No último dia 01 de março foi publicada a Carta Placuit Deo (Aprouve a Deus) da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da salvação cristã.
Basicamente o documento, dirigido aos Bispos da Igreja Católica, critica duas "heresias" modernas: o neo-pelagianismo e o neo-gnosticismo, reafirmando a salvação como dom de Jesus Cristo.
Segue o documento na íntegra, embora, sob o ponto de vista da Liturgia, interessa-nos sobretudo os nn. 13-14, que tratam dos sacramentos como sinais da salvação
Congregação para a Doutrina da
Fé
Carta Placuit Deo
Aos Bispos da
Igreja católica sobre alguns aspectos da salvação cristã
I.
Introdução
1.
«Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a
conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef 1,9), segundo o qual os homens, por
meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se
tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef 2,18; 2Pd 1,4). [...] Porém, a
verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos
homens, manifesta-se-nos, por esta revelação, em Cristo, que é,
simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação»
[1].
O ensinamento sobre a salvação em Cristo exige sempre ser aprofundado
novamente. A Igreja, tendo o olhar fixo em Cristo Senhor, dirige-se com amor
materno a todos os homens, para anunciar-lhes o inteiro desígnio de Aliança do
Pai que, mediante o Espírito Santo, deseja «submeter tudo a Cristo» (Ef 1,10).
A presente Carta pretende destacar, na linha da grande tradição da fé e com
especial referência ao ensinamento de Papa Francisco, alguns aspectos da
salvação cristã que possam ser hoje difíceis de compreender por causa das
recentes transformações culturais.
II.
O impacto das transformações culturais de hoje sobre o significado da salvação
cristã
2. O
mundo contemporâneo questiona, não sem dificuldade, a confissão de fé cristã,
que proclama Jesus o único Salvador de todo o homem e da humanidade inteira
(cf. At 4,12; Rom 3,23-24; 1Tm 2,4-5; Tt 2,11-15) [2].
Por um lado, o individualismo centrado no sujeito autônomo, tende a ver o homem
como um ser cuja realização depende somente das suas forças [3].
Nesta visão, a figura de Cristo corresponde mais a um modelo que inspira ações
generosas, mediante suas palavras e seus gestos, do que Aquele que transforma a
condição humana, incorporando-nos numa nova existência reconciliada com o Pai e
entre nós, mediante o Espírito (cf. 2Cor 5,19; Ef 2,18). Por outro lado,
difunde-se a visão de uma salvação meramente interior, que talvez suscita uma
forte convicção pessoal ou um sentimento intenso de estar unido a Deus, mas sem
assumir, curar e renovar as nossas relações com os outros e com o mundo criado.
Com esta perspectiva, torna-se difícil compreender o significado da Encarnação
do Verbo, através da qual Ele se fez membro da família humana, assumindo a
nossa carne e a nossa história, por nós homens e para a nossa salvação.
3. O
Santo Padre Francisco, no seu magistério ordinário, referiu-se muitas vezes a
duas tendências que representam os dois desvios antes mencionados, e que se
assemelham em alguns aspectos a duas antigas heresias, isto é,
o pelagianismo e o gnosticismo [4].
Prolifera em nossos tempos um neo-pelagianismo em que o homem, radicalmente
autônomo, pretende salvar-se a si mesmo sem reconhecer que ele depende, no mais
profundo do seu ser, de Deus e dos outros. A salvação é então confiada às
forças do indivíduo ou a estruturas meramente humanas, incapazes de acolher a novidade do Espírito de Deus [5].
Um certo neo-gnosticismo, por outro lado, apresenta uma salvação meramente interior, fechada no subjetivismo [6].
Essa consiste no elevar-se «com o intelecto para além da carne de Jesus rumo
aos mistérios da divindade desconhecida» [7].
Pretende-se, assim, libertar a pessoa do corpo e do mundo material, nos quais
não se descobrem mais os vestígios da mão providente do Criador, mas se vê
apenas uma realidade privada de significado, estranha à identidade última da
pessoa e manipulável segundo os interesses do homem [8].
