Santo Agostinho
Comentário ao Salmo 130
Somos
as pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus
Com frequência
temos advertido à vossa caridade que não devemos considerar os salmos como a
voz isolada de um homem que canta, mas como a voz de todos aqueles que estão no
Corpo de Cristo. E como no Corpo de Cristo estão todos, fala como um só homem,
pois ele é ao mesmo tempo um e muitos. São muitos se considerados isoladamente;
mas são um naquele que é um. Ele também é o templo de Deus do qual falou o
Apóstolo: O templo de Deus é santo, e
esse templo sois vós: todos os que creem em Cristo e, crendo, amam. Pois
nisto consiste crer em Cristo: em amar a Cristo; não como os demônios, que
criam, porém não amavam. Por isso, apesar de crer, diziam: O que nós temos contigo, Filho de Deus? Nós, por outro lado,
creiamos de tal forma que, crendo nele, lhe amemos e não digamos: O que nós temos contigo?, mas digamos
melhor: “Te pertencemos, tu nos redimiste”.
Realmente, todos
quantos assim creem são como as pedras vivas com as quais se edifica o templo
de Deus, e como a madeira incorruptível com a qual se construiu aquela arca que
o dilúvio não conseguiu submergir. Este é o templo - isto é, os próprios homens
- em que se roga a Deus e ele escuta. Somente ao que ora no templo de Deus lhe
é dado ser escutado para a vida eterna. E ora no templo de Deus o que ora na
paz da Igreja, na unidade do Corpo de Cristo. Este corpo de Cristo consta de
uma multidão de crentes espalhados por todo o mundo; e por isso é escutado o
que ora no templo. Ora, pois, no espírito e na verdade o que ora na paz da
Igreja, não naquele templo que era somente uma figura.
Em nível de
imagem, o Senhor expulsou do templo aos que no templo buscavam seu próprio interesse,
ou seja, os que iam ao templo para comprar e vender. Agora, se aquele templo
era uma imagem, é evidente que também no Corpo de Cristo - que é o verdadeiro
templo do qual o outro era uma imagem - existe uma miscelânea de compradores e
vendedores, isto é, gente que busca seu interesse, e não o de Jesus Cristo. E
visto que os homens são açoitados por seus próprios pecados, o Senhor fez um
açoite de cordas e expulsou do templo todos os que buscavam seus interesses, e
não os de Jesus Cristo.
Pois bem, a voz
deste templo é a que ressoa no salmo. Neste templo - e não o templo material - se
roga a Deus, como vos disse, e Deus escuta em espírito e verdade. Aquele templo
era uma sombra, imagem do que haveria de vir. Por isso aquele templo já foi
destruído. Isto quer dizer que foi derrubada nossa casa de oração? De forma
alguma. Pois aquele templo que foi derrubado não pode ser chamado casa de
oração, e do qual se disse: Minha casa é
casa de oração, e assim será chamada por todos os povos. E escutastes o que
disse nosso Senhor Jesus Cristo: Está escrito: Minha casa é casa de oração para todos os povos; porém vós a
convertestes em uma cova de ladrões.
Por acaso os que
pretenderam converter a casa de Deus em uma cova de ladrões conseguiram
destruir o templo? Da mesma maneira, os que vivem mal na Igreja Católica,
naquilo que deles depende, querem converter a casa de Deus em uma cova de
ladrões; porém, nem por isso destroem o templo. Mas chegará o dia em que, com o
açoite trançado com seus pecados, serão precipitados fora. Pelo contrário, este
templo de Deus, este Corpo de Cristo, esta assembleia de fiéis tem uma só voz,
e canta no salmo como um só homem. Esta voz a escutamos em muitos salmos;
ouçamo-la também nesse. Se queremos, é nossa voz; se queremos, com o ouvido
escutamos ao cantor, e com o coração também nós cantamos. Mas, se não queremos,
seremos naquele templo como os compradores e vendedores, ou seja, como os que
buscam seus próprios interesses. Entremos, sim, na igreja, mas somente para
fazer o que agrada aos olhos de Deus.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 314-316. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Para ler uma homilia de São Cirilo de Alexandria para este domingo, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário