Com esta postagem concluímos a publicação na íntegra da
Carta Apostólica Desiderio desideravi
(Desejei ardentemente) sobre a formação litúrgica do povo de Deus, promulgada
pelo Papa Francisco no dia 29 de junho de 2022.
Dividimos nossa tradução do texto completo da Carta em três
postagens. Assim, após os parágrafos nn. 01-26 (Primeira parte) e nn. 27-47 (Segunda parte), confira nesta Terceira e última parte os nn. 48-65:
Papa Francisco
Carta Apostólica Desiderio desideravi
Aos Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos
Sobre a formação litúrgica do povo de Deus
Ars celebrandi
48. Um modo para conservar e para crescer na
compreensão vital dos símbolos da Liturgia é certamente cuidar da arte de
celebrar (ars celebrandi). Também
essa expressão é objeto de diversas interpretações. Essa se esclarece se é
compreendida tendo como referência o significado teológico da Liturgia descrito
no n. 7 da Sacrosanctum Concilium, ao
qual nos referimos várias vezes. A ars
celebrandi não pode ser reduzida apenas à observância de um aparato de
rubricas, nem tampouco pode ser pensada como uma fantasiosa - e às vezes
selvagem - criatividade sem regras. O rito é por si mesmo norma, e a norma
nunca é um fim em si mesma, mas sempre está a serviço da realidade mais elevada
que quer conservar.
49. Como toda arte, requer distintos conhecimentos.
Antes de tudo, a compreensão do dinamismo que descreve
a Liturgia. O momento da ação celebrativa é o lugar no qual, através do
memorial, o Mistério Pascal se faz presente, para que os batizados, em virtude
da sua participação, possam experimentá-lo em sua vida. Sem essa compreensão se
cai facilmente no “exteriorismo” (mais ou menos refinado) e no “rubricismo”
(mais ou menos rígido).
Também é preciso conhecer como o Espírito Santo age
em cada celebração: a arte de celebrar deve estar em sintonia com a ação do
Espírito. Só assim estará livre dos subjetivismos, que são o fruto da
prevalência das sensibilidades individuais e dos culturalismos, que são
aquisições acríticas de elementos culturais que nada têm a ver com um correto
processo de inculturação.
É necessário, por fim,
conhecer a dinâmica da linguagem simbólica, a sua peculiaridade, a sua
eficácia.
50. A partir destas breves indicações fica claro que a arte de celebrar não pode ser improvisada. Como toda arte, requer aplicação constante. Para um artesão, basta a técnica; para um artista, além do conhecimento técnico, não pode faltar a inspiração, que é uma forma positiva de posse: o artista, aquele verdadeiro, não possui a arte: ele é “possuído” por ela. São se aprende a arte de celebrar porque se frequenta um curso de public speaking (oratória) ou de técnicas de comunicação persuasiva (não julgo as intenções, vejo os efeitos). Todo instrumento pode ser útil, mas deve sempre estar a serviço da natureza da Liturgia e da ação do Espírito. É preciso uma diligente dedicação à celebração, deixando que seja a própria celebração a nos transmitir a sua arte. Escreve Romano Guardini: “Devemos dar-nos conta do quão profundamente ainda estamos enraizados no individualismo e no subjetivismo, de quanto estamos desacostumados ao apelo das grandezas e de quão pequena é a medida da nossa vida religiosa. Devemos despertar o sentido do grande estilo da oração, a vontade de envolver nela também a nossa existência. Mas o caminho para essa meta é a disciplina, a renúncia a um sentimentalismo mórbido; um trabalho sério, realizado em obediência à Igreja, em relação ao nosso ser e ao nosso comportamento religioso” [15]. É assim que se aprende a arte de celebrar.
51. Falando deste tema, somos levados a pensar que diz
respeito apenas aos ministros ordenados, que exercem o serviço da presidência.
Na realidade, é uma atitude que todos os batizados são chamados a viver. Penso
em todos os gestos e palavras que pertencem à assembleia: o reunir-se, o
caminhar em procissão, o estar sentados, em pé, de joelhos, o cantar, o estar
em silêncio, o aclamar, o olhar, o escutar. São muitos os modos pelos quais a assembleia,
como um só homem (Ne 8,1), participa da celebração. Realizar
todos juntos o mesmo gesto, falar todos juntos a uma só voz, transmite a cada
indivíduo a força de toda a assembleia. É uma uniformidade que não só não
mortifica, mas, ao contrário, educa cada fiel a descobrir a autêntica
singularidade da própria personalidade não em atitudes individualistas, mas na
consciência de ser um só corpo. Não se trata de dever seguir uma “etiqueta”
litúrgica: se trata antes de uma “disciplina” - no sentido usado por Guardini -
que, se observada com autenticidade, nos forma: são gestos e palavras que põem
ordem dentro do nosso mundo interior, fazendo-nos experimentar sentimentos,
atitudes, comportamentos. Não são a enunciação de um ideal no qual buscamos nos
inspirar, mas são uma ação que envolve o corpo na sua totalidade, isto é, no
seu ser unidade de alma e de corpo.