Por outro lado, é claro que a comparação com as heresias pelagiana e gnóstica
pretende somente evocar traços gerais comuns, sem entrar, nem fazer juízos,
sobre a natureza destes erros antigos. De fato, a diferença entre o contexto
histórico secularizado de hoje e o contexto dos primeiros séculos cristãos, nos
quais estas heresias nasceram, é grande [9].
Todavia, enquanto o gnosticismo e o pelagianismo representam perigos perenes de
equívocos da fé bíblica, é possível encontrar uma certa familiaridade com os
movimentos de hoje apenas referidos acima.
4. Seja
o individualismo neo-pelagiano que o desprezo neo-gnóstico do corpo,
descaracterizam a confissão de fé em Cristo, único Salvador universal. Como
poderia Cristo mediar a Aliança da família humana inteira, se o homem fosse um
indivíduo isolado, que si autorrealiza somente com as suas forças, como propõe
o neo-pelagianismo? E como poderia chegar até nós a salvação mediante a
Encarnação de Jesus, a sua vida, morte e ressurreição no seu verdadeiro corpo,
se aquilo que conta fosse somente libertar a interioridade do homem dos limites
do corpo e da matéria, segundo a visão neo-gnóstica? Diante destas tendências,
esta Carta pretende reafirmar que, a salvação consiste na nossa união com
Cristo, que, com a sua Encarnação, vida, morte e ressurreição, gerou uma nova
ordem de relações com o Pai e entre os homens, e nos introduziu nesta ordem
graças ao dom do seu Espírito, para que possamos unir-nos ao Pai como filhos no
Filho, e formar um só corpo no «primogênito de muitos irmãos» (Rm 8,29).
III.
O desejo humano de salvação
5. O
homem percebe, direta ou indiretamente, de ser um enigma: eu existo, mas quem
sou eu? Tenho em mim o princípio da minha existência? Toda pessoa, a seu modo,
procura a felicidade e tenta alcançá-la recorrendo aos meios disponíveis. No
entanto, esse desejo universal não é necessariamente expresso ou declarado; ao
contrário, esse é mais secreto e oculto do que parece, e está pronto a
revelar-se diante de situações específicas. Com frequência, tal desejo coincide
com a esperança da saúde física, às vezes assume a forma de ansiedade por um
maior bem-estar econômico, mais difusamente expressa-se através da necessidade
de uma paz interior e de uma convivência pacífica com o próximo. Por outro lado,
enquanto o desejo de salvação se apresenta como um compromisso na direção de um
bem maior, esse conserva também uma característica de resistência e de
superação da dor. Ao lado da luta pela conquista do bem se coloca a luta de
defesa do mal: da ignorância e do erro, da fragilidade e da fraqueza, da doença
e da morte.
6. Com
relação a estas aspirações, a fé em Cristo ensina-nos, rejeitando qualquer
pretensão de auto-realização, que as mesmas somente podem realizar-se
plenamente se Deus mesmo as torna possíveis, atraindo-nos a Ele. A salvação
plena da pessoa não consiste nas coisas que o homem poderia obter por si mesmo,
como o ter ou o bem-estar material, a ciência ou a técnica, o poder ou a
influência sobre os outros, a boa fama ou a auto-realização
[10].
Nada da ordem do criado pode satisfazer completamente ao homem, porque Deus nos
destinou à comunhão com Ele, e o nosso coração permanecerá inquieto
até que não repouse Nele [11].
«A vocação última de todos os homens é realmente uma só, a
divina» [12].
A revelação, desta forma, não se limita a anunciar a salvação como resposta à
expectativa contemporânea. «Se a redenção, ao contrário, devesse ser
julgada ou medida pela necessidade existencial dos seres humanos, como
poderíamos evitar a suspeita de termos simplesmente criado um Deus-Redentor à
imagem de nossas próprias necessidades?» [13].
