sábado, 22 de junho de 2019

Homilia: XII Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Cirilo de Alexandria
Sermão 39 sobre o Evangelho de Lucas
Pedro faz uma precisa profissão de fé em Cristo

Quando Jesus estava rezando sozinho, na presença de seus discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem as pessoas que eu sou? Assim, o Salvador e Senhor de todos se apresentava a si mesmo como modelo de uma vida digna aos seus santos discípulos quando orava sozinho, em sua presença. Porém, talvez houvesse algo que preocupava aos seus discípulos e que provocava neles pensamentos não totalmente dignos. De fato, hoje viam ao humano orar e ao qual na véspera viram ao divino realizar prodígios. Em consequência, não carecia de fundamento que se fizessem esta reflexão: “Que coisa estranha! Temos de considerá-lo como Deus ou como homem?”
Com a finalidade de pôr fim ao tumulto de semelhantes sofismas e tranquilizar sua fé vacilante, Jesus lhes disputa uma questão, conhecendo perfeitamente de antemão o que dele diziam aqueles que não pertenciam à comunidade judaica e até mesmo o que dele pensavam os israelitas. Realmente queria afastá-los da opinião da multidão e buscava a maneira de consolidar neles uma fé autêntica. Ele lhes perguntou: Quem dizem as pessoas que eu sou?
Mais uma vez é Pedro que se adianta aos demais, constitui-se em porta-voz do Colégio Apostólico, pronuncia palavras cheias de amor a Deus e faz uma profissão de fé precisa e irrepreensível nele, dizendo: O Messias de Deus. O discípulo está alerta, e o pregador das verdades sagradas mostra-se extremamente prudente. De fato, não se limita a dizer simplesmente que é um Cristo de Deus, mas o Cristo, pois “cristos” houve muitos, assim chamados em razão da unção recebida de Deus por diversos títulos: alguns foram ungidos como reis, outros como profetas, outros finalmente, como nós, tendo alcançado a salvação por este Cristo, Salvador de todos, e tendo recebido a unção do Espírito Santo, recebemos a denominação de “cristãos”. Portanto, certamente são muitos os “cristos” em vistas de um determinado ofício, mas ele é única e exclusivamente o Cristo de Deus Pai.
Uma vez que o discípulo fez a profissão de fé, proibiu-lhes terminantemente de dizê-lo para ninguém. E acrescentou: O Filho do Homem deve padecer muito, ser reprovado, executado e ressuscitar ao terceiro dia. Porém, não era essa mais uma razão para que os discípulos o pregassem por todos os lugares? Na verdade, esta era a missão daqueles a quem ele consagrou para o apostolado. Mas, como diz a Escritura: Cada assunto tem o seu momento. Convinha que a sua pregação fosse precedida da plena realização daqueles mistérios que ainda não se tinham cumprido. São eles: a crucificação, a paixão, a morte corporal, a ressurreição dentre os mortos, este grande e verdadeiramente glorioso milagre, pelo qual se comprova que o Emanuel é verdadeiro Deus e Filho natural de Deus Pai.
Na realidade, a total destruição da morte, a supressão da corrupção, o espólio do inferno, a subversão da tirania do diabo, o cancelamento do pecado do mundo, a abertura aos habitantes da terra das portas do céu e a união do céu e da terra: todas estas coisas são, repito, a prova digna de fé de que o Emanuel é Deus verdadeiro. Por isso lhes ordena cobrir temporalmente o mistério com o respeitoso véu do silêncio até que todo o processo da economia divina tenha chegado à sua natural culminação. Então, a saber: uma vez ressuscitado dentre os mortos, deu ordem de revelar o mistério ao mundo inteiro, propondo a todos a justificação pela fé e a purificação mediante o santo batismo. Ele disse verdadeiramente: Foi-me concedido todo poder no céu e na terra. Ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 661-663. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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