Santo Agostinho
Sermão 221
Passamos
em vigília a noite em que o Senhor ressuscitou
Nenhum cristão
duvida de que Cristo o Senhor ressuscitou dentre os mortos ao terceiro dia. O
santo Evangelho atesta que o acontecimento teve lugar esta noite. Não há dúvida
de que começam a contar-se os dias desde a noite precedente, ainda que não se
ajuste à ordem de dias mencionados no Gênesis, apesar de que também ali as
trevas precederam ao dia, pois as trevas
cobriam o abismo quando Deus disse: Haja
luz, e a luz foi feita. Porém, como aquelas trevas ainda não eram a noite,
também não havia dias.
Realmente, Deus separou a luz das trevas, e
primeiramente chamou dia à luz, e noite às trevas, e foi mencionado como um só
dia o espaço desde que se fez a luz até a manhã seguinte. Está claro que
aqueles dias começaram com a luz e, passada a noite, cada um durava até a manhã
seguinte. Entretanto, depois que o homem criado pela luz da justiça caiu nas
trevas do pecado, das quais o libertou a graça de Cristo, aconteceu que
contamos os dias a partir das noites, porque nosso esforço não se dirige a
passar da luz para as trevas, mas das trevas para a luz, coisa que esperamos
conseguir com o auxílio do Senhor.
Assim diz também
o Apóstolo: A noite passou, o dia se
aproxima; depojemo-nos das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz.
Portanto, o dia da Paixão do Senhor, dia em que foi crucificado, seguia a
própria noite já passada, e por isso encerrou e concluiu na preparação da
Páscoa, que os judeus chamam também “ceia pura”, e a observância do sábado
começava ao início desta noite. Em consequência, o sábado que começou com sua
própria noite concluiu na tarde da noite seguinte, que já é o começo do dia do
Senhor, porque o Senhor o tornou sagrado com a glória de sua ressurreição.
Assim, nesta
solenidade celebramos agora a memória daquela noite que dava começo ao dia do
Senhor, e passamos em vigília a noite em que o Senhor ressuscitou. A vida da
qual falava um pouco antes, na qual não haverá nem morte nem sono, ele a
iniciou para nós em sua carne, que ressuscitou dentre os mortos de tal forma
que já não morre nem a morte tem domínio sobre ela.
Aqueles que o
amavam chegaram ao sepulcro para buscar seu corpo já de manhã, e não o
encontraram, mas receberam um aviso da parte dos anjos, de que já tinha
ressuscitado. Torna-se claro, portanto, que tinha ressuscitado naquela mesma
noite, cujo término foi aquele amanhecer. Em consequência, o Ressuscitado, a
quem cantamos nesta vigília um pouco mais longa, nos concederá o reinar com ele
na vida sem fim. E se por casualidade ainda se encontrava seu corpo no sepulcro
e ainda não tinha ressuscitado nestas horas que passamos em vigilância, nem por
isso nos comportamos sem coerência ao proceder assim, pois quem morreu para que
nós tivéssemos vida, dormiu para que nós estivéssemos em vigília. Amém.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 336-337. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Para ler uma homilia de São Cirilo de Jerusalém para esta celebração, clique aqui.
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