São Leão Magno
Sermão II no Natal
“Foi
gerado com novidade no nascimento”
Diletíssimos, exultemos
no Senhor e com alegria espiritual regozijemo-nos, porque despontou para nós o
dia que significa a nova redenção, a antiga reparação, a felicidade eterna. O
mistério da nossa salvação prometido desde o início do mundo, realizado no
tempo previsto para durar eternamente, renova-se para nós no cíclico período
anual. Neste dia é justo que nós, elevando ao alto o coração, adoremos o divino
mistério, de maneira que seja celebrado pela Igreja com grande júbilo o que se
realiza pela grande generosidade de Deus.
Deus onipotente
e clementíssimo, sua natureza é pura bondade, sua vontade é puro poder, e sua
obra é pura misericórdia. Quando a malícia do diabo com o veneno de seu ódio
nos sujeitou à morte, logo nos indicou no início do mundo o remédio que a sua
misericórdia colocaria a nossa disposição para erguer o gênero humano. Ele
preanunciou à serpente a futura descendência da mulher, que através de sua
própria virtude esmagaria a sua cabeça, sempre orgulhosa e pronta para ferir. E
de tal forma preanunciou Cristo, Deus e homem verdadeiro, que iria vir na carne
e que, nascendo da Virgem com um nascimento virginal, iria condenar aquele que
violou a integridade do gênero humano...
Foi gerado com
novidade no nascimento, porque nasce da Virgem sem intervenção de varão, e sem
violar a integridade da mãe. A quem deve ser o salvador do homem, era
conveniente tal nascimento, porque tendo em si a natureza humana, convinha não
conhecer a contaminação da carne humana. O próprio Deus, de fato, é autor do
nascimento corpóreo de Deus, e o arcanjo assegurou à Santa Virgem Maria: O Espírito Santo virá sobre ti, e a potência
do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso o santo menino que nascer será
chamado Filho de Deus. Disto concluímos que sua origem é diversa da nossa,
mas a sua natureza é igual à nossa.
O fato de que a
Virgem tinha concebido, que a Virgem havia dado à luz e depois ainda permaneceu
Virgem, certamente é estranho à comum experiência humana, pois que é baseado no
poder divino. Neste caso, de fato, não é necessário considerar a condição da
mulher que dá à luz, mas a vontade daquele que nasce, o qual nasceu do homem da
maneira que podia e queria. Se observares a realidade da natureza, constata-se
a substância humana; mas se examinar a causa da origem, vai reconhecer a
potência divina. Na verdade, Jesus Cristo, nosso Senhor, veio para abolir o
contágio do pecado, não para tolerá-lo; e veio para curar todas as doenças de
corrupção, e todas as feridas da alma imaculada. Portanto, era oportuno que
nascesse de maneira nova aquele que trouxe ao homem uma nova graça de imaculada
integridade. Era necessário que a integridade da qual nascera conservasse a
originária virgindade da mãe, e que a sombra do poder do Espírito Santo
mantivesse o pudor e a santidade no sagrado recinto.
Jesus, de fato,
tinha estabelecido de elevar a criatura que tinha caído, de fortalecer a
criatura pisoteada, e doar e aprimorar a virtude da castidade para que pudesse
vencer a concupiscência da carne. Deus quis de tal maneira que a virgindade,
necessariamente violada na geração de outro homem, fosse imitada no outro com o
renascimento espiritual.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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