O lugar e postura da presidência na Liturgia
25 de setembro de 2019
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos continuar a falar de Liturgia, trazendo no programa de hoje
o tema “O lugar e postura da presidência na Liturgia”.
“A Liturgia é viva (...). Sem a presença real do mistério de
Cristo, não há qualquer vitalidade litúrgica (...). Sem o coração pulsante de
Cristo não existe qualquer ação litúrgica”, disse o Papa Francisco no discurso
aos participantes da 68ª Semana Litúrgica Nacional, ocasião em que reiterou,
“com certeza e com autoridade magistral que a reforma litúrgica é
irreversível”.
A Liturgia, ademais, “é vida para todo o povo da Igreja”. E
“a Igreja está deveras viva se, formando um só ser vivente com Cristo, é
portadora de vida, é materna, é missionária, sai ao encontro do próximo,
solicita a servir sem perseguir poderes mundanos que a tornam estéril”.
Nas orientações e normas litúrgicas, está prevista a postura
e a atuação da presidência na celebração, como nos explica o padre Gerson
Schmidt:
Podemos cair em dois extremos na questão da reforma
litúrgica: um demasiado legalismo, que é o apego às normas, um rigorismo
fechado não dando lugar a uma criatividade sadia prevista pelas normas
litúrgicas; ou então no liberacionismo, que desconhece ou passa por cima das
normas litúrgicas, desrespeita o essencial da celebração, confunde criatividade
com novidade, invencionices e caprichos e desventuras pessoais.
Na renovação litúrgica, na boa intenção de tornar a Missa mais
participativa e envolvente, muitas vezes exageramos na dose da criatividade e
tornamos a Liturgia um show à parte, e, ao invés de celebrar, empanturramos a
Liturgia de aspectos atrativos demasiados. Outras vezes, quem preside se torna
um “showman”, exaltando o glamour e
um exibicionismo ridículo e desconexo do verdadeiro sentido da Liturgia.
Quantas vezes vimos, sobretudo nas redes sociais, o sacerdote ficar dançando de
qualquer jeito no altar, desfocando o mistério eucarístico para fazer uma
apresentação e show à parte. A criatividade tem hora e lugar. Pensamos que
trazer o ostensório templo a dentro, sustentado por um drone, como aconteceu
recentemente no Brasil, é no mínimo falta de bom senso e uma grave falta de
postura litúrgica.
Não condenamos aqui os padres cantores. Mas se o sacerdote,
na celebração, é mais artista do que celebrante, algo está errado e
descompassado. E isso serve também para o grupo de cantores e animadores.
Precisamos aqui rever o verdadeiro lugar da presidência e de cada ministério,
quais as possibilidades e quais os limites para que atua de maneira a não
distorcer sua função litúrgica.
Na expressão de São João Crisóstomo, somos um corpo
comunitário. Um corpo é coordenado por uma cabeça. A Igreja sabe que sua cabeça
é Jesus Cristo. Ele é o único dirigente, e o Espírito Santo é o único animador,
a alma da comunidade. Mas precisamos ter entre nós um sinal visível, um
sacramento de Cristo-cabeça. Na Missa é sempre o Bispo ou o padre.
Nas celebrações ou culto dominical é alguém da própria
comunidade, devidamente preparado para desempenhar esta função. O presidente da
celebração não se coloca acima da comunidade, nem faz tudo sozinho. Preocupa-se
em fazer com que toda a comunidade se torne um povo celebrante, ativo e
participante, um povo sacerdotal.
Embora seja o celebrante principal, não celebra sozinho, não
celebra para o povo ou em favor do povo. Quem celebra é todo o povo. O
presidente deve, pois, celebrar com o povo, sabendo-se parte dele. Deve ouvir a
palavra, cantar, rezar, comprometer-se com Jesus Cristo, junto com todo o povo
e ajudá-lo a fazer o mesmo.
Nas orientações e normas litúrgicas está prevista a postura
e a atuação da presidência na celebração. Prevê-se até mesmo o lugar da
presidência, como aponta a Instrução Inter
oecumenici: “Em relação ao plano da igreja, a cadeira para o celebrante e
os ministros deve ocupar um lugar que seja claramente visível a todos os fiéis
e que dê a entender que o celebrante preside a inteira comunidade. A cadeira
deve ficar atrás do altar e qualquer semelhança a um trono, prerrogativa de um
bispo, deve ser evitada” [1]. Muitas coisas práticas poderíamos falar aqui
sobre a presidência ou outras funções litúrgicas. Não é o lugar, nem o tempo
nos permite para esses pormenores.
Cabe aqui lembrar os princípios contidos na Sacrosanctum Concilium, que afirma no
número 28: “Nas celebrações litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel,
exercendo o seu ofício, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou
pelas normas litúrgicas lhe compete” (SC, n. 28).
Papa Francisco em sua Cátedra de Bispo de Roma |
[1] Instrução Inter
oecumenici, Consilium ad Exsequandam
Constitutionem de Sacra Liturgia para a reta aplicação da Constituição
sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, 26/09/1964, n. 92.
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário