“Hoje nasceu para vós um Salvador, que é o
Cristo Senhor!” (Lc 2,11).
Nos primeiros
três séculos do Cristianismo a única celebração litúrgica era a Páscoa: a
Páscoa semanal, celebrada a cada domingo, dia do Senhor; e a Páscoa anual,
celebrada na primeira lua cheia da primavera (no hemisfério norte).
Podemos dizer
que os próprios Evangelhos foram escritos “de trás para frente”: a primeira
comunidade cristã centrou-se no anúncio da “obra” de Jesus mais do que no de
sua “pessoa”, particularmente no Mistério Pascal de sua Morte e Ressurreição,
que constitui o chamado querigma,
isto é, a essência da mensagem cristã [1].
Será a partir do
século IV, pois, que se desenvolverá uma celebração do nascimento de nosso
Senhor Jesus Cristo segundo a carne, como veremos ao longo desta postagem.
1. A origem da celebração do Natal
São Clemente de
Alexandria (†215) em sua obra Stromata
afirma que em seu tempo eram várias as hipóteses sobre o dia do nascimento de
Jesus, o qual não é mencionado no Evangelho. O anônimo De Pascha Computus, escrito em torno de 243, associa o nascimento
de Cristo com o dia 28 de março, por ser o “dia da criação do sol”
(considerando o dia 25 de março como o início da criação, como veremos adiante).
O primeiro
registro da celebração do Natal é de meados do século IV, em Roma: a Depositio Martyrum, um calendário das memórias
dos mártires que integra o Cronógrafo
Filocaliano, compilado por Fúrio Dionísio Filócalo em 354, começa
justamente no dia 25 de dezembro com a inscrição: “Octavo Kalendas Januarii: Natus Christus in Bethleem Judeae” [2]. O
Natal, porém, provavelmente era celebrado já desde o ano 336 ou mesmo antes,
durante o pontificado do Papa São Silvestre I (†335).
Duas são as
hipóteses principais sobre a razão da escolha dessa data, ambas relacionadas
com o simbolismo do solstício de inverno no hemisfério norte, dado que a passagem
das estações é um marco importante em várias culturas e tradições religiosas:
- segundo a hipótese apologética, a celebração do
Natal no dia 25 de dezembro estava associada originalmente à festa do “sol
invencível” (Natalis Solis Invictis)
introduzida pelo Imperador Aureliano no ano de 274.
Uma vez que o
solstício de inverno é o dia mais curto do ano e a partir dele os dias vão
ficando gradativamente mais longos, os romanos celebravam no dia 25 de dezembro
a “vitória do deus sol”. Os cristãos, portanto, teriam contraposto a esta festa
a celebração do nascimento de Cristo, verdadeiro “sol nascente que nos veio visitar” (cf. Lc 1,78-79).
Representação do Sol Invictus (séc. II) |
- a hipótese do cômputo, por sua vez, remete-nos
a uma antiga tradição segundo a qual Jesus teria vivido um número exato de anos.
Assim, sua concepção teria acontecido no mesmo dia da sua morte.
Essa mesma
tradição fixa a Paixão no dia 25 de março, data associada ao início da
primavera no hemisfério norte e à própria criação do mundo, ligando a
Morte-Ressurreição do Senhor ao ciclo do “renascimento” da natureza, sendo uma
“nova criação” [3].
Embora a festa
da Anunciação do Senhor no dia 25 de março tenha sido introduzida mais tarde,
foi a partir da referência a esse dia como data da Concepção de Cristo que o
seu Nascimento foi fixado nove meses depois, no dia 25 de dezembro [4].
De toda forma, a
instituição da celebração do Natal foi reforçada pelos quatro grandes Concílios
Ecumênicos dos séculos IV e V: Niceia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431)
e Calcedônia (451). Esses Concílios aprofundaram o mistério da pessoa de Jesus
Cristo, condenando as heresias cristológicas e confessando-o como verdadeiro
Deus e verdadeiro homem.
2. A difusão da celebração do Natal no Oriente
e no Ocidente
Foi ao longo dos
séculos IV e V, com efeito, que a celebração do Natal do Senhor foi se
difundindo de Roma às outras igrejas ocidentais: norte da África, Espanha e outras dioceses da Itália.
