VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)
SANTA
MISSA PELOS MÁRTIRES UGANDESES
HOMILIA
DO SANTO PADRE
Santuário
Católico dos Mártires de Namugongo (Uganda)
Sábado, 28 de Novembro de 2015
Sábado, 28 de Novembro de 2015
«Ides
receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas
testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do
mundo» (Act 1, 8).
Desde
a Idade Apostólica até aos nossos dias, surgiu um grande número de testemunhas
que proclamam Jesus e manifestam a força do Espírito Santo. Hoje lembramos, com
gratidão, o sacrifício dos mártires ugandeses, cujo testemunho de amor a Cristo
e à sua Igreja chegou, justamente, até «aos confins do mundo». Recordamos
também os mártires anglicanos, cuja morte por Cristo dá testemunho do
ecumenismo do sangue. Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito
Santo na sua vida e, livremente, deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo,
mesmo a preço da vida, e vários deles numa idade muito jovem.
Também
nós recebemos o dom do Espírito para nos fazer filhos e filhas de Deus, mas
também para dar testemunho de Jesus e torná-Lo conhecido e amado em todos os
lugares. Recebemos o Espírito, quando renascemos no Baptismo e quando fomos reforçados
com os seus dons na Confirmação. Cada dia somos chamados a aprofundar a
presença do Espírito Santo na nossa vida, a «reavivar» o dom do seu amor divino
para sermos, por nossa vez, fonte de sabedoria e de força para os outros.
O
dom do Espírito Santo é-nos concedido para ser partilhado. Une-nos uns aos
outros como fiéis e membros vivos do Corpo místico de Cristo. Não recebemos o
dom do Espírito só para nós mesmos, mas para nos edificarmos uns aos outros na
fé, na esperança e no amor. Penso nos Santos José Mkasa e Carlos Lwanga que,
depois de ter sido instruídos na fé pelos outros, quiseram transmitir o dom que
receberam. Fizeram-no em tempos perigosos: não só a vida deles estava ameaçada,
mas também a vida dos mais novos, confiados aos seus cuidados. Dado que tinham
cultivado a fé e crescido no amor a Deus, não tiveram medo de levar Cristo aos
outros, inclusive a preço da vida. A fé deles tornou-se testemunho; venerados
hoje como mártires, o seu exemplo continua a inspirar muitas pessoas no mundo.
Continuam a proclamar Jesus Cristo e a força da Cruz.
Se
nós, como os mártires, reavivarmos diariamente o dom do Espírito que habita nos
nossos corações, tornar-nos-emos certamente naqueles discípulos-missionários
que Cristo nos chama a ser. Sê-lo-emos sem dúvida para as nossas famílias e os
nossos amigos, mas também para aqueles que não conhecemos, especialmente para
quantos poderiam ser pouco benévolos e até mesmo hostis para connosco. Esta
abertura aos outros começa na família, nos nossos lares, onde se aprende a
caridade e o perdão, e onde, no amor dos nossos pais, se aprende a conhecer a
misericórdia e o amor de Deus. A referida abertura exprime-se também no cuidado
pelos idosos e os pobres, as viúvas e os órfãos.
O
testemunho dos mártires mostra a quantos, ontem e hoje, ouviram a sua história
que os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria e paz duradouras.
Mas são a fidelidade a Deus, a honestidade e integridade da vida e uma
autêntica preocupação pelo bem dos outros que nos trazem aquela paz que o mundo
não pode oferecer. Isto não diminui a nossa solicitude por este mundo, como se
nos limitássemos a olhar para a vida futura; pelo contrário, dá uma finalidade
à vida neste mundo e ajuda-nos a ir ter com os necessitados, a cooperar com os
outros em prol do bem comum e a construir uma sociedade mais justa, que promova
a dignidade humana, sem excluir ninguém, que defenda a vida, dom de Deus, e
proteja as maravilhas da natureza, a criação, a nossa casa comum.
Queridos
irmãos e irmãs, esta é a herança que recebestes dos mártires ugandeses: vidas
marcadas pela força do Espírito Santo, vidas que ainda hoje testemunham o poder
transformador do Evangelho de Jesus Cristo. Não tomamos posse desta herança com
uma comemoração passageira ou conservando-a num museu como se fosse uma jóia
preciosa. Mas honramo-la verdadeiramente, como honramos todos os Santos, quando
levamos o seu testemunho de Cristo para os nossos lares e a nossa vizinhança,
para os locais de trabalho e a sociedade civil, quer permaneçamos em nossas
casas, quer tenhamos de ir até ao canto mais remoto do mundo.
Que
os mártires ugandeses juntamente com Maria, Mãe da Igreja, intercedam por nós,
e o Espírito Santo acenda em nós o fogo do amor divino.
Omukama
Abawe Omukisa! [Deus vos abençoe!]
Fonte: Santa Sé
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