7. Além
disso, é necessário afirmar que, segundo a fé bíblica, a origem do mal não se
encontra no mundo material e corpóreo, experimentado como um limite e como uma
prisão da qual deveríamos ser salvos. Pelo contrário, a fé proclama que o mundo
inteiro é bom, enquanto criado por Deus (cf. Gn 1,31; Sb 1,13-14; 1Tm 4,4), e
que o mal que mais prejudica o homem é aquele que provém do seu coração (cf. Mt
15,18-19; Gn 3,1-19). Pecando, o homem abandonou a fonte do amor, e se perde em
falsas formas de amor, que o fecham cada vez mais em si mesmo. É esta separação
de Deus – isto é, Daquele que é fonte de comunhão e de vida – que leva à perda
de harmonia entre os homens e dos homens com o mundo, introduzindo a
desintegração e a morte (cf. Rm 5,12). Consequentemente, a salvação que a fé
nos anuncia não diz unicamente respeito à nossa interioridade, mas ao nosso ser
integral. De facto, é a pessoa inteira, em corpo e alma, criada pelo amor de
Deus à sua imagem e semelhança, que é chamada a viver em comunhão com Ele.
IV.
Cristo, Salvador e Salvação
8. Em
nenhum momento do caminho do homem, Deus deixou de oferecer a sua salvação aos
filhos de Adão (cf. Gn 3,15), estabelecendo uma Aliança com todos os homens em
Noé (cf. Gn 9,9) e, mais adiante, com Abraão e a sua descendência (cf. Gn
15,18). Assim, a salvação divina assume a ordem da criação compartilhada por
todos os homens e percorre os seus caminhos concretos na história. Escolhendo
para Si um povo, a quem ofereceu os meios para lutar contra o pecado e para se
aproximar Dele, Deus preparou a vinda de «um poderoso Salvador, na casa de
David, seu servidor» (Lc 1,69). Na plenitude dos tempos, o Pai enviou ao mundo
seu Filho, o qual anunciou o reino de Deus, curando todo tipo de doenças (cf.
Mt 4,23). As curas realizadas por Jesus, através das quais se tornava presente
a providência de Deus, eram um sinal que se referia à sua pessoa, Àquele que se
revelou plenamente como Senhor da vida e da morte no acontecimento pascal.
Segundo o Evangelho, a salvação para todos os povos começa com o acolhimento de
Jesus: «Hoje veio a salvação a esta casa» (Lc 19,9). A Boa Nova da salvação tem
um nome e um rosto: Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. «No início do ser
cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» [14].
9. Ao
longo da sua tradição secular, a fé cristã tornou presente, através de muitas
figuras, a obra salvífica do Filho encarnado. Fê-lo sem nunca separar o aspecto
regenerador da salvação, no qual Cristo nos resgata do pecado, do aspecto da
elevação, pelo qual Ele nos faz filhos de Deus, participantes da sua natureza
divina (cf. 2Pd 1,4). Considerando a perspectiva salvífica no seu significado
descendente, isto é, a partir de Deus que vem para resgatar os homens, Jesus é
iluminador e revelador, redentor e libertador; Aquele que diviniza o homem e o
justifica. Assumindo a perspectiva ascendente, isto é, a partir dos homens que
se dirigem a Deus, Ele é Aquele que, como Sumo Sacerdote da Nova Aliança,
oferece ao Pai o culto perfeito em nome dos homens: se sacrifica, repara os
nossos pecados e permanece sempre vivo para interceder a nosso favor. Desta
forma, verifica-se na vida de Jesus uma sinergia maravilhosa do agir divino com
o agir humano, que mostra a falta de fundamento de uma perspectiva
individualista. Assim, por um lado, o sentido descendente testemunha a primazia
absoluta da ação gratuita de Deus; a humildade em receber os dons de Deus,
antes mesmo do nosso agir, é essencial para poder responder ao seu amor
salvífico. Por outro lado, o sentido ascendente recorda-nos que, através do
agir plenamente humano de seu Filho, o Pai quis regenerar o nosso agir, para que,
assemelhados a Cristo, possamos realizar «as boas obras que Deus de antemão
preparou para nelas caminharmos» (Ef 2,10).
10.