"Entre os gestos rituais ocupa um lugar de absoluta importância o silêncio" |
52. Entre os gestos rituais que pertencem a toda a
assembleia ocupa um lugar de absoluta importância o silêncio. Várias vezes é expressamente prescrito nas rubricas:
toda a Celebração Eucarística está imersa no silêncio que precede o seu início
e marca cada instante do seu desenvolvimento ritual. De fato, está presente no
ato penitencial; após o convite à oração; na Liturgia da Palavra (antes das leituras,
entre as leituras e depois da homilia); na Oração Eucarística; após a Comunhão
[16]. Não se trata de um refúgio no qual se esconder para um isolamento
intimista, quase que “suportando” a ritualidade como se fosse uma distração:
tal silêncio estaria em contradição com a própria essência da celebração. O
silêncio litúrgico é muito mais: é o símbolo da presença e da ação do Espírito
Santo que anima toda a ação celebrativa. Por isso constitui muitas vezes o ápice
de uma sequência ritual. Precisamente por ser símbolo do Espírito, tem a força
para expressar a sua multiforme ação. Assim, percorrendo os momentos que recordei
acima, o silêncio leva ao arrependimento e ao desejo de conversão; suscita a
escuta da Palavra e a oração; dispõe à adoração do Corpo e do Sangue de Cristo;
sugere a cada um, na intimidade da Comunhão, aquilo que o Espírito deseja realizar
na vida para nos conformar ao Pão partido. Por isso somos chamados a observar
com extremo cuidado o gesto simbólico do silêncio: é nele o Espírito nos dá
forma.
53. Cada gesto e cada palavra contém uma ação
precisa que é sempre nova porque vai ao encontro de um instante sempre novo da
nossa vida. Explico-me com apenas um simples exemplo. Ajoelhamo-nos para pedir
perdão; para dobrar o nosso orgulho; para entregar a Deus nossas lágrimas; para
suplicar a sua intervenção; para agradecer-lhe um dom recebido: é sempre o
mesmo gesto que diz essencialmente o nosso ser pequenos diante de Deus.
Todavia, realizado em momentos distintos da nossa vida, molda a nossa interioridade
profunda para depois manifestar-se externamente na nossa relação com Deus e com
os irmãos. Também o ajoelhar-se deve ser feito com arte, ou seja, com plena
consciência do seu significado simbólico e da necessidade que nós temos de
exprimir com este gesto o nosso modo de estar na presença do Senhor.
Se tudo isso é verdadeiro para esse simples gesto,
quanto mais o será para a celebração da Palavra? Que arte somos chamados a
aprender ao proclamar a Palavra, ao ouvi-la, ao fazê-la inspiração da nossa
oração, fazê-la tornar-se vida? Tudo isso merece o máximo cuidado, não formal,
externo, mas vital, interior, porque cada gesto e cada palavra da celebração
expressos com “arte” formam a personalidade cristã do indivíduo e da
comunidade.
54. Se é verdade que a ars celebrandi diz respeito a toda assembleia que celebra, é
igualmente verdade que os ministros ordenados devem ter com ela um cuidado
especial. Ao visitar as comunidades cristãs, notei muitas vezes que o seu modo
de viver a celebração é condicionado - para o bem e, infelizmente, também para
o mal - por como o seu pároco preside a assembleia. Poderíamos dizer que
existem diferentes “modelos” de presidência. Eis um possível elenco de atitudes
que, apesar de opostas entre si, caracterizam a presidência de modo certamente
inadequado: rigidez austera ou criatividade exasperada; misticismo
espiritualizante ou funcionalismo prático; vivacidade apressada ou lentidão
enfatizada; descuido desleixado ou refinamento excessivo; superabundante afabilidade
ou impassividade hierática. Apesar da amplitude de exemplos, penso que a
inadequação desses modelos tenha uma raiz comum: um exasperado personalismo do
estilo celebrativo que, muitas vezes, exprime uma mal disfarçada mania de
protagonismo. Muitas vezes isso fica mais evidente quando nossas celebrações
são transmitidas online, o que nem
sempre é oportuno e sobre o qual devemos refletir. Entendamo-nos, nem sempre
essas são as atitudes mais comuns, embora não raro as assembleias sofram esses
“maus-tratos”.