Desde o início
do século IV, porém, no Oriente se celebrava uma festa mais ampla tanto do
nascimento quanto da manifestação do Senhor no
dia 06 de janeiro: a Epifania ou Teofania. No relato da peregrina Etéria (ou Egéria), testemunho privilegiado da Liturgia da Terra Santa do final do século IV, a festa da Epifania aparece ainda ligada ao nascimento do Senhor, dada a importância de Belém no relato [5].
A partir do século V ambas as tradições foram
influenciando-se mutuamente e tanto Oriente quanto Ocidente passaram a celebrar
as duas festas: o Natal no dia 25 de dezembro e a Epifania no dia 06 de
janeiro, cuja história veremos em uma postagem própria [6].
Santo Agostinho
(†430), no início do século V, considera o Natal apenas uma comemoração (commemoratio), na mesma linha das memórias
dos santos, atribuindo o caráter de celebração sacramental (sacramentum, expressão que traduz o
grego mysterion) apenas à Páscoa [7].
Seria com o Papa
São Leão Magno (†461) que a celebração do Natal adquiriria
caráter “sacramental”. Para ele, com efeito, o Natal e a Páscoa celebram o mesmo mistério, o mistério da nossa salvação (salutis nostrae sacramentum), ainda que de modo distinto: o Natal celebra o início da salvação, a Páscoa celebra seu pleno cumprimento [8]. A Encarnação é o início da kenosis (rebaixamento, esvaziamento) de Cristo que culminará na Cruz, e à qual corresponderá sua exaltação na Ressurreição (cf. Fl 2,6-11).
São Leão Magno, Papa |
Podemos dizer
que São Leão Magno é o “Doctor
Nativitatis”: boa parte dos textos litúrgicos dessa Solenidade refletem sua
teologia, expressa sobretudo em seus dez Sermões
para o Natal. Destacamos, por exemplo, o tema do addmirabile commercium, isto é, do admirável intercâmbio de dons
entre o céu e a terra: Cristo assume a nossa humanidade para fazer-nos
participantes da sua divindade.
3. As três Missas de Natal
Em Roma, no
século IV, a única Missa de Natal era celebrada pelo Papa na Basílica de São
Pedro no Vaticano à hora terça (9h) do dia 25 de dezembro, precedida de uma
vigília que iniciava de madrugada, ad
galli cantum (ao canto do galo).
A partir do
pontificado de Papa Sisto III (†440), após a proclamação da Virgem Maria como
Mãe de Deus (Theotokos) no Concílio
de Éfeso, acrescentou-se uma Missa à meia-noite, in media nocte (cf. Sb 18,14-15) na Basílica de Santa Maria
Maior. Após essa Missa da meia-noite se celebrava uma vigília noturna em honra
da Mãe de Deus, que posteriormente seria antecipada para antes da
Missa.
A Missa da meia-noite, sobretudo a partir do pontificado do Papa Teodoro I (†649), era celebrada no oratório de Sancta Maria ad Praesepe (Santa Maria do presépio), uma pequena capela que guardava as supostas relíquias da manjedoura. Devido às pequenas dimensões do oratório, porém, nessa Missa ad praesepium apenas o Papa comungava, sendo a Comunhão do clero e dos fiéis na Missa das 9h em São Pedro.
Mosaico do nascimento do Senhor (Basílica de Santa Maria Maior) |
No final do século
VI, por fim, provavelmente durante o pontificado do Papa João III (†577),
acrescentou-se uma Missa à aurora do dia 25 na igreja de Santa Anastácia no Palatino.
Anastácia (ou Anastásia) foi martirizada no início do século IV,
durante a perseguição do imperador Diocleciano (†305), em Sirmio (Sirmium), na atual Sérvia. O Papa Símaco
(†514) a introduziu entre as mártires comemoradas no Cânon Romano [9].
