sábado, 23 de julho de 2022

Carta Apostólica Desiderio desideravi - Segunda parte (nn. 27-47)

Na postagem anterior aqui em nosso blog começamos a publicar a Carta Apostólica Desiderio desideravi (Desejei ardentemente) sobre a formação litúrgica do povo de Deus, promulgada pelo Papa Francisco no dia 29 de junho de 2022.

Nossa tradução da Carta na íntegra está dividida em três partes. Assim, após os parágrafos nn. 01-26, confira a seguir os nn. 27-47:

Papa Francisco
Carta Apostólica Desiderio desideravi
Aos Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos
Sobre a formação litúrgica do povo de Deus

A necessidade de uma séria e vital formação litúrgica

27. A questão fundamental é, portanto, esta: como recuperar a capacidade de viver em plenitude a ação litúrgica? Esse foi o objetivo da reforma do Concílio. O desafio é muito exigente porque o homem moderno - não do mesmo modo em todas as culturas - perdeu a capacidade de confrontar-se com a ação simbólica, que é uma característica essencial do ato litúrgico.

"A única grande reflexão do Concílio começou pela Liturgia"

28. A pós-modernidade - na qual o homem se sente ainda mais perdido, sem referências de qualquer tipo, desprovido de valores, porque se tornou indiferente, órfão de tudo, em uma fragmentação na qual parece impossível um horizonte de sentido - continua sobrecarregada pela pesada herança que a época precedente nos deixou, feita de individualismo e subjetivismo (que mais uma vez recordam o pelagianismo e o gnosticismo), bem como de um espiritualismo abstrato que contradiz a própria natureza do homem, espírito encarnado e, portanto, em si mesmo capaz de ação e de compreensão simbólicas.

29. É com a realidade da modernidade que a Igreja reunida no Concílio quis confrontar-se, reafirmando a consciência de ser sacramento de Cristo, luz dos povos (Lumen gentium), colocando-se em religiosa escuta da Palavra de Deus (Dei Verbum) e reconhecendo como próprias as alegrias e as esperanças (Gaudium et spes) dos homens de hoje. As grandes Constituições conciliares não são separáveis ​​e não é por acaso que esta única grande reflexão do Concílio Ecumênico - máxima expressão da sinodalidade da Igreja, de cuja riqueza sou chamado a ser, com todos vós, o guardião - começou pela Liturgia (Sacrosanctum Concilium).

30. Encerrando a segunda sessão do Concílio (04 de dezembro de 1963), São Paulo VI assim se expressava:
“Esta discussão apaixonada e complexa não ficou de modo algum sem frutos abundantes: de fato, aquele tema que foi abordado em primeiro lugar e que, em certo sentido, é preeminente na Igreja, tanto por sua natureza quanto por sua dignidade - queremos dizer, a sagrada Liturgia - chegou a uma feliz conclusão, promulgada hoje por nós com um rito solene. Por isso nossa alma exulta com alegria sincera. Neste fato reconhecemos, com efeito, ter sido respeitada a justa ordem dos valores e dos deveres: deste modo reconhecemos que o lugar de honra deve ser reservado a Deus; que nós, como primeiro dever, devemos elevar orações a Deus; que a sagrada Liturgia é a fonte primária daquele intercâmbio divino através do qual nos é comunicada a vida de Deus, é a primeira escola da nossa alma, é o primeiro dom que deve ser dado por nós ao povo cristão, unido a nós na fé e na assiduidade à oração; enfim, o primeiro convite à humanidade para soltar a sua língua muda em orações santas e sinceras e sentir aquela inefável força regeneradora da alma que é inerente ao cantar conosco os louvores de Deus e na esperança dos homens, por Jesus Cristo e no espírito Santo” [7].

