São Gregório Magno
Sermão no Advento, 20
“O profeta lhe chamou voz, porque ia à
frente do Verbo”
Assim como está
escrito no livro do Profeta Isaías: Esta
é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai
suas veredas. Sendo perguntado ao glorioso Batista quem ele era, respondeu:
Eu sou a voz que grita no deserto.
Por isso o profeta lhe chamou voz, porque ia à frente do Verbo. Todo aquele que
anuncia a verdadeira fé e as boas obras, que outra coisa faz senão preparar o
caminho do Senhor que vem aos corações dos ouvintes? Porque formando com a
palavra da santa pregação pensamentos limpos nas almas dos que o ouvem, faz com
que a força da graça penetre, e a luz da verdade os ilumine, para que façam
direitas as sendas por onde o Senhor há de vir, e em conformidade a isso disse:
todo vale será aterrado, todo
desfiladeiro será humilhado.
Está muito claro
nesta passagem do Evangelho que por vales não se identificam senão os humildes,
e por montanhas e colinas quer que entendamos os soberbos. Vindo, pois, o
Senhor nosso a nós, os vales muito baixos foram cheios, e os montes e colinas
soberbos foram humilhados; porque a voz de sua majestade assim o significou
quando disse: quem se exaltar será
humilhado, e quem se humilhar será exaltado...
E todo o povo
observando que a vida do santo Batista era tão áspera, com tanta solidão e
perfeição de penitência, acabaram por crer que ele fosse o Cristo. E vendo a
nosso Senhor, que comia com os publicanos e conversava com os pecadores, não
creram que ele fosse o Cristo, mas um profeta. Porém, passando o tempo, Cristo
que era tido por profeta foi reconhecido como o Cristo verdadeiro, e o glorioso
João, que era tido por Cristo, foi reconhecido como o verdadeiro profeta, e
assim se cumpriu o que o bem-aventurado Batista havia dito ao falar de Cristo: Convém que ele cresça e eu diminua.
Porque Cristo nosso Redentor cresceu na reputação do povo, e foi conhecido pelo
que era; e o santo precursor diminuiu, porque cessou de ser tido pelo que não
era.
Vendo, pois,
como o glorioso João perseverou na santidade, porque teve constância verdadeira
na humildade de seu coração; e como muitos outros caíram, porque estavam cegos
pelas vaidades e se ensoberbeceram dentro de si mesmos, digamos com razão que
todos os vales serão cheios e todos os montes e colinas serão rebaixados,
porque desce às mãos dos humildes as graças que os corações dos soberbos lançam
para longe de si.
As passagens tortuosas serão endireitadas e
os caminhos acidentados serão aplainados. Endireitam-se as coisas tortuosas
quando os corações dos maus, torcidos pelos pecados, endireitam-se por meio da
penitência; e os lugares acidentados se tornam planos quando as almas cheias de
soberba e de ira, recebendo a graça do Espírito Santo, tornam-se humildes e
mansas; porque não é outra coisa alma soberba não querer receber a palavra da
verdade, senão um caminho áspero e pedregoso, que contradiz a que quer
caminhar. E quando a alma do soberbo, aplainada pela virtude da mansidão,
recebe com amor as palavras de repreensão e exortação, então dizemos que o
pregador encontra o caminho plano, por onde primeiramente nem conseguida
caminhar, impedido com a sua aspereza.
E toda a carne verá a salvação de Deus.
Dizer toda a carne é o mesmo que se dissesse todos os homens. É fato que nem
todos os homens puderam ver a Cristo na vida presente; diremos, pois, que a
intenção do profeta nestas palavras é assinalar o dia do juízo, quando se verão
os céus abertos, e virão os anjos por ministros, estarão os apóstolos sentados
juntos, e aparecerá Cristo nosso Redentor, Juiz Soberano, sentado na sede de
sua majestade, e todos os bons e maus o verão. E desta visão resultará que os
bons gozem sem fim, recebendo o galardão de seus trabalhos; e os maus,
castigados por suas próprias culpas, chorem para sempre os tormentos do
inferno.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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