Santo Irineu de Lião
Tratado contra as heresias
“Eu
sou a ressurreição e a vida”
Nosso Senhor e
Mestre, na resposta que deu aos saduceus, que negam a ressurreição e que ainda
afrontam a Deus violando a lei, confirma a realidade da ressurreição e depõe em
favor de Deus, dizendo-lhes: Estais muito
equivocados por não compreender as Escrituras nem o poder de Deus. E a respeito
da ressurreição dos mortos - diz -,
não lestes o que Deus disse: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus
de Jacó”? E acrescentou: Não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para
Ele estão todos vivos. Com estas palavras manifestou que Aquele que falou com
Moisés na sarça e declarou ser o Deus dos pais é o Deus dos vivos.
E quem é o Deus
dos vivos a não ser o único Deus, acima do qual não existe outro Deus? É o
mesmo Deus anunciado pelo profeta Daniel, quando ao dizer-lhe Ciro, o persa: Por que não adoras Bel?, respondeu-lhe: Eu adoro o Senhor, meu Deus, que é o Deus
vivo. Assim o Deus vivo adorado pelos profetas é o Deus dos vivos, e o é
também a sua Palavra, que falou a Moisés, que refutou os saduceus, que nos
concedeu o dom da ressurreição, mostrando aos que estavam cegos estas duas
verdades fundamentais: a ressurreição e Deus. Se Deus não é Deus de mortos, mas
de vivos, e, contudo, é chamado Deus dos pais, que já morreram, é incontestável
que estão vivos para Deus e não pereceram: são filhos de Deus, porque
participam da ressurreição.
E a ressurreição
é nosso Senhor em pessoa, como Ele mesmo afirmou: Eu sou a ressurreição e a vida. E os pais são seus filhos; já o
disse o profeta: em lugar de teus pais,
são teus filhos. Portanto, o próprio Cristo é juntamente com o Pai o Deus
dos vivos, que falou a Moisés e se manifestou aos pais.
Isto é o que,
ensinando, dizia aos judeus: Abraão,
vosso pai, pulava de alegria pensando em ver meu dia: o viu e se encheu de
alegria. Como assim? Abraão creu em
Deus e lhe foi creditado como justiça. Creu, em primeiro lugar, que Ele é o
Criador do céu e da terra, o único Deus, e em segundo lugar, que multiplicaria
sua descendência como as estrelas do céu. É o mesmo vocabulário de Paulo: Como luzeiros do mundo. Com razão, pois,
abandonando todos os seus parentes terrenos, seguia o Verbo de Deus,
peregrinando com o Verbo, para morar com o Verbo. Com razão os Apóstolos,
descendentes de Abraão, deixando a barca e o pai, seguiam ao Verbo de Deus. Com
razão também nós, abraçando a mesma fé que Abraão, carregando a cruz - como
Isaac com a lenha - o seguimos.
Na verdade, em
Abraão o homem aprendeu e se acostumou a seguir o Verbo de Deus. De fato,
Abraão, favorecendo, em conformidade com a sua fé, o mandato do Verbo de Deus,
consentiu oferecer em sacrifício a Deus seu unigênito e amado filho, para que
também Deus concordasse no sacrifício de seu Filho Unigênito em favor de toda a
sua posteridade, ou seja, por nossa redenção. Por isso Abraão, profeta como
era, vendo em espírito o dia da vinda do Senhor e a economia da Paixão, pela
qual ele mesmo e todos os que cressem como ele começariam a inaugurar a
salvação, encheu-se de intensa alegria.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
750-751. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário