São João Crisóstomo
Sermão 25 sobre São Mateus
Ensinava
como quem tem autoridade
Jesus chegou a Cafarnaum e no sábado
seguinte foi à sinagoga para ensinar; e eles ficaram assombrados com o seu
ensinamento. Era muito lógico que a multidão se sentisse oprimida pelo peso
de suas palavras e desfalecesse frente a sublimidade de seus preceitos. Mas
não. Era tal o poder de convicção do mestre, que não só convenceu a muitos de
seus ouvintes, causando-lhes uma profunda admiração, mas só pelo prazer de
escutar-lhe, muitos não queriam afastar-se dele, mesmo depois de terminado o
discurso. De fato, quando desceu do monte, seus ouvintes não se dispersaram,
mas toda a assembleia lhe seguiu: tanto amor a sua doutrina soube infundir-lhes!
E o que mais admiravam era sua autoridade.
Porque Cristo
não falava apoiando as suas afirmações na autoridade de outro, como faziam os
profetas ou o próprio Moisés, mas deixando sempre claro que era nele que
residia a autoridade. Na verdade, depois de ter apresentado testemunhos legais,
costumava acrescentar: Porém, eu vos digo.
E quando comparou o dia do juízo, apresentava-se a si mesmo como juiz que devia
decretar o prêmio ou o castigo. Um motivo a mais para que os ouvintes se
tivessem perturbado.
Pois se os
letrados, que lhe tinham visto demonstrar com obras o seu poder, tentaram lhe
apedrejar e o precipitaram fora da cidade, não era lógico que quando
demonstrava somente palavras como prova de sua autoridade, os ouvintes se
escandalizassem, ainda mais ocorrendo isto ao começo de sua pregação, antes de
ter realizado uma demonstração de seu poder? Contudo, nada disso ocorreu. O
fato é que, quando o homem é bom e honrado, facilmente se deixa persuadir pelos
argumentos da verdade. Justamente por isso os letrados - apesar de que os
milagres de Jesus apregoavam o seu poder - se escandalizariam, enquanto que o
povo, que somente tinha escutado suas palavras, o obedecia e lhe seguia. É o
que o evangelista dava a entender quando dizia: Muitas pessoas lhe seguiram. E não pessoas das fileiras dos
príncipes ou dos letrados, mas gente sem malícia e de coração sincero.
No percurso de
todo o Evangelho verás que são estes os que aderem ao Senhor. Porque, quando
falava, o escutavam em silêncio, sem interrompê-lo nem interpelar ao orador,
sem tentá-lo nem espreitar a ocasião, como faziam os fariseus; são finalmente
os que, uma vez terminado o discurso, o seguem cheios de admiração.
Mas considera,
peço-te, a prudência do Senhor e como sabe variar segundo a utilidade dos
ouvintes, passando dos milagres aos discursos e destes novamente aos milagres.
Realmente, antes de subir ao monte curou a muitos, para aplainar o caminho ao
que se dispunha a dizer. E após ter terminado este extenso discurso, novamente
volta aos milagres, confirmando os ditos com os fatos. E uma vez que ensinava como quem tem autoridade, para que deste
modo de ensinar não soasse arrogância ou ostentação, faz o mesmo com as obras
e, como quem tem autoridade, cura as enfermidades. Desta forma, não lhes dá
ocasião de perturbarem-se ao ouvir falar com autoridade, já que com autoridade
também realiza os milagres.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 376-377. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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