São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Livro dos Números
Cristo
brotou no meio de nós como uma espiga de trigo; morreu e produz muito fruto
Cristo
foi a primícias deste trigo , ele é o
único que escapou da maldição, precisamente quando desejou tornar-se maldição
por nós. E mais: venceu até mesmo os agentes da corrupção, retornando por si
mesmo à existência livre entre os mortos. Realmente ressuscitou derrotando a
morte e subiu ao Pai como dom ofertado, qual primícias da natureza humana
renovada na incorruptibilidade. Verdadeiramente, Cristo não entrou em um santuário construído por homens - imagem do
autêntico -, mas sim no próprio céu, para dispor-se diante de Deus,
intercedendo por nós.
Que
Cristo seja aquele pão da vida descido do céu; e que também perdoe os pecados e
liberte aos homens de suas transgressões oferecendo-se a si mesmo a Deus Pai
como vítima de agradável odor, o poderás compreender perfeitamente se, com os
olhos do espírito, o contemplas como aquele novilho sacrificado e como aquele
bode imolado pelos pecados do povo. Cristo realmente ofereceu sua vida por nós,
para cancelar os pecados do mundo.
Portanto,
assim como no pão vemos a Cristo como vida e doador da vida, no novilho o vemos
imolado, oferecendo-se novamente a Deus Pai em odor de suavidade; e na figura
do bode o contemplamos transformado em pecado por nós e em vítima pelos
pecados, da mesma forma podemos considerá-lo como um feixe de trigo. O que pode
representar este feixe, eu vos explicarei em poucas palavras.
O
gênero humano pode ser comparado às espigas de um campo: nasce de certo modo da
terra, desenvolve-se buscando seu crescimento normal, e é ceifado quando a
morte o colhe. O próprio Cristo falou disto aos seus discípulos, dizendo: Vocês não dizem que ainda faltam quatro
meses para a colheita? Eu porém vos digo: Levantai os olhos e contemplai os
campos que já estão maduros para a ceifa; o ceifeiro já está recebendo o
salário e armazenando fruto para a vida eterna.
Os
habitantes da terra podem, portanto, comparar-se, e com razão, à messe dos
campos. E Cristo, modelado conforme nossa natureza, nasceu da Santíssima Virgem
assim como uma espiga de trigo. Na realidade, é o próprio Cristo quem se dá o
nome de grão de trigo: Em verdade, em verdade
vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece infecundo;
porém, se morre, dá muito fruto. Por esta razão Cristo se tornou para nós
anátema, ou seja, em algo consagrado e ofertado ao Pai, à maneira de um feixe
ou como as primícias da terra. Uma única espiga, porém, não considerada
isoladamente, mas unida a todos nós que, como um feixe formado de muitas
espigas, formamos um só molho.
Pois
bem, esta realidade é necessária para a nossa utilidade e proveito, e
complementa o símbolo do mistério. Pois Cristo Jesus é único, mas pode ser
considerado - e realmente o é - como um feixe cingido, pois que contém em si a
todos os crentes, com uma união preferentemente espiritual. Do contrário, como
poderia São Paulo ter escrito: Ressuscitou-nos
com Cristo Jesus e nos assentou com ele no céu? Sendo ele um de nós,
comungamos com ele em um mesmo corpo e, mediante a carne, alcançamos a união
com ele. E esta é a razão pela qual, em outra passagem, ele mesmo dirige a
Deus, Pai celestial, estas palavras: Pai,
este é o meu desejo: que todos sejam um, como tu, ó Pai, está em mim e eu em
ti, que também eles estejam em nós.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 320-322. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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