31. Nesta Carta não posso deter-me sobre a riqueza das expressões individuais, que deixo para vossa meditação. Se a Liturgia é “o ápice para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium, n.10), compreendemos bem o que está em jogo na questão litúrgica. Seria banal ler as tensões, infelizmente presentes em torno da celebração, como uma simples divergência entre diferentes sensibilidades em relação a uma forma ritual. O problema é antes de tudo eclesiológico. Não vejo como podemos dizer que reconhecemos a validade do Concílio - ainda que me surpreenda um pouco que um católico possa presumir não fazê-lo - e não acolher a reforma litúrgica nascida da Sacrosanctum Concilium, que exprime a realidade da Liturgia em íntima conexão com a visão da Igreja admiravelmente descrita pela Lumen gentium. Por isso - como expliquei na Carta enviada a todos os Bispos - senti o dever de afirmar que “os livros litúrgicos promulgados pelos Santos Pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano” (Motu Proprio Traditionis custodes, art. 1).
A não aceitação da reforma, assim como uma compreensão superficial dela, nos desvia do compromisso de encontrar as respostas à pergunta que volto a repetir: como crescer na capacidade de viver em plenitude a ação litúrgica? Como continuar a nos maravilhar com o que acontece diante de nossos olhos na celebração? Precisamos de uma séria e vital formação litúrgica.

"A Liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja e a fonte de onde emana toda a sua força"

32. Voltemos ainda uma vez ao Cenáculo em Jerusalém: na manhã de Pentecostes, nasce a Igreja, célula inicial da nova humanidade. Só a comunidade de homens e mulheres reconciliados porque perdoados, vivos porque Ele está vivo, verdadeiros porque habitados pelo Espírito da verdade, pode abrir o estreito espaço do individualismo espiritual.

33. É a comunidade de Pentecostes que pode partir o Pão na certeza de que o Senhor está vivo, ressuscitado dos mortos, presente com a sua palavra, com os seus gestos, com a oferta do seu Corpo e do seu Sangue. A partir desse momento a celebração torna-se o lugar privilegiado, não o único, do encontro com Ele. Sabemos que só graças a este encontro o homem se torna plenamente homem. Só a Igreja de Pentecostes pode conceber o homem como pessoa, aberto a uma relação plena com Deus, com a criação e com os irmãos.

34. Aqui surge a questão decisiva da formação litúrgica. Diz Romano Guardini: “Assim se delineia também a primeira tarefa prática: sustentados por essa transformação interior do nosso tempo, devemos novamente aprender a ‘encarar’ a relação religiosa como homens em sentido pleno” [8]. É isso que a Liturgia torna possível, para isso devemos ser formados. O mesmo Guardini não hesita em afirmar que, sem formação litúrgica, “as reformas no rito e no texto não ajudam muito” [9]. Não pretendo tratar aqui de modo exaustivo o riquíssimo tema da formação litúrgica: gostaria apenas de oferecer alguns pontos para reflexão. Penso que podemos distinguir dois aspectos: a formação para a Liturgia e a formação pela Liturgia. O primeiro está em função do segundo, que é essencial.

35. É necessário encontrar os meios para uma formação como estudo da Liturgia: a partir do Movimento Litúrgico muito tem sido feito nesse sentido, com valiosas contribuições de muitos estudiosos e instituições acadêmicas. É necessário, no entanto, difundir este conhecimento fora do âmbito acadêmico, de modo acessível, para que cada fiel cresça no conhecimento do significado teológico da Liturgia - esta é a questão decisiva e fundamental de todo conhecimento e toda prática litúrgica - bem como do desenvolvimento da celebração cristã, adquirindo a capacidade de compreender os textos eucológicos, os dinamismos rituais e o seu valor antropológico.

36. Penso na normalidade das nossas assembleias que se reúnem para celebrar a Eucaristia no dia do Senhor, domingo após domingo, Páscoa após Páscoa, em momentos particulares da vida das pessoas e das comunidades, nas várias idades da vida: os ministros ordenados realizam uma ação pastoral de primeira importância quando tomam pela mão os fiéis batizados para conduzi-los à repetida experiência da Páscoa. Recordemos sempre que é a Igreja, Corpo de Cristo, o sujeito celebrante, não apenas o sacerdote. O conhecimento que vem do estudo é apenas o primeiro passo para poder entrar no mistério celebrado. É evidente que para poder conduzir os irmãos e irmãs, os ministros que presidem a assembleia devem conhecer o caminho, seja por tê-lo estudado no mapa da ciência teológica, seja por tê-lo percorrido na prática de uma experiência de fé viva, nutrida pela oração, certamente não apenas como um compromisso a ser cumprido. No dia da ordenação todo presbítero ouve o Bispo dizer: “Toma consciência do que vais fazer e põe em prática o que vais celebrar, conformando tua vida ao mistério da cruz do Senhor” [10].