Para além disso, é claro que a salvação que Jesus trouxe na sua própria pessoa
não se realiza somente de modo interior. Assim, para poder comunicar a cada
pessoa a comunhão salvífica com Deus, o Filho se fez carne (cf. Jo 1,14). É
exatamente assumindo a carne (cf. Rom 8,3; Hb 2,14; 1Jo 4,2), e nascendo de uma
mulher (cf. Gl 4,4), que «o Filho de Deus se fez filho do homem» [15]
e, também, nosso irmão (cf. Hb 2,14). Assim, entrando a fazer parte da família
humana, «uniu-se de certo modo a cada homem» [16]
e estabeleceu uma nova ordem nas relações com Deus, seu Pai, e com todos os
homens, na qual podemos ser incorporados para participar na sua própria vida.
Consequentemente, assumir a carne humana, longe de limitar a ação salvífica de
Cristo, permite-Lhe mediar de maneira concreta a salvação de Deus com todos os
filhos de Adão.
11.
Concluindo, e para responder, quer seja ao reducionismo individualista da
tendência pelagiana, quer seja ao reducionismo neo-gnóstico que promete uma
libertação interior, é necessário recordar o modo como Jesus é Salvador. Ele
não se limitou a mostrar-nos o caminho para encontrar Deus, isto é, um caminho
que poderemos percorrer por nós mesmos, obedecendo às suas palavras e imitando
o seu exemplo. Cristo, todavia, para abri-nos a porta da libertação, tornou-se
Ele mesmo o caminho: «Eu sou o caminho» (Jo 14,6) [17].
Além disso, esse caminho não é um percurso meramente interior, à margem das
nossas relações com os outros e com o mundo criado. Pelo contrário, Jesus
ofereceu-nos um «caminho novo e vivo que Ele abriu para nós através [...] da
sua carne» (Hb 10,20). Enfim, Cristo é Salvador porque Ele assumiu a nossa
humanidade integral e viveu em plenitude a vida humana, em comunhão com o Pai e
com os irmãos. A salvação consiste em incorporar-se nesta vida de Cristo, recebendo
o seu Espírito (cf. 1Jo 4,13). Assim, Ele tornou-se «em certo modo, o princípio
de toda graça segundo a humanidade» [18].
Ele é, ao mesmo tempo, o Salvador e a Salvação.
V. A
Salvação na Igreja, corpo de Cristo
12. O
lugar onde recebemos a salvação trazida por Jesus é a Igreja, comunidade
daqueles que, tendo sido incorporados à nova ordem de relações inaugurada por
Cristo, podem receber a plenitude do Espírito de Cristo (cf. Rm 8,9).
Compreender esta mediação salvífica da Igreja é uma ajuda essencial para
superar qualquer tendência reducionista. De fato, a salvação que Deus nos
oferece não é alcançada apenas pelas forças individuais, como gostaria o
neo-pelagianismo, mas através das relações nascidas do Filho de Deus encarnado
e que formam a comunhão da Igreja. Além disso, uma vez que a graça que Cristo
nos oferece não é, como afirma a visão neo-gnóstica, uma salvação meramente
interior, mas que nos introduz nas relações concretas que Ele mesmo viveu, a
Igreja é uma comunidade visível: nela tocamos a carne de Jesus, de maneira singular
nos irmãos mais pobres e sofredores. Enfim, a mediação salvífica da Igreja, «sacramento universal de salvação» [19],
assegura-nos que a salvação não consiste na auto-realização do indivíduo
isolado, e, muito menos, na sua fusão interior com o divino, mas na
incorporação em uma comunhão de pessoas, que participa na comunhão da Trindade.
13.
Tanto a visão individualista como a visão meramente interior da salvação
contradizem a economia sacramental, através da qual Deus quis salvar a pessoa
humana. A participação, na Igreja, à nova ordem de relações inauguradas por
Jesus realiza-se por meio dos sacramentos, entre eles, o
Batismo que é a porta [20],
e a Eucaristia que é fonte e cume [21].
