sábado, 16 de novembro de 2019

Homilia: XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Gregório Magno
Sermão sobre os Evangelhos
Todos os escolhidos, pelo próprio fato de serem membros da soberana cabeça, devem imitar-lhe também em sua Paixão

Nosso Senhor e Redentor anuncia as calamidades que precederão ao fim do mundo para que, quando cheguem, nos perturbem menos, pelo próprio fato de que já antecipadamente  nos são conhecidos, pois os golpes que se observam vir ferem menos, e nos tornam mais toleráveis às calamidades do mundo quando estamos protegidos contra eles com o escudo da previsão...
Mas, como ouvindo estas coisas tão terríveis podiam perturbar-se os corações fracos, por isso também se agrega o consolo, acrescentando em seguida: Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa, porque eu vos darei palavras tão acertadas que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. Como se claramente dissesse aos seus membros fracos: “Não vos espanteis, não temais; vocês vão para a luta, mas sou Eu quem combato; vocês proferem palavras, mas sou Eu que falo”.
Prossegue: Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. Nós sofremos menos pelos males causados por estranhos, porém nos são mais cruéis os tormentos que sofremos da parte daqueles em cujo amor confiávamos; porque, além do tormento do corpo, sofremos o amor perdido; eis porque de Judas, seu traidor, diz o Senhor pelo salmista: Na verdade que, se o ultraje viesse de um inimigo meu, teria sofrido com paciência; e se a agressão partisse daqueles que me odeiam, poderia ter-me salvo deles; mas tu, meu companheiro, meu guia e meu amigo, com quem me entretinha em doces colóquios, que andávamos juntos na casa de Deus. E novamente: Até o próprio amigo em quem eu confiava, que partilhava do meu pão, levantou contra mim o calcanhar. Como se de seu traidor dissesse claramente: “Sua traição me é tanto mais dolorosa quanto mais íntimo me parecia ser aquele de quem a sofri”.
Portanto, todos os escolhidos, pelo próprio fato de serem membros da soberana cabeça, devem imitar-lhe também em sua Paixão, de forma que sofrem ter por inimigos em sua morte aqueles em quem confiavam, e se acrescente neles a recompensa de seu padecimento tanto quanto sua virtude ganha com a perda do amor alheio.
Mas como são coisas duras estas que se predizem da aflição da morte, em seguida se acrescenta o consolo da alegria da Ressurreição, dizendo: Nem um cabelo de vossa cabeça se perderá. Sabemos, irmãos, que, quando se corta a carne, dói, e que, quando se corta o cabelo, não dói. Por conseguinte, quando diz aos seus mártires: Nem um cabelo de vossa cabeça se perderá, é como dizer-lhes claramente: “Por que temeis que se perca aquilo que, cortando, dói, quando não se perderá o que, cortado, não dói?”.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 755-756. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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