim cresceu e cresce o Reino que o Crucificado – Ressuscitado assinala com os que aderem à verdade que revela e nos revela a nós, no que temos de mais essencial e profundo. Mas atenção: só assim cresce e se garante.
Pelo
contrário, como demonstram tantos séculos já somados, quando isto se esquece ou
contrafaz, não assinalamos o Reino, não crescemos como Igreja de Cristo, não
desafiamos os reinos deste mundo, para serem o que devem ser, ao serviço dos
homens. Não nos admiremos que depois suceda como o próprio Cristo preveniu: «Se
o sal se corromper […] não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e
ser pisado pelos homens» (Mt 5,13).
Venhamos aos
nossos dias, perguntemo-nos pelo Reino de Cristo, divisemos os seus contornos.
Certamente aqui e como estamos, nesta bela celebração. Somos o seu Corpo de
batizados, ouvimos a sua Palavra, invocaremos o Espírito que compartilha com o
Pai, faremos os seus gestos sacramentais. Reviveremos o chamamento que fez dos
Doze, agora sucedidos em mais dois. Mais ainda do que a beleza da Liturgia e de
tudo com que o tempo a decorou, é na verdade do que vivemos e convivemos, na
consistência do serviço prestado, que o Reino se celebra e acontece.
Como é aqui, neste esplendoroso templo dos Jerónimos, Santa Maria de Belém. Como é onde for, na simplicidade e até clandestinidade dalgum espaço que se consiga, onde a Igreja é pobre ou perseguida. Como é na família, que seja verdadeira comunidade de vida e amor, no serviço mútuo, na saúde e na doença, da infância à velhice.
Como é naquela escola, que seja verdadeira comunidade educativa, respeitando e transmitindo valores comprovadamente humanos e humanizadores, base segura de qualquer progresso. Como é naquela empresa, em que o Evangelho é critério de relação e o lucro material é também um ganho humano para todos os que nela trabalham. Como é naquela clínica, hospital ou lar, em que a vida é bem cuidada, da concepção à morte natural.
Como é no serviço, particular ou estatal, em que o bem comum se acrescenta para a felicidade de todos, sem faltar a ninguém; e é resultado da colaboração dos vários corpos intermédios, sem omitir, antes estimulando, o contributo de cada um, pessoa ou grupo.
É este o Reino de Cristo, alargando no mundo o que Ele nos trouxe, tudo refazendo e preenchendo intimamente com o Espírito que derrama. Esse mesmo que nos faz amar como Ele amou e servir como Ele serviu. Espírito de Cristo, alma do seu Reino, que pode até chegar antes de nós e além de nós, mas havemos de reconhecer em quer que seja, como esclareceu: «Quem não é contra nós é por nós» (Mt 9,40).
Caríssimos D. Daniel e D. Rui: Que felicidade a nossa, por reconhecermos no vosso percurso eclesial a marca do Espírito de Cristo e os sinais vivos do seu Reino! Nesta hora abençoada das vossas vidas é a bênção de Deus que mais uma vez se concretiza para todos nós. Para nós e para muitos, que darão graças a Deus pelo vosso serviço total e garantido!
Como é aqui, neste esplendoroso templo dos Jerónimos, Santa Maria de Belém. Como é onde for, na simplicidade e até clandestinidade dalgum espaço que se consiga, onde a Igreja é pobre ou perseguida. Como é na família, que seja verdadeira comunidade de vida e amor, no serviço mútuo, na saúde e na doença, da infância à velhice.
Como é naquela escola, que seja verdadeira comunidade educativa, respeitando e transmitindo valores comprovadamente humanos e humanizadores, base segura de qualquer progresso. Como é naquela empresa, em que o Evangelho é critério de relação e o lucro material é também um ganho humano para todos os que nela trabalham. Como é naquela clínica, hospital ou lar, em que a vida é bem cuidada, da concepção à morte natural.
Como é no serviço, particular ou estatal, em que o bem comum se acrescenta para a felicidade de todos, sem faltar a ninguém; e é resultado da colaboração dos vários corpos intermédios, sem omitir, antes estimulando, o contributo de cada um, pessoa ou grupo.
É este o Reino de Cristo, alargando no mundo o que Ele nos trouxe, tudo refazendo e preenchendo intimamente com o Espírito que derrama. Esse mesmo que nos faz amar como Ele amou e servir como Ele serviu. Espírito de Cristo, alma do seu Reino, que pode até chegar antes de nós e além de nós, mas havemos de reconhecer em quer que seja, como esclareceu: «Quem não é contra nós é por nós» (Mt 9,40).
Caríssimos D. Daniel e D. Rui: Que felicidade a nossa, por reconhecermos no vosso percurso eclesial a marca do Espírito de Cristo e os sinais vivos do seu Reino! Nesta hora abençoada das vossas vidas é a bênção de Deus que mais uma vez se concretiza para todos nós. Para nós e para muitos, que darão graças a Deus pelo vosso serviço total e garantido!
Santa Maria
de Belém, 25 de novembro de 2018
+ Manuel,
Cardeal-Patriarca
Fonte: Patriarcado de Lisboa
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