Uma vez que a
cidade de Roma foi reconquistada pelo Império Romano do Oriente (Império
Bizantino) entre 553 e 774, e sendo Anastácia muito venerada entre os cristãos
orientais, a celebração da mártir na aurora do Natal era também um gesto de
deferência do Papa ao governador bizantino, que habitava, com efeito, junto ao
monte Palatino. Inicialmente
apenas uma Missa em honra da mártir, logo se tornou uma Missa em honra do
mistério do Natal.
Santa Anastácia (ou Anastásia), Mártir |
Ficou assim
fixada a tríplice celebração do Natal: a primeira Missa, à meia-noite, no
oratório do praesepe de Santa Maria
Maior; a segunda, à aurora, na igreja de Santa Anastácia; e a terceira, às 9h,
na Basílica de São Pedro, posteriormente transferida para o altar principal da
Basílica de Santa Maria Maior, que ficava mais próxima da residência do Papa (junto
à Basílica do Latrão, a Catedral de Roma).
Com efeito, ao
chegar o Papa à sua residência, os Cardeais e o coro cantavam as Laudes regiae (Louvores reais) em honra
do Papa, entoadas pela primeira vez no dia de Natal do ano 800, por ocasião da
coroação do imperador Carlos Magno (†814).
Os liturgistas do
final da Idade Média, como Guilherme Durando (†1296) em seu Rationale Divinorum Officiorum, tentaram
dar uma explicação alegórica às três celebrações, associando-as ao “tríplice
nascimento de Cristo”: seu nascimento eterno segundo a divindade no seio do
Pai; seu nascimento temporal segundo a carne da Virgem Maria em Belém; e seu
nascimento místico no coração de cada fiel (ou ainda sua última vinda no fim
dos tempos).
Porém, trata-se
aqui de “alegorese” ou “alegorismo”, isto é, de um “simbolismo forçado”, uma
vez que os textos litúrgicos das Missas não fazem referência a esse tríplice
nascimento [10]. A origem das três Missas de Natal, portanto, é mais “pastoral”
que “teológica”, sendo simplesmente expressão dos costumes da igreja romana.
Com efeito, a
praxe das três Missas, já consolidada no tempo do Papa São Gregório Magno
(†604), permaneceu como “privilégio” do Bispo de Roma até o século X, quando
foram permitidas em todas as igrejas, desde que cada Missa fosse presidida por
um sacerdote distinto. Apenas a partir do século XVI, como testemunha o Abade
Pedro de Cluny (†1556), foi permitido que o mesmo sacerdote presidisse as três
Missas.
4. Particularidades litúrgicas da celebração
do Natal
O Liber Pontificalis, compilado no século
VI, atribui ao Papa São Telésforo (†137) a inserção do hino “Gloria in excelsis Deo” (cf. Lc 2,14) na Missa da Noite de Natal,
embora o próprio hino remonte aos séculos IV-V. O Papa Símaco (†514) teria
estendido o Gloria aos domingos e
festas, porém apenas na Missa presidida pelo Bispo.
Até o século XI,
com efeito, os presbíteros só podiam entoar o Gloria na Vigília Pascal e em sua primeira Missa. No final do mesmo
século o canto desse hino é permitido aos presbíteros na Missa da Noite de Natal
e logo estendido a todas as Missas festivas [11].
Entre os séculos
X e XI a Solenidade do Natal é enriquecida por sequências. No Liber Sequentiarum de Notker Balbulus (†912)
são compiladas três: Grates nunc omnes
para a Missa da Noite; Eia recolamus para
a Missa da Aurora; e Natus ante saecula
para a Missa do Dia.
No século XI
popularizou-se a sequência Laetabundus
exsultet fidelis chorus, logo estendida a todo o Tempo do Natal, até a
Festa da Apresentação do Senhor (02 de fevereiro). Em Roma essa sequência não
se cantava na Missa, mas sim na refeição que o Papa partilhava no dia de Natal
com os Cardeais.
Também fora da
Missa se interpretavam na Idade Média os “mistérios” ou “autos de Natal”,
momentos de devoção popular marcados pelos cânticos natalinos, que representavam
a “busca” dos pastores pela gruta de Belém (Officium
pastorum).
