São João Crisóstomo, Bispo
Das Homilias sobre Mateus
Participantes da Paixão de Cristo
Os filhos de Zebedeu pedem a Cristo: Deixa-nos sentar um à
tua direita e outro, à tua esquerda (Mc
10,37). Que resposta lhes dá o Senhor? Para mostrar que no seu pedido nada
havia de espiritual, e se soubessem o que pediam não teriam ousado fazê-lo,
diz: Não sabeis o que estais pedindo (Mt
20,22), isto é, não sabeis como é grande, admirável e superior aos próprios
poderes celestes aquilo que pedis. Depois acrescenta: Por acaso podeis beber o
cálice que eu vou beber? (Mt 20,22).
É como se lhes dissesse: “Vós me falais de honras e de coroas; eu, porém, de
combates e de suores. Não é este o tempo das recompensas, nem é agora que minha
glória há de se manifestar. Mas a vida presente é de morte violenta, de guerra
e de perigos”.
Reparai como o Senhor os atrai e exorta, pelo modo de
interrogar. Não perguntou: “Podeis suportar os suplícios? podeis derramar vosso
sangue? Mas indagou: Por acaso podeis beber o cálice? E para estimulá-los,
ainda acrescentou: que eu vou beber? Assim falava para que, em união com ele,
se tornassem mais decididos. Chama sua paixão de batismo, para dar a entender
que os sofrimentos haviam de trazer uma grande purificação para o mundo
inteiro. Então os dois discípulos lhe disseram: Podemos (Mt 20,22). Prometem imediatamente, cheios de fervor, sem perceber o
alcance do que dizem, mas com a esperança de obter o que pediam.
Que afirma o Senhor? De fato, vós bebereis do meu cálice (Mt 20,23), e sereis batizados com o
batismo com que eu devo ser batizado (Mc
10,39). Grandes são os bens que lhes anuncia, a saber: “Sereis dignos de
receber o martírio e sofrereis comigo; terminareis a vida com morte violenta e
assim participareis da minha paixão”. Mas não depende de mim conceder o lugar à
minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles
para os quais ele os preparou (Mt
20,23). Somente depois de lhes ter levantado os ânimos e de tê-los tornado
capazes de superar a tristeza é que corrigiu o pedido que fizeram.
Então os outros dez discípulos ficaram irritados contra os
dois irmãos (Mt 20,24). Vedes como todos eles eram imperfeitos, tanto os que
tentavam ficar acima dos outros, como os dez que tinham inveja dos dois? Mas,
como já tive ocasião de dizer, observai-os mais tarde e vereis como estão
livres de todos esses sentimentos. Prestai atenção como o mesmo apóstolo João,
que se adianta agora por este motivo, cederá sempre o primeiro lugar a Pedro,
quer para usar da palavra, quer para fazer milagres, conforme se lê nos Atos
dos Apóstolos. Tiago, porém, não viveu muito mais tempo. Desde o princípio,
pondo de parte toda aspiração humana, elevou-se a tão grande santidade que bem
depressa recebeu a coroa do martírio.
Responsório (cf. Sl 18/19,5)
São estes que vivendo neste mundo, plantaram a Igreja com
seu sangue.
R. Beberam o cálice
de Cristo e se tornaram amigos de Deus.
Em toda a terra se espalha o seu anúncio e sua voz, pelos
confins do universo.
R. Beberam o cálice
de Cristo e se tornaram amigos de Deus.
Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que pelo sangue de São Tiago
consagrastes as primícias dos trabalhos dos Apóstolos, concedei que a vossa
Igreja seja confirmada pelo seu testemunho e sustentada pela sua proteção. Por
nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Fonte: Liturgia das Horas, vol. III, pp. 1444-1446.
Caríssimo,
ResponderExcluirA cruz do altar pode estar deitada sobre ele? Sendo visível somente pelo celebrante e por quem o assiste?
Obrigado!
(Teu blog é o melhor em língua portuguesa sobre o tema. Sempre o recomendo.
Que benção para nossa Arquidiocese de Curitiba).
Em uma Missa privada (Missa sem povo) não teria problema, mas na Missa com o povo a Instrução Geral sobre o Missal Romano (3ª edição) pede que a cruz "seja bem visível para o povo reunido" (n. 308).
ExcluirMuito obrigado pelo seu comentário.
Havendo no presbitério uma outra cruz, grande e voltada para o povo, a cruz do altar (do chamado arranjo beneditino) não pode esta estar deitada sobre o altar?
ExcluirObrigado!
Nesse caso a cruz do presbitério já cumpre a função de cruz do altar, que deve ser única (IGMR, 3ª edição, n. 122), a fim de garantir a autenticidade do sinal: uma cruz, um Cristo, um sacrifício.
ExcluirUma cruz deitada sobre o altar nesse caso seria mais para a devoção do sacerdote.
Para te explicar...
ResponderExcluirNossa dúvida nasceu do ver que na basílica de São Pedro foi colocado uma cruz abaixo do "trono", mas mesmo assim há no altar uma outra voltada para o presidente da celebração. Igualmente quando se celebra na praça: Duas cruzes.
A nós pareceu que mesmo que tenha uma no presbitério, uma outra para o sacerdote fosse obrigatória.
Obrigado por responder, mesmo esta nossa dúvida não corresponder com o teto publicado da homilia da festa do Apóstolo.
Vivat Cor Iesu!
A cruz sob a Cátedra de São Pedro surgiu no contexto da pandemia, na Semana Santa de 2020, quando foi exposta a cruz de San Marcello all Corso. Até então, quando o Papa celebrava no altar da Cátedra, era colocada apenas a cruz do altar.
ExcluirQuando o Papa celebra na Praça de São Pedro ou nas Viagens, o altar fica tão longe da sede que, além da cruz do altar, se coloca uma grande cruz junto à sede.
Esses são mais costumes do Vaticano que normas litúrgicas. A IGMR pede apenas uma cruz, sobre o altar ou junto dele, com a imagem do Crucificado, que seja visível pelos fiéis.
"Esses são mais costumes do Vaticano que normas litúrgicas."
ResponderExcluirPenso que com esta afirmação no conjunto de toda a explicação, resolveu nossa dúvida.
Obrigado!
Vivat Cor Iesu!