sábado, 12 de dezembro de 2015

Homilia: III Domingo do Advento - Ano C

 Santo Agostinho
Sermão sobre os Mártires 293
“Vede quanto se fez pequeno”

Vede quanto se humilha o precursor de seu Senhor, Deus e homem. A ele - que maior não surgiu entre os nascidos de mulher - perguntam-lhe se é o Cristo. Ele era tão grande que os homens podiam enganar-se. Suspeitava-se que ele era o Cristo, e a tal ponto chegou a dúvida, que lhe perguntaram diretamente. Se tivesse sido filho da soberba em vez de mestre da humildade, se houvesse tomado partido pelos homens equivocados, sem fazer nada para que continuassem pensando assim, limitando-se a confirma-los no que eles pensavam. Por acaso era demais para ele pretender convencer os homens de que era o Cristo? Se tivesse tentado persuadir-lhes disso, e não o conseguisse, terminaria envergonhado e abatido, desprestigiado entre os homens, e condenado diante de Deus.
Porém, ele não tinha necessidade de convencer aos homens, pois já sabia que eles pensavam assim; bastava-lhe apenas assumir seu erro e aumentar assim a sua honra. Contudo, longe de nós pensar do fiel amigo do esposo que almejara fazer-se amar pela esposa no lugar dele.
Confessou que não era o que na verdade não era para não perder o que era. João não era o esposo; pois, ao ser perguntado, disse: Quem tem a esposa é o esposo; o amigo do esposo, porém, está em pé e escuta e exulta de alegria diante da voz do esposo. Eu certamente vos batizo em água para a penitência, mas quem vem depois de mim é maior do que eu.  Maior, mas quanto? A quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Vede quanto se fez pequeno, mesmo sendo digno disso. Quanto já teria se humilhado apenas ao dizer: É maior do que eu aquele a quem não sou digno de desatar-lhe a correia de suas sandálias! Certamente, se tivesse se reconhecido digno de prostrar-se diante dos pés de Cristo. Entretanto, que sublime: reconheceu que era Cristo quando se declarou indigno não já de prostrar-se diante de seus pés, mas diante de seu calçado! Veio, pois, para ensinar aos soberbos a humildade, para anunciar o caminho da penitência.
Veio a voz diante da Palavra. Como assim? O que se afirma de Cristo? No princípio existia a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela estava ao princípio junto a Deus. Mas para vir a nós a Palavra se fez carne, com a finalidade de habitar entre nós. Ouvimos, pois, que Cristo é a Palavra; ouçamos que João é a voz. Quando lhe perguntaram: E tu, quem és? Respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto. Se, pois, Cristo é a Palavra e João a voz, para comunicar-se conosco a Palavra tomou a João como sua voz, e para chegar até nós como Palavra, precedeu-lhe a voz. Assim, pois, Cristo existia antes que João desde a eternidade, e, contudo, não nasceu antes, pois João e a voz deviam preceder a Palavra diante de nós. Chegará o momento em que veremos a Palavra tal como os anjos a veem; agora, porém, façamos progressos nela para permanecer com ela para sempre.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 535-536. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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