Adoração dos pastores (Gerard van Honthorst - séc. XVII) |
A partir da iniciativa de São Francisco de Assis (†1226) na noite de Natal de 1223 em Greccio (Itália), começa a difundir-se também a montagem do presépio, entendido aqui como a representação da cena do nascimento de Jesus com pequenas esculturas.
Confira nossa postagem sobre a história e o simbolismo do presépio clicando aqui.
Em Roma era muito popular a dupla vigília ou “ofício noturno” em preparação à Missa: na
Basílica de São Pedro antes da Missa do Dia e na Basílica de Santa Maria Maior
antes da Missa da Noite, como vimos anteriormente. Com o tempo, porém, essas
duas vigílias foram unidas em uma só.
A vigília ou
“ofício noturno” era marcada pelo canto dos salmos messiânicos, por leituras do
profeta Isaías e por responsórios que repreendiam o povo de Israel por não ter
acolhido o Messias e que davam voz às sibilas, antigas profetisas pagãs que
supostamente também teriam anunciado o nascimento de Cristo.
5. A celebração do Natal do Senhor hoje
“A Igreja nada
considera mais venerável, após a celebração anual do mistério da Páscoa, do que
comemorar o Natal do Senhor...”. Assim as Normas
Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário (n. 32) destacam a
importância dessa Solenidade. Com efeito, na Tabela de precedência dos dias
litúrgicos, o Natal do Senhor ocupa o segundo lugar, atrás apenas do Tríduo
Pascal [12].
A reforma
litúrgica do Concílio Vaticano II conservou praticamente intacta a celebração
dessa Solenidade. As orações remontam aos antigos Sacramentários: Veronense ou Leoniano (séc. VI), Gelasiano e Gregoriano (séc. VII). Como vimos, essas orações refletem muito da teologia de São Leão Magno [13]. Destacam-se também os três
Prefácios próprios do Tempo do Natal [14].
Quanto à
Liturgia da Palavra, foi acrescentada a 2ª leitura para cada uma das
três Missas, que se caracterizam pelas perícopes evangélicas:
- o nascimento de
Cristo e o anúncio aos pastores na Missa da Noite (Lc 1,2-14);
- o encontro dos pastores com o Menino e sua Mãe na Missa
da aurora (Lc 2,15-20);
- e o Prólogo
do Evangelho de João na Missa do Dia
(Jo 1,1-18) [15].
Natividade (Vassily Nesterenko - séc. XX) |
A maior
diferença diz respeito à Missa da Vigília do Natal, celebrada na tarde do dia
24, antes ou depois das I Vésperas (18h). Não confundir com a Missa da Noite,
conhecida popularmente como “Missa do Galo”, que deve ser celebrada sempre após
o pôr-do-sol.
Antes da reforma
litúrgica essa Missa da Vigília era celebrada ainda com os paramentos roxos do
Advento. Atualmente, porém, possui um caráter mais festivo, já com os
paramentos brancos do Natal e o Evangelho da genealogia de Jesus (Mt 1,1-25) [16].
O Cerimonial dos Bispos (n. 328), além
disso, recomenda vivamente que antes da Missa da Noite os fiéis se reúnam para
um momento de oração, recordando o antigo “ofício noturno” celebrado em Roma,
como vimos acima. Esse momento de oração preferencialmente seja o próprio
Ofício das Leituras da Solenidade do Natal, conforme indicado no livro da Liturgia das Horas [17].
No final dessa
preparação para a Missa da Noite nos últimos anos tem se resgatado a “proclamação do Natal” ou “Kalenda”,
indicada no Martirológio Romano.
Uma vez mencionada a Liturgia das Horas, vale destacar os três hinos próprios, entoados até a Solenidade da Epifania (salvo nas celebrações com hinos próprios):
Vésperas: Christe, redémptor ómnium, ex Patre (Ó Redentor do mundo) [18];
Ofício das Leituras: Candor aetérnae Deitátis alme (Eterno esplendor da beleza divina);
Laudes: A solis ortus cárdine (Do sol nascente ao poente).