37. Mesmo a abordagem do estudo da Liturgia nos seminários deve levar em conta a extraordinária capacidade que a celebração tem em si mesma de oferecer uma visão orgânica do saber teológico. Toda disciplina da teologia, cada uma segundo a sua perspectiva, deve mostrar a sua íntima conexão com a Liturgia, em virtude da qual se revela e se realiza a unidade da formação sacerdotal (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 16). Uma abordagem litúrgico-sapiencial da formação teológica nos seminários teria certamente efeitos positivos também na ação pastoral. Não há aspecto da vida eclesial que não encontre nela o seu ápice e a sua fonte. A pastoral de conjunto, orgânica, integrada, mais que ser o resultado de elaborados programas, é a consequência de colocar no centro da vida da comunidade a Celebração Eucarística dominical, fundamento da comunhão. A compreensão teológica da Liturgia não nos permite de nenhum modo, porém, compreender estas palavras como se tudo se reduzisse ao aspecto cultual. Uma celebração que não evangeliza não é autêntica, como não é autêntico um anúncio que não leva ao encontro com o Ressuscitado na celebração: ambos, sem o testemunho da caridade, são como bronze que soa ou como címbalo que retine (cf. 1Cor 13,1).

"Uma celebração que não evangeliza não é autêntica"

38. Para os ministros e para todos os batizados, a formação litúrgica, nesse seu primeiro sentido, não é algo que possamos pensar em conquistar de uma vez para sempre: visto que o dom do mistério celebrado supera a nossa capacidade de conhecimento, este empenho deverá certamente acompanhar a formação permanente de cada um, com a humildade dos pequenos, atitude que se abre ao assombro.

39. Uma última observação sobre os seminários: além do estudo, devem oferecer também a possibilidade de vivenciar uma celebração não apenas exemplar do ponto de vista ritual, mas autêntica, vital, que permita viver aquela verdadeira comunhão com Deus à qual também o saber teológico deve tender. Somente a ação do Espírito pode aperfeiçoar o nosso conhecimento do mistério de Deus, que não é uma questão de compreensão mental, mas de relação que toca a vida. Tal experiência é fundamental para que, uma vez que se tornem ministros ordenados, possam acompanhar as comunidades no mesmo percurso de conhecimento do mistério de Deus, que é mistério de amor.

40. Esta última consideração leva-nos a refletir sobre o segundo sentido com o qual podemos entender a expressão “formação litúrgica”. Refiro-me a ser formados, cada um segundo a sua vocação, pela participação na celebração litúrgica. Mesmo o conhecimento de estudo que acabo de mencionar, para que não se torne racionalismo, deve estar em função do cumprimento da ação formativa da Liturgia em cada fiel em Cristo.

41. De tudo o que dissemos sobre a natureza da Liturgia fica evidente que o conhecimento do mistério de Cristo, questão decisiva para a nossa vida, não consiste na assimilação mental de uma ideia, mas um real envolvimento existencial com a sua pessoa. Nesse sentido, a Liturgia não diz respeito tanto ao “conhecimento” e sua finalidade não é primordialmente pedagógica (embora possua um grande valor pedagógico: cf. Sacrosanctum Concilium, n. 33), mas é o louvor, a ação de graças pela Páscoa do Filho, cuja força de salvação atinge à nossa vida.  A celebração diz respeito à realidade do nosso ser dóceis à ação do Espírito que nela opera, até que Cristo seja formado em nós (cf. Gl 4,19). A plenitude da nossa formação é a conformação a Cristo. Repito: não se trata de um processo mental, abstrato, mas de tornar-se Ele. Esta é a finalidade para a qual nos foi dado o Espírito, cuja ação é sempre e somente fazer o Corpo de Cristo. É assim com o pão eucarístico, é assim para cada batizado chamado a tornar-se cada vez mais aquilo que recebeu de dom no Batismo, ou seja, ser membro do Corpo de Cristo. Escreve Leão Magno: “A nossa participação no Corpo e no Sangue de Cristo não tem outro fim senão o de nos transformar naquilo que comemos” [11].