55. Muito se poderia dizer sobre a importância e sobre
a delicadeza de presidir. Em várias ocasiões me concentrei sobre a exigente
tarefa da homilia [17]. Limito-me aqui a algumas considerações mais amplas, sempre
buscando refletir convosco sobre como somos formados
pela Liturgia. Penso na normalidade das Missas dominicais em nossas
comunidades: refiro-me, portanto, aos presbíteros, mas implicitamente a todos
os ministros ordenados.
56. O presbítero vive a sua participação típica na
celebração em virtude do dom recebido no sacramento da Ordem: esta tipicidade
se exprime precisamente na presidência. Como em todos os ofícios que é chamado
a desempenhar, não se trata primordialmente de uma tarefa atribuída pela
comunidade, mas é uma consequência da efusão do Espírito Santo recebida na
ordenação que o habilita a tal tarefa. Também o presbítero é formado pelo seu
presidir a assembleia que celebra.
"Recebe a oferenda do povo para apresentá-la a Deus..." |
57. Para que este serviço seja feito bem - com
arte, aliás - é de fundamental importância que o presbítero tenha antes de tudo
uma viva consciência de ser, por misericórdia, uma particular presença do
Ressuscitado. O ministro ordenado é ele mesmo uma das modalidades da presença
do Senhor que torna a assembleia cristã única, diferente de qualquer outra (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 7). Este
fato dá profundidade “sacramental” - em sentido amplo - a todos os gestos e
palavras daquele que preside. A assembleia tem direito de poder sentir naqueles
gestos e naquelas palavras o desejo que o Senhor tem, hoje como na última Ceia,
de continuar a comer a Páscoa conosco. O Ressuscitado é, pois, o protagonista, e
não certamente nossas imaturidades que buscam assumir um papel, uma atitude, um
modo de apresentar-se que não lhes correspondem. O próprio presbítero deve ser
dominado por este desejo de comunhão que o Senhor tem para com cada um: é como
se fosse colocado entre o coração ardente do amor de Jesus e o coração de cada fiel,
objeto do seu amor. Presidir a Eucaristia é estar mergulhado na fornalha do
amor de Deus. Quando nos é dado compreender, ou ao menos intuir, esta
realidade, certamente já não precisamos de um diretório que nos exija um comportamento adequado. Se precisamos
disso é pela dureza do nosso coração.
A norma mais elevada e, portanto, mais exigente, é a própria realidade da Celebração
Eucarística que seleciona palavras, gestos, sentimentos, fazendo-nos
compreender se são ou não adequados à tarefa que devem desempenhar. É evidente
que também isto não se improvisa: é uma arte, pede ao presbítero aplicação,
isto é, uma frequência assídua do fogo de amor que o Senhor veio trazer à terra
(cf. Lc 12,49).
58. Quando a primeira comunidade parte o pão em
obediência ao mandato do Senhor, o faz sob o olhar de Maria, que acompanha os
primeiros passos da Igreja: “Todos eles perseveravam na oração em comum, junto
com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus” (At 1,14). A Virgem Mãe “supervisiona” os
gestos do seu Filho confiados aos Apóstolos. Assim como guardou no seu seio,
depois de ter acolhido as palavras do anjo Gabriel, o Verbo feito carne, a
Virgem guarda mais uma vez no seio da Igreja aqueles gestos que fazem o corpo do
seu Filho. O presbítero que, em virtude do dom recebido com o sacramento da
Ordem, repete esses gestos, é guardado no seio da Virgem. Precisamos de uma
regra para dizer- nos como se comportar?
59. Tornados instrumentos para fazer arder o fogo
do seu amor sobre a terra, guardados no seio de Maria, Virgem feita Igreja
(como cantava São Francisco), os presbíteros devem deixar-se modelar pelo
Espírito, que deseja levar a cumprimento a obra que iniciou na sua ordenação. A
ação do Espírito oferece-lhes a possibilidade de exercer a presidência da
assembleia eucarística com o temor de Pedro, consciente do seu ser pecador (cf. Lc 5,1-11), com a forte humildade do
servo sofredor (cf. Is 42ss), com o
desejo de “deixar-se consumir” pelo povo que lhe é confiado no exercício quotidiano
do ministério.