Cabe recordar,
por fim, que o Natal do Senhor é a única solenidade do Ano Litúrgico além da
Páscoa a conservar a oitava, isto é, a celebração prolongada por oito dias
(número que remete à “nova criação” realizada em Cristo), culminando no dia 01
de janeiro: início do ano civil, Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, e comemoração
da Circuncisão do Senhor (cf. Lc
2,21).
Confira também:
Notas:
[1] Por isso o Evangelho de Marcos, o primeiro a ser
escrito, não traz os relatos da infância de Jesus, que sim estão presentes nos Evangelhos de Mateus e de Lucas (cap. 1–2). O Evangelho de João vai além e traz em seu
Prólogo (Jo 1,1-18) uma reflexão sobre a preexistência de Cristo, o Verbo de
Deus.
[2] No
calendário romano, os últimos dias do mês eram
contados de maneira regressiva em relação às kalendas, nome do primeiro dia do mês. Portanto, 25 de dezembro corresponde ao oitavo dia antes
das kalendas de janeiro, como se
evidencia no célebre texto da proclamação do Natal do Martirológio Romano. Sobressai aqui o simbolismo do número
“oito”: se o “sete” é associado com a criação (cf. Gn 1,1–2,4a), o
“oito” indica que com o nascimento de Cristo começa uma “nova criação”.
[3] Essa tradição
é atestada, por exemplo, por Santo Agostinho em sua obra De Trinitate (Livro 4, cap. 5): “Existe a crença de que Ele
[Cristo] foi concebido a 25 de março e no mesmo dia sofreu a Paixão” (AGOSTINHO.
A Trindade. São Paulo: Paulus, 1995,
p. 158; Coleção: Patrística, vol. 7).
A tradição da Morte do Senhor no dia 25 de março é corroborada pelo Martirológio Romano, que comemora nessa data o ladrão penitente, chamado Dimas.
[4] A associação
do mistério da Encarnação com o simbolismo das quatro estações foi depois
completada com a Solenidade da Natividade de São João Batista seis meses antes
do Natal (cf. Lc 1,26.36), junto ao
solstício de verão do hemisfério norte (24 de junho); e a comemoração da
Concepção de João seis meses antes da Anunciação, junto ao equinócio de outono
(24 de setembro).
Santo Agostinho
alude ao simbolismo solar ligado aos nascimentos de Jesus e João Batista em seu
Comentário ao Salmo 132 (n. 11): “João Batista, conforme a tradição da Igreja,
nasceu a 24 de junho, quando os dias começam a diminuir [no hemisfério norte].
O Senhor, porém, nasceu a 25 de dezembro, quando os dias começam a crescer” (AGOSTINHO.
Comentário aos Salmos: Salmos 101-150.
São Paulo: Paulus, 1998, p. 775; Coleção: Patrística,
vol. 9/3).
[5] Infelizmente o “diário de viagem” de Etéria (Itinerarium ad loca sancta) chegou até nós incompleto: a página que descreveria a vigília da Epifania em Belém se perdeu. O trecho que foi conservado narra uma procissão que retorna de madrugada até Jerusalém, ao canto da antífona “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Mt 21,9). A procissão chega à Basílica do Santo Sepulcro (Anástasis) ao nascer-do-sol, quando o Bispo abençoa os presentes.
Etéria enaltece a decoração das igrejas, particularmente solene nesses dias, e descreve a celebração da “oitava” da Epifania: o Bispo celebra a Missa cada dia em uma das igrejas de Jerusalém, enquanto os monges que residem em Belém aí celebram a Missa e as vigílias (cf. CORDEIRO, José de Leão [org.]. Antologia Litúrgica: Textos Litúrgicos, Patrísticos e Canónicos do Primeiro Milénio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, pp. 450-451).
[6] Cabe recordar,
porém, que a maioria das Igrejas Orientais, tanto Católicas quanto Ortodoxas, utiliza
o calendário juliano, com uma diferença de 13 dias em relação ao gregoriano.
Assim, o dia 25 de dezembro no calendário juliano corresponde ao dia 07 de
janeiro no calendário gregoriano, e o dia 06 de janeiro corresponde ao dia 19.
[7] cf.
AGOSTINHO, Carta 55; in: CORDEIRO, op. cit., p. 822.