Assim, se vê, a inconsistência das pretensões de auto-salvação, que contam
apenas com as forças humanas. Pelo contrário, a fé confessa que somos salvos
por meio do Batismo, que imprime o caráter indelével de pertencer a Cristo e à
Igreja, do qual deriva a transformação do nosso modo concreto de viver as
relações com Deus, com os homens e com a criação (cf. Mt 28,19). Assim,
purificados do pecado original e de todo pecado, somos chamados a uma nova vida
em conformidade com Cristo (cf. Rm 6,4). Com a graça dos sete sacramentos, os
crentes continuamente crescem e se regeneram, sobretudo, quando o caminho se
torna mais difícil e as quedas não faltam. Quando eles pecam, abandonam o amor
por Cristo, podendo ser reintroduzidos, por meio do sacramento da Penitência, à
ordem das relações inaugurada por Jesus, para caminhar como Ele caminhou (cf. 1Jo
2,6). Desta forma, olhamos com esperança para o juízo final, no qual cada
pessoa será julgada pelo amor (cf. Rm 13,8-10), especialmente pelos mais fracos
(cf. Mt 25,31-46).
14. A
economia salvífica sacramental opõe-se ainda às tendências que propõem uma
salvação meramente interior. De fato, o gnosticismo está associado a um olhar
negativo sobre a ordem da criação, inclusive, como uma limitação da liberdade
absoluta do espírito humano. Consequentemente, a salvação é vista como
libertação do corpo e das relações concretas que a pessoa vive. Pelo contrário,
como somos salvos «por meio da oferta do corpo de Jesus Cristo» (Hb 10,10; cf.
Cl 1,22), a verdadeira salvação, longe de ser libertação do corpo, compreende também
a sua santificação (cf. Rm 12,1). O corpo humano foi modelado por Deus, que
nele inscreveu uma linguagem que convida a pessoa humana a reconhecer os dons
do Criador e a viver em comunhão com os irmãos [22].
O Salvador restabeleceu e renovou, com a sua Encarnação e o seu mistério
pascal, esta linguagem originária, e comunicou-a na economia corporal dos
sacramentos. Graças aos sacramentos, os cristãos podem viver fielmente à carne
de Cristo e, consequentemente, em fidelidade à ordem concreta das relações que
Ele nos deu. Esta ordem de relações requer, de maneira especial, o cuidado pela
humanidade sofredora de todos os homens, através das obras de misericórdia corporais e espirituais [23].
VI.
Conclusão: comunicar a fé, esperando o Salvador
15. A
consciência da vida plena, na qual Jesus Salvador nos introduz, impulsiona os
cristãos à missão de proclamar a todos os homens a alegria
e a luz do Evangelho [24]. Neste
esforço, eles estarão também prontos para estabelecer um diálogo sincero e
construtivo com os crentes de outras religiões, na confiança que Deus pode
conduzir à salvação em Cristo «todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente» [25].
Ao dedicar-se com todas as suas forças à evangelização, a Igreja continua a
invocar a vinda definitiva do Salvador, porque «na esperança fomos salvos» (Rm
8,24). A salvação do homem será plena somente quando, depois de ter vencido o
último inimigo, a morte (cf. 1Cor 15,26), participaremos plenamente da glória
de Cristo ressuscitado, que leva à plenitude a nossa relação com Deus, com os
irmãos e com toda a criação. A salvação integral, da alma e do corpo, é o
destino final ao qual Deus chama todos os homens. Fundamentados na fé,
sustentados pela esperança, operantes na caridade, seguindo o exemplo de Maria,
a Mãe do Salvador e a primeira dos que foram salvos, estamos certos de que
nossa cidadania "está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo. Ele transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao
seu corpo glorioso, com aquela energia que o torna capaz de a si mesmo sujeitar
todas as coisas"(Fl 3,20-21).
O
Sumo Pontífice Francisco, no dia 16 de fevereiro de 2018, aprovou esta Carta,
decidida na Sessão Plenária desta Congregação no dia 24 de janeiro de 2018, e
ordenou a publicação.
Dado
em Roma, na Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, no dia 22 de fevereiro
de 2018, Festa da Cátedra de São Pedro.