42. Esse envolvimento existencial ocorre - em continuidade e coerência com o método da Encarnação - pela via sacramental. A Liturgia é feita de coisas que são exatamente o oposto das abstrações espirituais: pão, vinho, óleo, água, perfume, fogo, cinza, pedra, tecido, cores, corpo, palavras, sons, silêncios, gestos, espaço, movimento, ação, ordem, tempo, luz. Toda a criação é manifestação do amor de Deus: desde que o próprio amor se manifestou em plenitude na cruz de Jesus, toda a criação foi atraída para ele.  Toda a criação é assumida para ser colocada a serviço do encontro com o Verbo encarnado, crucificado, morto, ressuscitado, ascendido ao Pai. Assim como canta a oração sobre a água para a fonte batismal, mas também aquela sobre o óleo para o sagrado crisma e as palavras da apresentação do pão e do vinho, frutos da terra e do trabalho do homem.

43. A Liturgia dá glória a Deus não porque possamos acrescentar algo à beleza da luz inacessível na qual Ele habita (cf. 1Tm 6,16) ou à perfeição do canto angélico que ressoa eternamente nas moradas celestes. A Liturgia dá glória a Deus porque nos permite, aqui na terra, ver Deus na celebração dos mistérios e, ao vê-lo, receber vida da sua Páscoa: nós, que de mortos que éramos pelo pecado, pela graça foram revividos com Cristo (cf. Ef 2,5). Nós somos a glória de Deus. Irineu, Doctor unitatis, o recorda: “A glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem consiste na visão de Deus. Se já a revelação de Deus através da criação dá vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai através do Verbo é causa de vida para aquele que veem a Deus!” [12].

O teólogo Romano Guardini (†1968):
Citado quatro vezes ao longo da Carta

44. Escreve Romano Guardini: “Com isso se delineia a primeira tarefa do trabalho de formação litúrgica: o homem deve se tornar novamente capaz de símbolos” [13]. Este empenho diz respeito a todos, ministros ordenados e fiéis. A tarefa não é fácil, porque o homem moderno se tornou analfabeto, não sabe mais ler símbolos, mal conhece a sua existência. Isso acontece também com o símbolo do nosso corpo. É símbolo porque é íntima união de alma e corpo, visibilidade da alma espiritual na ordem do corpóreo e nisso consiste a singularidade humana, a especificidade da pessoa irredutível a qualquer outra forma de ser vivo. A nossa abertura ao transcendente, a Deus, é constitutiva: não reconhecê-la nos leva inevitavelmente a um desconhecimento não só de Deus, mas também de nós mesmos. Basta ver a forma paradoxal de como o corpo é tratado, ora cuidado de forma quase obsessiva, seguindo o “mito de uma eterna juventude”, ora reduzido a uma materialidade à qual é negada toda dignidade. O fato é que não se pode dar valor ao corpo partindo apenas do corpo. Todo símbolo é ao mesmo tempo poderoso e frágil: se não for respeitado, se não for tratado como aquilo que é, quebra, perde a força, torna-se insignificante.
Não temos mais o olhar de São Francisco que olhava o sol - a quem chamava irmão, porque assim o sentia -, o via belo e radiante com grande esplendor e, cheio de assombro, cantava: De ti, Altíssimo, carrega a significação [14]. A perda da capacidade de compreender o valor simbólico do corpo e de cada criatura torna a linguagem simbólica da Liturgia quase inacessível ao homem moderno. Não se trata, no entanto, de renunciar a esta linguagem: não é possível renunciar a ela porque é a linguagem que a Santíssima Trindade escolheu para nos alcançar na carne do Verbo. Trata-se, ao contrário, de recuperar a capacidade de situar e compreender os símbolos da Liturgia. Não devemos nos desesperar, porque essa dimensão, como disse, é constitutiva ao homem e, apesar dos males do materialismo e do espiritualismo - ambos negações da unidade entre corpo e alma - está sempre pronta a ressurgir, como toda verdade.