[8] Os próprios
relatos evangélicos da Natividade traçam diversos paralelos com o Mistério
Pascal: a madeira da manjedoura aponta para o lenho da cruz; a gruta de Belém
prefigura o sepulcro; as faixas que envolvem o Menino são retomadas em seu
sepultamento e Ressurreição; os pastores que correm e os magos que
trazem presentes recordam as mulheres com perfumes e os Apóstolos que correm ao
túmulo na manhã da Páscoa... (cf.
BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da
Igreja: O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 215-216: “O Natal na perspectiva da Páscoa”).
[9] MISSAL
ROMANO, Tradução portuguesa da 2ª edição
típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, p. 475.
[10] Sobre a
alegorese ou alegorismo, confira:
BERGER, Rupert. Alegoria. in: Dicionário de Liturgia Pastoral: Obra de consulta sobre todas as questões referentes à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2010, pp. 13-14.
JUNGMANN,
Josef Andreas. Missarum Sollemnia:
Origens, liturgia, história e teologia da Missa romana. São Paulo: Paulus,
2009, pp. 102-107.
[11] cf. JUNGMANN, op. cit.,
pp. 344-355.
[12] Normas universais sobre o Ano Litúrgico e o
Calendário. in: MISSAL ROMANO,
pp. 105.111.
[13] ibid., pp. 152-154.
[14] ibid., pp. 411-413.
[15] Na verdade
foi acrescentada a 1ª leitura, uma vez que antes da reforma litúrgica a leitura
nas três Missas do Natal era tomada das epístolas do Novo Testamento, sendo as
leituras do Antigo Testamento, como vimos, proferidas no “ofício noturno”. A
atual distribuição das leituras é a seguinte:
Missa da Noite: Is 9,1-6; Sl 95; Tt 2,11-14; Lc 2,1-14;
Missa da Aurora:
Is 62,11-12; Sl 96; Tt 3,4-7; Lc 2,15-20;
Missa do Dia: Is 52,7-10; Sl 97; Hb 1,1-6; Jo 1,1-18 (forma breve: Jo 1,1-5.9-14).
[16] Atualmente
além da Vigília Pascal, “mãe de todas as vigílias” e do Natal, outras seis
solenidades possuem uma Missa da vigília própria: Pentecostes, Epifania, Ascensão
do Senhor, Assunção de Maria, Natividade de São João Batista e São Pedro e São
Paulo. As Vigílias da Epifania e da Ascensão foram inseridas na 3ª edição típica do Missal Romano (2002), ainda sem tradução para o Brasil.
[17] O mesmo é
indicado pela Instrução Geral sobre a
Liturgia das Horas (n. 215) e pelo Diretório sobre piedade Popular e Liturgia (n. 110):
ALDAZÁBAL,
José. Instrução Geral sobre a Liturgia
das Horas - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 101.
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO
DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório
sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 102.
[18] Não confundir com o hino “Christe, redémptor ómnium, consérva tuos fámulos”, das Vésperas da Solenidade de Todos os Santos.
Referências:
ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu
significado segundo a renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019, pp. 87-93.
AUGÉ, Matias. Ano Litúrgico: É o próprio Cristo presente
na sua Igreja. São Paulo: Paulinas, 2019, pp. 203-210.
BERGAMINI,
Augusto. Cristo, festa da Igreja: O Ano Litúrgico.
São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 195-209.
MARTINDALE,
Cyril Charles. Christmas. in: The
Catholic Encyclopedia, vol. 3, 1908. Disponível em:
New Advent.
RIGHETTI, Mario.
Historia de la Liturgia, v. I:
Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1955,
pp. 687-703.
SCHUSTER,
Cardeal Alfredo Ildefonso. Liber
sacramentorum: Note storiche e liturgiche sul Messale Romano, v. II:
L’inaugurazione del Regno Messianico (La Sacra Liturgia dall’Avvento alla
Settuagesima). Torino-Roma: Marietti, 1933, pp. 152-168.
Imagens: Wikimedia Commons.
Postagem
publicada em 23 de dezembro de 2012. Revista e ampliada em 18 de
novembro de 2021.
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