A contribuição de Monsenhor Johannes Wagner à
Liturgia
28
de agosto de 2019
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do
Concílio Vaticano II”, vamos continuar a falar no programa de hoje sobre
Liturgia.
Nos diversos programas dedicados à Liturgia deste
nosso espaço, temos trazido a visão de diferentes liturgistas, como Klaus Gamber - cujos estudos aprofundados sobre as fontes litúrgicas representam
uma verdadeira riqueza - e Annibale Bugnini, um dos grandes expoentes para
a reforma litúrgica, já bem antes do Concílio e na sua efetiva aplicação. Nesta
quarta-feira, Padre Gerson Schmidt nos traz a contribuição do
liturgista alemão Monsenhor Johannes Wagner:
Em nosso resgate histórico na memória do Concílio
Vaticano II, trago aqui um comentário importante de um liturgista alemão e
professor e doutor na Universidade de Bonn que também exerceu influência na
época do concilio: Monsenhor Johannes Wagner [1]. Seu comentário à “Revista Concilium - Revista Internacional de
Liturgia” é de 1965, justamente no término do Concílio Vaticano II. Esse
teólogo liturgo esteve intimamente ligado na redação da Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium. Ele exerceu
diversas atividades científicas e pastorais, colaborando com diversas revistas
e aprofundamentos na liturgia.
O liturgista alemão Mons. Johannes Wagner disse
naquela ocasião que a história das reformas litúrgicas se deve pelo fato que o
culto da Igreja é uma ação não só de Deus, mas também dos homens. Sendo ação
dos homens, não pode estar simplesmente engessada e por isso pode estar sujeita
ao envelhecimento e a necessidade de renovação.
No embalo da renovação da Liturgia, também surgiu a
renovação geral da Igreja. Nesse comentário, há mais de 50 anos atrás, Johannes
diz que o movimento litúrgico pré-conciliar não foi inconsciente, mas
conscientemente “pastoral”. “Jamais se tratou a Liturgia só por causa da Liturgia,
nunca se tratou apenas da sua reforma racional, só por causa de sua compreensão
ou apenas da adoção de formas litúrgicas do tempo do passado só por causas de
sua antiguidade; nunca só por causa de beleza e da forma, ‘arte pela arte’.
Não”, disse Johannes [2].
O movimento litúrgico vinha de longa dada, tendo
raízes, como já dissemos, na proclamação de Pio X da Encíclica “Tra le
sollecituini”, em 22 de novembro de 1903, onde o Papa já falava da
participação ativa dos fiéis, não como meros expectadores de um belo teatro
artístico e bem orquestrado. Mais cedo ainda, três gerações antes, o Abade
Beneditino Guéranger e sua fundação Solesmes (em 1833) já apontava para
mudanças e renovações litúrgicas. Todos esses movimentos pré-conciliares tinham
em vista a pastoral. Mas, contudo, há algo ainda mais profundo, que está antes
da pastoral como uma atividade e que significa o fundamento dela.
A nova base da pastoral, afirmou Johannes Wagner,
torna-se ação devido a uma nova consciência da Igreja, que desperta. E na
concepção de Romano Guardini: “A Igreja acorda nas almas”. Alma aqui entendida
no sentido amplo de “anima”, de
animação, renovação, de vida animada pelo espírito novo. Ou na expressão de
Karl Rahner: “na celebração cultural a Igreja torna-se acontecimento”.
“O povo de Deus toma consciência de si próprio no
culto. A celebração cultual é a assembleia santa do povo de Deus. Nesta
assembleia ela se torna visível, no todo e nas diferentes partes que, de um
modo inconfundível e impenetrável, sendo hierarquicamente diferentes e ao mesmo
tempo ordenadas umas às outras, operando cada uma a seu modo, só pela sua ação
conjunta representam o todo”, disse Johannes [3].
É na celebração litúrgica que se realiza e
concretiza o que chamamos de “ecclesia”,
ou seja, a assembleia dos chamados, dos convocados pela Palavra. E quem
convoca? É Ele quem convoca, porque está no meio de nós, assembleia santa dos
chamados. “Ele dá-se aos seus e os seus respondem com ação de Graças e o
louvor”.
Essa é uma nova consciência, não só litúrgica, mas
de Igreja. Todos somos Igreja e convocados pela Palavra a celebrar e
evangelizar. Não foi por nada que Pio XII chamou o movimento litúrgico como
passagem do Espírito Santo pela sua Igreja, culminando com a proclamação da
Constituição Sacrosanctum Concilium.
Por isso, nessa Constituição há declarações e afirmações teológicas e
instruções gerais de natureza eclesial importantes e fundamentais.
[1] Nasceu
em 05 de fevereiro de 1908, em Brohl, no Reno (Alemanha). Ordenado em 1932, na diocese
de Trier. Doutorou-se em Teologia na Faculdade Católica da Universidade de Bonn
com a tese: Die Christiche
Eucharistiefeiern im Kleinen Kreis (Celebrações eucarísticas em pequenos
círculos - A palavra Kreis em alemão pode ser traduzida também
como cenáculo, seio familiar). Foi diretor do Instituto Litúrgico para a
Alemanha, estabelecido em Trier. Participou ativamente do Concílio Vaticano II.
[2] Wagner, Monsenhor Johannes. Revista Concilium -
Revista Internacional de Liturgia, n. 02, fevereiro de 1965, introdução, p.
3-5.
[3] ibid.,
p. 4.
Fonte: Vatican News
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