45. A pergunta que nos fazemos é, portanto, como voltar a ser capazes de símbolos? Como voltar a saber lê-los para poder vivê-los? Sabemos bem que a celebração dos sacramentos é - pela graça de Deus - eficaz em si mesma (ex opere operato), mas isso não garante um pleno envolvimento das pessoas sem um modo adequado de situar-se diante da linguagem da celebração. A leitura simbólica não é uma questão de conhecimento mental, de aquisição de conceitos, mas experiência vital.

46. ​​Antes de tudo devemos recuperar a confiança na criação. Quero dizer que as coisas - com as quais os sacramentos “são feitos” - vêm de Deus, são orientadas para Ele e foram assumidas por Ele, de modo particular com a Encarnação, para que se tornassem instrumentos de salvação, veículos do Espírito, canais de graça. Aqui se sente toda a distância seja da visão materialista seja daquela espiritualista. Se as coisas criadas são parte irrenunciável da ação sacramental que opera nossa salvação, devemos nos situar diante delas com um olhar novo, não superficial, mas respeitoso, grato. Desde o início elas contêm o germe da graça santificante dos sacramentos.

47. Outra questão decisiva - sempre refletindo sobre como a Liturgia nos forma - é a educação necessária para poder adquirir a atitude interior que nos permite situar e compreender os símbolos litúrgicos. Expresso-o de forma simples. Penso nos pais e, mais ainda, nos avós, mas também nos nossos párocos e catequistas. Muitos de nós aprendemos o poder dos gestos litúrgicos – como, por exemplo, o sinal da cruz, o estar de joelhos, as fórmulas da nossa fé - justamente deles. Talvez não tenhamos a memória viva disso, mas facilmente podemos imaginar o gesto de uma mão maior que toma a pequena mão de uma criança e a acompanha lentamente, traçando pela primeira vez o sinal da nossa salvação. O movimento é acompanhado por palavras, que também são lentas, como se tomassem posse de cada instante daquele gesto, de todo o corpo: “Em nome do Pai... e do Filho... e do Espírito Santo... Amém”.
Para depois soltar a mão da criança e observá-la repetir por si mesma, pronta para ajudá-la. Aquele gesto, assim entregue, crescerá como um hábito com ela, vestindo-a da maneira que só o Espírito conhece. A partir daquele momento esse gesto, a sua força simbólica, nos pertence ou, melhor dizendo, nós pertencemos a esse gesto, ele nos dá forma, somos formados por ele. Não são necessários muitos discursos, não é preciso ter compreendido tudo sobre aquele gesto: é preciso ser pequeno, tanto em entregá-lo quanto em recebê-lo. O resto é obra do Espírito. Assim fomos iniciados na linguagem simbólica. Não podemos deixar que nos roubem essa riqueza. Crescendo poderemos ter mais meios de compreender, mas sempre com a condição de permanecer pequenos.


Notas:

[7] AAS 56 (1964), 34.
[8] Romano Guardini, Liturgische Bildung (1923); in: Liturgie und liturgische Bildung. Mainz, 1992, p. 43 (trad. ital.: Formazione Liturgica. Brescia, 2022, p. 69).
[9] idem, Der Kultakt und die gegenwärtige Aufgabe der Liturgischen Bildung (1964); in: Liturgie und liturgische Bildung, p. 14 (trad. ital.: L’atto di culto e il compito attuale della formazione liturgica. Una lettera (1964); in: Formazione Liturgica, p. 33).
[10] Pontifical Romano. Rito de ordenação de presbíteros, p. 117 (“Agnosce quod ages, imitare quod tractabis, et vitam tuam mysterio dominicae crucis conforma”).
[11] Leão Magno, Sermão XII: De Passione III, 7.
[12] Irineu de Lião, Adversus haereses IV, 20, 7.
[13] Romano Guardini, Liturgische Bildung (1923) in: op. cit., p. 36 (trad. ital.: p. 60).
[14] “Laudato sie, mi Signore, cun tucte le tue creature, spetialmente messor lo frate sole, lo qual' è iorno, et allumini noi per loi. Et ellu è bellu e radiante cun grande splendore, de te, Altissimo, porta significatione” (Cântico das Criaturas; in: Fontes Franciscanas, n. 263).

Atualização: Para acessar a Terceira parte, com os nn. 48-65 da Carta, clique aqui

Tradução nossa a partir do texto italiano da Carta, disponível no site da Santa Sé.

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