Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 13 de novembro de 2019
Atos dos Apóstolos (16)
Caros
irmãos e irmãs, bom dia !
Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo, como incansável
evangelizador como ele é, após a estadia em Atenas, continua a corrida
evangélica no mundo. Nova etapa de sua jornada missionária é Corinto, capital
da província romana da Acaia, uma cidade comercial e cosmopolita, graças à
presença de dois portos importantes.
Como lemos no capítulo 18 dos Atos,
Paulo encontra hospitalidade com um casal, Áquila e Priscila (ou Prisca),
forçados a se mudar de Roma para Corinto depois que o imperador Cláudio ordenou
a expulsão dos judeus (cf. At 18,2).
Eu gostaria de fazer um parêntese. O povo hebraico sofreu muito na história.
Ele foi expulso, perseguido... E, no século passado, vimos tantas brutalidades feitas
com o povo hebreu e todos estávamos convencidos de que isso havia terminado.
Hoje, porém, o hábito de perseguir hebreus começa a renascer aqui e ali. Irmãos
e irmãs, isso não é humano nem cristão. Os hebreus são nossos irmãos! E não
devem ser perseguidos. Entendido? Esses cônjuges provam ter um coração cheio de
fé em Deus e generoso com os outros, capaz de abrir espaço para aqueles que,
como eles, experimentam a condição de estrangeiro. Essa sensibilidade deles os
leva a descentralizar-se para praticar a arte cristã da hospitalidade (Rm 12,13;
Hb 13,2) e abrir as portas de sua casa para receber o apóstolo Paulo. Assim,
eles acolhem não apenas o evangelizador, mas também o anúncio que ele traz
consigo: o Evangelho de Cristo, que é “o poder de Deus para a salvação de quem
crê” (Rm 1,16). E a partir desse momento, seu lar é imbuído da fragrância da
Palavra “viva” (Hb 4,12) que vivifica os corações.
Áquila e Priscila também compartilham a atividade
profissional com Paulo, que é a construção de tendas. Paulo, de fato, valorizou
muito o trabalho manual e o considerou um espaço privilegiado de testemunho
cristão (cf. 1Cor 4,12), bem como uma maneira justa de manter-se sem ser um
fardo para os outros (cf. 1Ts 2,9; 2Ts 3,8) para a comunidade;
A casa de Áquila e Priscila em Corinto abre suas portas não
apenas para o Apóstolo, mas também para os irmãos e irmãs em Cristo. De fato,
Paulo pode falar da “comunidade que se reúne em sua casa” (1Cor 16,19), que se
torna uma “casa da Igreja”, uma “domus ecclesiae”, um lugar
para ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia. Ainda hoje em alguns
países onde não há liberdade religiosa nem liberdade para os cristãos, os
cristãos se reúnem em uma casa, um pouco escondidos, para rezar e celebrar a
Eucaristia. Ainda hoje existem essas casas, essas famílias que se tornam um
templo para a Eucaristia.
Depois de um ano e meio de permanência em Corinto, Paulo
deixa a cidade com Áquila e Priscila, que ficam em Éfeso. Ali também o lar
deles se torna um local de catequese (cf. At 18,26). Finalmente, os dois
cônjuges retornarão a Roma e receberão um esplêndido elogio que o Apóstolo
insere na Carta aos Romanos. Seu coração estava agradecido, e assim Paulo
escreveu sobre esses dois cônjuges na Carta aos Romanos. Ouçam: “Saudai Prisca
e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus. Para salvar minha vida, eles
arriscaram suas cabeças, e eu não sou apenas grato a eles, mas a todas as
igrejas do mundo pagão” (16,4). Quantas famílias em tempos de perseguição
arriscam suas cabeças para manter escondidos os perseguidos! Este é o primeiro
exemplo: hospitalidade familiar, mesmo em tempos difíceis.
Entre os numerosos colaboradores de Paulo, Áquila e Priscila
emergem como modelos de uma vida conjugal responsavelmente comprometida com o
serviço de toda a comunidade cristã e lembram-nos que, graças à fé e ao
compromisso com a evangelização de tantos leigos como eles, o cristianismo
chegou até nós. De fato, «a fim de criar raízes na terra do povo,
desenvolver-se fortemente, era necessário o comprometimento dessas famílias.
Mas pense que desde o início o cristianismo foi pregado pelos leigos. Também
vós sois responsáveis, pelo vosso Batismo, a levar adiante a fé. Foi o
compromisso de muitas famílias, desses casais, dessas comunidades cristãs, de
fiéis leigos que ofereceram o “húmus” ao crescimento da fé» (Bento XVI,
Catequese do dia 07 de fevereiro de 2007). Essa frase do Papa Bento XVI é
linda: os leigos dão húmus ao crescimento da fé.
Peçamos ao Pai, que escolheu fazer dos cônjuges sua
“verdadeira escultura vivente” (Exort. Ap. Amoris
Laetitia, 11) - creio que aqui estão os recém-casados: ouçam a
vossa vocação, vocês devem ser a verdadeira escultura vivente - que derrame o
seu Espírito sobre todos os casais cristãos, para que, seguindo o exemplo de
Áquila e Priscila, possam abrir as portas de seus corações a Cristo e a seus
irmãos e transformar seus lares em igrejas domésticas. Bela palavra: uma casa é
uma igreja doméstica, onde viver a comunhão e oferecer o culto da vida vivida
com fé, esperança e caridade. Devemos rezar a esses dois santos, Áquila e
Prisca, para que ensinem a nossas famílias a serem como eles: uma igreja
doméstica onde há húmus, para que a fé cresça.
Fonte: Canção Nova
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