60. É a própria celebração que educa para esta
qualidade de presidência; não é, repetimos, uma adesão mental, ainda que nela
esteja envolvida toda a nossa mente, assim como a nossa sensibilidade. O
presbítero é, portanto, formado para a presidência pelas palavras e pelos
gestos que a Liturgia põe em seus lábios e em suas mãos.
Não se senta em um trono [18], porque o Senhor
reina com a humildade de quem serve.
Não rouba a centralidade do altar, “símbolo de
Cristo de cujo lado aberto correram água e sangue, os sacramentos que fazem
nascer a Igreja” e “centro do nosso louvor e da nossa ação de graças” [19].
Aproximando-se do altar para a oferta, o presbítero
é educado à humildade e ao arrependimento com as palavras: “De coração contrito
e humilde, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal
modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus” [20].
Não pode presumir-se do ministério que lhe foi
confiado, porque a Liturgia o convida a pedir ser purificado no sinal da água: “Lavai-me,
Senhor, de minhas faltas, e purificai-me de meus pecados” [21].
As palavras que a Liturgia põe em seus lábios têm
conteúdos diversos, que pedem tonalidades específicas: pela importância dessas
palavras, pede-se ao presbítero uma verdadeira ars dicendi. Essas palavras dão forma aos seus sentimentos interiores,
ora na súplica ao Pai em nome da assembleia, ora na exortação dirigida à
assembleia, ora na aclamação a uma só voz com toda a assembleia.
Com a Oração Eucarística - da qual também todos os
batizados participam, escutando com
reverência e silêncio e intervindo com as aclamações [22] - quem preside tem a força, em nome de todo o povo santo, de recordar ao Pai a oferenda do seu
Filho na última Ceia, para que aquele dom imenso se faça novamente presente no
altar. Naquela oferenda ele participa com a oferta de si mesmo. O presbítero
não pode narrar ao Pai a última Ceia sem participar dela. Não pode dizer: “Tomai
todos e comei: Isto é o meu Corpo, que será entregue por vós”, e não viver o
mesmo desejo de oferecer o próprio corpo, a própria vida pelo povo que lhe é
confiado. É o que acontece no exercício do seu ministério.
Por tudo isso, e por muito mais, o sacerdote é
continuamente formado na ação celebrativa.
"De coração contrito e humilde..." |
Conclusão
61. Quis simplesmente oferecer algumas reflexões
que certamente não esgotam o imenso tesouro da celebração dos santos mistérios.
Peço a todos os Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, aos formadores dos
seminários, aos professores das faculdades teológicas e das escolas de
teologia, a todos os catequistas, a ajudar o povo santo de Deus a haurir daquela
que sempre foi a fonte primária da espiritualidade cristã: a Liturgia. Somos
continuamente chamados a redescobrir a riqueza dos princípios gerais expostos
nos primeiros números da Sacrosanctum
Concilium, compreendendo o estreito vínculo entre a primeira das
Constituições conciliares e todas as outras. Por este motivo não podemos voltar
àquela forma ritual que os Padres conciliares, cum Petro e sub Petro,
sentiram a necessidade de reformar, aprovando, sob a guia do Espírito e segundo
a sua consciência de pastores, os princípios a partir dos quais nasceu a
reforma. Os Santos Pontífices Paulo VI e João Paulo II, aprovando os livros
litúrgicos reformados ex decreto
Sacrosancti Oecumenici Conciliii Vaticani II, garantiram a fidelidade da
reforma ao Concílio. Por este motivo escrevi Traditionis Custodes, para que a Igreja possa elevar, na
diversidade das línguas, uma só e
idêntica oração, capaz de exprimir a sua unidade [23]. Esta unidade, como
já escrevi, pretendo que seja restabelecida em toda a Igreja de Rito Romano.
62. Gostaria que esta Carta nos ajudasse a reavivar
o assombro pela beleza da verdade da celebração cristã, a recordar a
necessidade de uma formação litúrgica autêntica e a reconhecer a importância de
uma arte da celebração que esteja a serviço da verdade do Mistério Pascal e da
participação de todos os batizados, cada um com a especificidade da sua
vocação.
Toda esta riqueza não está longe de nós: está nas
nossas igrejas, nas nossas festas cristãs, na centralidade do domingo, na força
dos sacramentos que celebramos. A vida cristã é um contínuo caminho de crescimento:
somos chamados a deixar-nos formar com alegria e na comunhão.
