sábado, 27 de janeiro de 2018

Homilia: IV Domingo do Tempo Comum - Ano B

São João Crisóstomo
Sermão 25 sobre São Mateus
Ensinava como quem tem autoridade

Jesus chegou a Cafarnaum e no sábado seguinte foi à sinagoga para ensinar; e eles ficaram assombrados com o seu ensinamento. Era muito lógico que a multidão se sentisse oprimida pelo peso de suas palavras e desfalecesse frente a sublimidade de seus preceitos. Mas não. Era tal o poder de convicção do mestre, que não só convenceu a muitos de seus ouvintes, causando-lhes uma profunda admiração, mas só pelo prazer de escutar-lhe, muitos não queriam afastar-se dele, mesmo depois de terminado o discurso. De fato, quando desceu do monte, seus ouvintes não se dispersaram, mas toda a assembleia lhe seguiu: tanto amor a sua doutrina soube infundir-lhes! E o que mais admiravam era sua autoridade.

Porque Cristo não falava apoiando as suas afirmações na autoridade de outro, como faziam os profetas ou o próprio Moisés, mas deixando sempre claro que era nele que residia a autoridade. Na verdade, depois de ter apresentado testemunhos legais, costumava acrescentar: Porém, eu vos digo. E quando comparou o dia do juízo, apresentava-se a si mesmo como juiz que devia decretar o prêmio ou o castigo. Um motivo a mais para que os ouvintes se tivessem perturbado.

Pois se os letrados, que lhe tinham visto demonstrar com obras o seu poder, tentaram lhe apedrejar e o precipitaram fora da cidade, não era lógico que quando demonstrava somente palavras como prova de sua autoridade, os ouvintes se escandalizassem, ainda mais ocorrendo isto ao começo de sua pregação, antes de ter realizado uma demonstração de seu poder? Contudo, nada disso ocorreu. O fato é que, quando o homem é bom e honrado, facilmente se deixa persuadir pelos argumentos da verdade. Justamente por isso os letrados - apesar de que os milagres de Jesus apregoavam o seu poder - se escandalizariam, enquanto que o povo, que somente tinha escutado suas palavras, o obedecia e lhe seguia. É o que o evangelista dava a entender quando dizia: Muitas pessoas lhe seguiram. E não pessoas das fileiras dos príncipes ou dos letrados, mas gente sem malícia e de coração sincero.

No percurso de todo o Evangelho verás que são estes os que aderem ao Senhor. Porque, quando falava, o escutavam em silêncio, sem interrompê-lo nem interpelar ao orador, sem tentá-lo nem espreitar a ocasião, como faziam os fariseus; são finalmente os que, uma vez terminado o discurso, o seguem cheios de admiração.

Mas considera, peço-te, a prudência do Senhor e como sabe variar segundo a utilidade dos ouvintes, passando dos milagres aos discursos e destes novamente aos milagres. Realmente, antes de subir ao monte curou a muitos, para aplainar o caminho ao que se dispunha a dizer. E após ter terminado este extenso discurso, novamente volta aos milagres, confirmando os ditos com os fatos. E uma vez que ensinava como quem tem autoridade, para que deste modo de ensinar não soasse arrogância ou ostentação, faz o mesmo com as obras e, como quem tem autoridade, cura as enfermidades. Desta forma, não lhes dá ocasião de perturbarem-se ao ouvir falar com autoridade, já que com autoridade também realiza os milagres.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 376-377. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Jerônimo para este domingo, clique aqui.

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