Carta a Diogneto
“Ó doce intercâmbio”
Porque não foi
uma invenção terrena, como disse o Apóstolo, o que lhes foi confiado (aos
cristãos), nem se preocupam de preservar em detalhes nenhum sistema passageiro,
nem lhes foi confiado a dispensação de mistérios humanos, mas verdadeiramente o
Criador todo-poderoso do universo, o Deus invisível, fez descer dos céus e
fixou a sua Verdade e seu Verbo santo e incompreensível entre os homens, e o
santo ensinamento que ultrapassa a imaginação dos homens e o fixou firmemente em
seus corações. Não, como alguém poderia pensar, enviando um servo, ou anjo,
governante, ou algum dos que presidem as coisas terrenas, ou um encarregado das
dispensações do céu, mas ao próprio Artífice e Criador do universo, por quem
ele fez os céus, e por quem ele conteve o mar dentro de seus limites, e do qual
todos os elementos guardam fielmente os seus mistérios.
Também o sol
observa o curso estabelecido, e a lua obedece quando a manda iluminar a noite,
a quem as estrelas acompanham o percurso que a lua faz, e pelo qual todas as
coisas foram ordenadas, estabelecidas e submetidas: os céus e o que lá existe,
a terra e as coisas que nela existem, o mar e o que ele contém, o fogo, o ar, o
abismo, e os seres das alturas, das profundezas e os do espaço intermediário.
Deus enviou tudo isto para eles.
Será que enviou
tudo isso para demonstrar seu poder, para inspirar temor ou terror? De forma
alguma. Mas em mansidão e humildade é que foi enviado (o Verbo). Como um rei
envia seu filho que também é rei. Ele o enviou enviando a Deus. O enviou como
um homem entre os homens, enviou-lhe como Salvador, usando a persuasão e não a
força, porque a violência não é atributo de Deus. Enviou como quem convida, e
não como quem persegue. Enviou como quem ama, e não para nos julgar. Ele o
enviará no dia do juízo, mas, então, quem suportará a sua presença?
Assim, tendo
preparado tudo em si mesmo juntamente com seu Filho, até pouco tempo permitiu
que nos deixássemos levar a nosso capricho por nossos impulsos desordenados,
arrastados pelos prazeres e concupiscências. Não é que tivesse qualquer
complacência em nossos pecados, mas usava de paciência conosco. Nem que
aprovava aquele tempo de iniquidade, mas estava preparando o atual tempo de
justiça, para que, estando convictos por nossas próprias obras de que éramos
indignos da vida, agora fôssemos feitos dignos dela pela bondade de Deus; e
tendo ficado claro que nós por nós mesmos não podíamos entrar no Reino de Deus,
agora nos seja concedido a capacidade de entrar pelo poder do próprio Deus...
Ele mesmo entregou seu próprio Filho como resgate por nós, o santo pelo
transgressor, o inocente pelo mau, o justo pelos injustos, o incorruptível pelo
corruptível, o imortal pelo mortal.
Portanto, que
outra coisa poderia cobrir nossos pecados, além de sua justiça? Em quem
poderíamos nós, maus e ímpios, ser justificados, a não ser somente no Filho de
Deus? Ó doce intercâmbio! Ó obra insondável! Ó benefícios inesperados! A
iniquidade de muitos ficou sepultada em um só justo, e a justiça de um bastou
para justificar a muitos injustos.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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