63. Por isso, desejo deixar ainda uma indicação
para prosseguir no nosso caminho. Convido-vos a redescobrir o sentido do ano litúrgico e do dia do Senhor: também este é um dom do Concílio (cf. Sacrosanctum Concilium, nn. 102-111).
64. À luz de quanto recordamos acima, compreendemos que o ano litúrgico é para nós a possibilidade de crescer no conhecimento do mistério de Cristo, mergulhando a nossa vida no mistério da sua Páscoa, à espera do seu retorno. Esta é uma verdadeira formação permanente. A nossa vida não é uma sucessão aleatória e caótica de eventos, mas um percurso que, de Páscoa em Páscoa, nos conforma a Ele, enquanto “vivendo a bendita esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador” [24].
65. Na passagem do tempo renovado pela Páscoa, a cada oito dias a Igreja celebra no domingo o acontecimento da salvação. O domingo, antes de ser um preceito, é um dom que Deus dá ao seu povo (por isso a Igreja o guarda com um preceito). A celebração dominical oferece à comunidade cristã a possibilidade de ser formada pela Eucaristia. De domingo a domingo, a Palavra do Ressuscitado ilumina a nossa existência, buscando realizar em nós aquilo para o quaç foi enviada (cf. Is 55,10-11). De domingo a domingo, a comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo quer fazer também da nossa vida um sacrifício agradável ao Pai, na comunhão fraterna que se faz partilha, acolhida, serviço. De domingo a domingo, a força do Pão partido nos sustenta no anúncio do Evangelho, no qual se manifesta a autenticidade da nossa celebração.
Abandonemos as polêmicas para ouvirmos juntos o que
o Espírito diz à Igreja: conservemos a comunhão, continuemos a nos maravilhar
com a beleza da Liturgia. Foi-nos dada a Páscoa, deixemo-nos conservar pelo
desejo que o Senhor continua a ter de poder comê-la conosco. Sob o olhar de
Maria, Mãe da Igreja.
Dado em Roma, junto de São João de Latrão, a 29 de junho, Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, do ano de 2022, décimo do meu pontificado.
FRANCISCO
Toda a humanidade trema, estremeça o universo
inteiro e exulte o céu quando sobre o altar, na mão do sacerdote, está presente
Cristo, o Filho do Deus vivo.
Ó admirável altura e estupenda condescendência! Ó
humildade sublime! Ó sublimidade humilde, que o Senhor do universo, Deus e
Filho de Deus, se humilhe a ponto de esconder-se, para nossa salvação, sob a pequena
aparência de pão!
Vede, irmãos, a humildade de Deus, e abri diante d’Ele
vossos corações; humilhai-vos também vós, porque sereis exaltados por Ele.
Nada, pois, guardeis de vós para vós mesmos, para
que todos e por inteiro vos acolha Aquele que por inteiro se oferece a vós.
(São Francisco de Assis, Carta a toda a Ordem II, 26-29).
Notas:
[15] Romano Guardini, Liturgische Bildung (1923); in:
Liturgie und liturgische Bildung. Mainz,
1992, p. 99 (trad. ital.: Formazione
Liturgica. Brescia, 2022, p. 139).
[16] cf. Instrução
Geral sobre o Missal Romano (Institutio
Generalis Missalis Romani), 3ª edição, nn. 45.51.54-56.66.71.78.84.88.271.
[17] cf.
Exortação Apostólica Evangelii gaudium
(24 de novembro de 2013), nn. 135-144.
[18] cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano,
n. 310.
[19] Rito da dedicação de um altar: Prece de
dedicação; in: Pontifical Romano, p.
497.
[20] Missal
Romano, p. 403 (“In spiritu
humilitatis et in animo contrito suscipiamur a te, Domine; et sic fiat
sacrificium nostrum in conspectu tuo hodie, ut placeat tibi, Domine Deus”).
[21] ibid.
(“Lava me, Domine, ab iniquitate mea, et
a peccato meo munda me”).
[22] cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano,
nn. 78-79.
[23] cf.
Paulo VI, Constituição Apostólica Missale
Romanum (03 de abril de 1969); in:
AAS 61 (1969), 222.
[24] Missal
Romano, p. 501: (“exspectantes beatam
spem et adventum Salvatoris nostri Iesu Christi”).
Tradução nossa a partir do texto italiano da
Carta, disponível no site da Santa Sé.
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