+ Luis F. Ladaria, S.I., Arcebispo titular de Thibica, Prefeito
+ Giacomo Morandi, Arcebispo titular de Cerveteri, Secretário
[2] Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus (6 de agosto de
2000), nn. 5-8: AAS 92 (2000), 745-749.
[3] Cf. Francisco, Exort. Apost. Evangelii gaudium(24 de novembro de
2013), n. 67: AAS105 (2013), 1048.
[4] Cf. Id., Carta Enc. Lumen fidei (29 de junho de 2013),
n. 47: AAS 105 (2013), 586-587; Exort. apost. Evangelii gaudium,
nn. 93-94: AAS (2013), 1059; Discurso aos representantes do V Congresso nacional da
Igreja italiana, Florença (10 de
novembro de 2015): AAS 107 (2015), 1287.
[5] Cf. Id., Discurso aos representantes do V Congresso nacional da
Igreja italiana, Florença (10 de
novembro de 2015): AAS 107 (2015), 1288.
[6] Cf. Id., Exort. Apost. Evangelii gaudium,
n. 94: AAS105 (2013), 1059: «o fascínio do gnosticismo,
uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada
experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente
confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na
imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos»; Pontifício Conselho
para a Cultura - Pontifício Conselho para o diálogo Inter-religioso, Jesus
Cristo, portador da água viva. Uma reflexão cristã sobre a “New
Age” (janeiro de 2003), Cidade do Vaticano 2003.
[8] Cf. Id., Discurso aos participantes da peregrinação da diocese
de Brescia (22 de junho de 2013): AAS 95
(2013), 627: «neste mundo onde nega-se o homem, onde se prefere andar na
estrada do gnosticismo, [...] do “sem carne” – um Deus que não se fez carne
[...]».
[9] De acordo com a heresia Pelagiana, desenvolvida durante o século V
ao redor de Pelágio, o homem, para cumprir os mandamentos de Deus e ser salvo,
precisa da graça apenas como um auxílio externo à sua liberdade (como luz,
exemplo, força), mas não como uma sanação e regeneração radical da liberdade,
sem mérito prévio, para que ele possa realizar o bem e alcançar a vida eterna.
Mais
complexo é o movimento gnóstico, surgido nos séculos I e II, que manifestou-se
de formas muito diferentes. Em geral, os gnósticos acreditavam que a salvação é
obtida através de um conhecimento esotérico ou "gnose". Esta gnose
revela ao gnóstico sua essência verdadeira, isto é, uma centelha do Espírito
divino que habita em sua interioridade, que deve ser libertada do corpo,
estranho à sua verdadeira humanidade. Somente assim o gnóstico retorna ao seu
ser originário em Deus, de quem ele afastou-se pela queda original.
[14] Bento XVI, Carta Enc. Deus caritas est (25 de dezembro
de 2005), n. 1: AAS 98 (2006), 217; cf. Francisco, Exort.
apost. Evangelii gaudium,
n. 3: AAS 105 (2013), 1020.
[17] Cf. Agostinho, Tractatus in Ioannem, 13, 4: Corpus
Christianorum, 36, 132: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,
6). Se você busca a verdade, siga o caminho; porque o caminho é o mesmo que a
verdade. A meta que se busca e o caminho que se deve percorrer, são a mesma
coisa. Não se pode alcançar a meta seguindo um outro caminho; por outro caminho
não se pode alcançar a Cristo: a Cristo se pode alcançar somente através de
Cristo. Em que sentido se chega a Cristo através de Cristo? Se chega a Cristo
Deus através de Cristo homem; por meio do Verbo feito carne se chega ao Verbo
que era no princípio Deus junto a Deus.
[21] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 11; Const. Sacrosanctum Concilium, n. 10.
[23] Cf. Id., Carta Apost. Misericordia et misera (20 de
novembro de 2016), n. 20: AAS 108 (2016), 1325-1326.
[24] Cf. João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio (7 de dezembro
de 1990), n.40: AAS 83 (1991), 287-288; Francisco, Exort.
apost. Evangelii gaudium,
nn. 9-13: AAS105 (2013), 1022-1025.
Fonte: Santa Sé
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