São Cirilo de Alexandria
Sermão 39 sobre o Evangelho de Lucas
“Pedro
faz uma precisa profissão de fé em Cristo”
Quando Jesus estava rezando sozinho, na
presença de seus discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem as pessoas que eu sou?
Assim, o Salvador e Senhor de todos se apresentava a si mesmo como modelo de
uma vida digna aos seus santos discípulos quando orava sozinho, em sua
presença. Porém, talvez houvesse algo que preocupava aos seus discípulos e que
provocava neles pensamentos não totalmente dignos. De fato, hoje viam ao humano
orar e ao qual na véspera viram ao divino realizar prodígios. Em consequência,
não carecia de fundamento que se fizessem esta reflexão: “Que coisa estranha!
Temos de considerá-lo como Deus ou como homem?”
Com a finalidade
de pôr fim ao tumulto de semelhantes sofismas e tranquilizar sua fé vacilante,
Jesus lhes disputa uma questão, conhecendo perfeitamente de antemão o que dele
diziam aqueles que não pertenciam à comunidade judaica e até mesmo o que dele
pensavam os israelitas. Realmente queria afastá-los da opinião da multidão e
buscava a maneira de consolidar neles uma fé autêntica. Ele lhes perguntou: Quem dizem as pessoas que eu sou?
Mais uma vez é
Pedro que se adianta aos demais, constitui-se em porta-voz do Colégio
Apostólico, pronuncia palavras cheias de amor a Deus e faz uma profissão de fé
precisa e irrepreensível nele, dizendo: O
Messias de Deus. O discípulo está alerta, e o pregador das verdades
sagradas mostra-se extremamente prudente. De fato, não se limita a dizer
simplesmente que é um Cristo de Deus, mas o Cristo, pois “cristos” houve
muitos, assim chamados em razão da unção recebida de Deus por diversos títulos:
alguns foram ungidos como reis, outros como profetas, outros finalmente, como
nós, tendo alcançado a salvação por este Cristo, Salvador de todos, e tendo
recebido a unção do Espírito Santo, recebemos a denominação de “cristãos”.
Portanto, certamente são muitos os “cristos” em vistas de um determinado
ofício, mas ele é única e exclusivamente o Cristo de Deus Pai.
Uma vez que o
discípulo fez a profissão de fé, proibiu-lhes terminantemente de dizê-lo para
ninguém. E acrescentou: O Filho do Homem
deve padecer muito, ser reprovado, executado e ressuscitar ao terceiro dia.
Porém, não era essa mais uma razão para que os discípulos o pregassem por todos
os lugares? Na verdade, esta era a missão daqueles a quem ele consagrou para o
apostolado. Mas, como diz a Escritura: Cada
assunto tem o seu momento. Convinha que a sua pregação fosse precedida da
plena realização daqueles mistérios que ainda não se tinham cumprido. São eles:
a crucificação, a paixão, a morte corporal, a ressurreição dentre os mortos,
este grande e verdadeiramente glorioso milagre, pelo qual se comprova que o Emanuel
é verdadeiro Deus e Filho natural de Deus Pai.
Na realidade, a
total destruição da morte, a supressão da corrupção, o espólio do inferno, a
subversão da tirania do diabo, o cancelamento do pecado do mundo, a abertura
aos habitantes da terra das portas do céu e a união do céu e da terra: todas
estas coisas são, repito, a prova digna de fé de que o Emanuel é Deus
verdadeiro. Por isso lhes ordena cobrir temporalmente o mistério com o
respeitoso véu do silêncio até que todo o processo da economia divina tenha
chegado à sua natural culminação. Então, a saber: uma vez ressuscitado dentre
os mortos, deu ordem de revelar o mistério ao mundo inteiro, propondo a todos a
justificação pela fé e a purificação mediante o santo batismo. Ele disse
verdadeiramente: Foi-me concedido todo
poder no céu e na terra. Ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a observar tudo o
que vos tenho ordenado. Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 661-663. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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