São Gregório Nazianzeno
Discursos Teológicos
“A
revelação progressiva da Trindade”
A coisa se deu
da seguinte maneira: o Antigo Testamento claramente proclama ao Pai e
obscuramente o Filho; o Novo revelou ao Filho e insinuou a divindade do
Espírito, onde ele manifestou-se mais explicitamente. Já que não seria bem
acertado, antes de confessar a divindade do Pai, proclamar abertamente ao
Filho; nem pregar a divindade do Espírito Santo antes de admitir a do Filho; pois,
se posso atrever-me a me expressar assim, nos sentiríamos sobrecarregados: para
não ser que, indigestos com alimentos acima de nossas forças, ou deslumbrados
os olhos com o fulgor dos raios solares, corrêssemos o perigo de cair exaustos
sob o seu peso.
Passo a passo,
por paulatinas aproximações ou subidas, como Davi as chamou, e avançando e
progredindo de glória em glória, bilha a Trindade com luz cada vez mais
resplandecente. Por este motivo, ao meu parecer, progressivamente se aproxima
dos discípulos: ao princípio do Evangelho se comunica na medida de sua
capacidade receptiva; depois de sua Paixão e de sua partida, ao soprar
confere-lhes a plenitude do poder, e por fim manifesta-se em línguas de fogo.
Progressivamente o próprio Jesus o revelou, como o entenderás se te
familiarizas cuidadosamente com a sua palavra: Rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, o Espírito da
Verdade, para que não parecesse que este é um adversário de Deus, ou que
falava recebendo de outro a potestade de fazê-lo. Depois acrescentou que o enviará em seu nome. Nesta segunda
oração, repetiu “enviará” e omitiu “rogarei”. Depois acrescentou “enviarei”,
para mostrar sua própria autoridade. E finalmente “virá”, aonde indica o poder
do Espírito.
Deste modo
poderás descobrir como as iluminações são paulatinas, assim como a ordem da
teologia, que também nós queremos observar: nem revelando tudo de uma vez, nem
o ocultando até o fim. O que não se faz com sutileza não é de Deus. O primeiro
pode ofender aos estranhos; o segundo, desorientar aos nossos. Assim como
alguns outros (exemplos) têm vindo à mente, eu também o recolho como fruto do
meu próprio pensamento, e ainda acrescentarei algo ao que já tenho dito.
Ainda que o
Salvador tenha transmitido abundantes ensinamentos aos discípulos, contudo,
dizia que estes ainda não podiam suportar tudo, pelas mesmas causas acima
assinaladas; e por isso as ocultava deles. Mas também disse que, uma vez vindo
o Espírito Santo, ele nos ensinaria todas as coisas. Por isso penso que ele (o
Espírito) é um deles (da Trindade), e que pelo mesmo motivo a divindade do
Espírito foi explicada ao final, ou seja, quando já tinham acolhido o
conhecimento do Senhor de maneira bem delimitada e determinada, e depois que o
Salvador tinha regressado (ao Pai), de modo que com tal maravilha não se
perdesse a fé nele. Pois que coisa maior ele podia prometer, ou o Espírito
ensinar? Porque se podemos pensar algo grande e digno da majestade de Deus, é o
que ele nos prometeu e ensinou.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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