Terceiro e último dos textos publicados pelo Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice em fevereiro de 2012 sobre a Liturgia como obra da Trindade.
Aqui, à luz dos nn. 1091-1109 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), reflete-se sobre a obra do Espírito Santo na Liturgia:
Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
A Liturgia, obra da Trindade: Deus Espírito Santo
A Liturgia,
obra pública realizada em nome do povo, é a nossa participação na oração de
Cristo ao Pai no Espírito Santo. A sua celebração mergulha-nos na vida divina
de Deus, como expressado pelo Prefácio Comum IV: “Ainda que nossos louvores
não vos sejam necessários, Vós concedeis o dom de vos louvar. Eles nada
acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós, por Jesus Cristo, vosso
Filho e Senhor nosso”. Consequentemente, a Liturgia existia antes que nós
tivéssemos participado dela, porque foi iniciada na Santíssima Trindade, e
Cristo, que na sua vida terrena nos mostrou o exemplo de como adorar o Pai,
concedeu àqueles que creem, os meios para deixar transformar as suas vidas a
partir da celebração da Liturgia, que nos comunica a vida da Trindade.
A obra do
Espírito Santo na Liturgia, santificando-nos, nos sela na relação de amor da Trindade
que é o coração da Igreja. É o Espírito Santo que inspira a fé e provoca a
nossa cooperação. É esta cooperação genuína, indicativa do nosso desejo de
Deus, que faz que a liturgia se torne uma obra comum da Trindade e da Igreja (cf. CIC, nn. 1091-1092).
Antes que
a missão salvífica de Cristo no mundo pudesse começar, o Espírito Santo tinha
colocado os fundamentos para receber a Cristo, cumprindo assim as promessas da
Antiga Aliança, cuja narração das maravilhas de Deus, forma, nada mais que a
espinha dorsal da nossa Liturgia, como havia feito pela Liturgia da casa de
Israel. Desde o Antigo Testamento, com a sua vasta coleção de literatura,
juntamente com a beleza dos Salmos, onde estaria a celebração do Advento da Igreja
sem o profeta Isaías? E a Liturgia da tarde da Quinta-Feira Santa, sem a
proclamação do ritual da Páscoa em Êxodo
12? Além disso, como a Vigília Pascal evidenciaria, da forma tão extraordinária
como o faz, a harmonia do Antigo e do Novo Testamento sem a narração da travessia
do Mar Vermelho, com o seu cântico, em Êxodo
14-15? (cf. CIC, nn. 1093-1095) As grandes festas do Ano Litúrgico
revelam a relação intrínseca entre as Liturgias hebraica e cristã como se pode
ver na celebração da Páscoa, “Páscoa da história, dirigida para o futuro, junto
aos hebreus; entre os cristãos, Páscoa realizada na Morte e na Ressurreição de
Cristo, embora ainda aguardando a consumação final” (CIC, n. 1096).
Enquanto,
na Liturgia da Nova Aliança, a assembleia deve ser preparada para o seu
encontro com Cristo e a sua Igreja, esta preparação, em primeiro lugar, não é
uma recepção intelectual de verdades teológicas, mas um assunto interior do
coração, onde melhor se expressa a conversão e a convicção a uma vida em união
com a vontade do Pai é reconhecida mais vivamente. Essa disponibilidade ou
docilidade ao Espírito Santo é o pré-requisito para as graças recebidas durante
a celebração em si e para os seus sucessivos afetos e efeitos (cf. CIC, nn. 1097-1098).
A ligação
entre o Espírito e a Igreja manifesta Cristo e a sua obra salvadora na Liturgia.
Especialmente na Missa, a Liturgia é “Memorial do mistério da salvação”,
enquanto o Espírito Santo é a “memória viva da Igreja”, porque Ele recorda o
mistério de Cristo. A primeira maneira pela qual o Espírito Santo lembra o
sentido do evento da salvação é dando vida à Palavra de Deus proclamada na Liturgia,
para que possa se tornar um projeto de vida para aqueles que a ouvem. A
Constituição Sacrosanctum Concilium explica que a vitalidade da Sagrada
Escritura coloca tanto os ministros quanto os fiéis em uma relação viva com
Cristo (cf. CIC, nn. 1099-1101):
“É enorme
a importância da Sagrada Escritura na celebração da Liturgia. Porque é a ela
que se vão buscar as leituras que se explicam na homilia e os salmos para
cantar; com o seu espírito e da sua inspiração nasceram as preces, as orações e
os hinos litúrgicos; dela tiram a sua capacidade de significação as ações e os
sinais” (Sacrosanctum Concilium, 24).
A
assembleia litúrgica, portanto, não é tanto uma coleção de diferentes
temperamentos, mas uma comunhão na fé. A proclamação litúrgica pede uma “resposta
da fé”, indicativa de “adesão e empenho” e fortalecida pelo Espírito Santo, que
infunde nos membros da assembleia “a memória das obras maravilhosas de Deus” no
desenvolvimento da anamnese. Em
seguida, a ação de graças a Deus por tudo o que fez flui naturalmente ao louvor
a Deus ou doxologia (cf. CIC, nn. 1102-1103).
Nas
celebrações do Mistério Pascal, este não se repete. São as celebrações que se
repetem. Em cada celebração, é o derramamento do Espírito Santo que torna presente
este mistério específico. A epiclese
é a invocação do Espírito Santo e, recebendo o Corpo e Sangue de Cristo na
Santíssima Eucaristia com disposições apropriadas, os próprios fiéis também se
tornam uma oferta vida para Deus, ansiosos na esperança da sua herança celeste
e testemunhando a vida do Espírito Santo, além da própria celebração litúrgica.
Naquele momento “o fruto do Espírito na Liturgia é inseparavelmente comunhão
com a Santíssima Trindade e comunhão fraterna” (cf. CIC, nn.
1104-1109).
Como o Abade
Alcuíno Deutsch de Collegeville escreveu em 1926 em seu Prefácio para a
tradução inglesa feita por Virgil Michel de La pieté de l'Église de
Lambert Beauduin, “a Liturgia é a expressão, num modo solene e público, das
crenças, amores, aspirações, esperanças e temores dos fiéis com relação a Deus.
(...) é o produto de uma experiência emocionante, que pulsa com a vida e o
calor do fogo do Espírito Santo, de cujas palavras está cheia, e sob cuja
inspiração nasceu. Como nada mais tem o poder de abalar a alma, de vivificá-la,
e dar-lhe interesse pelas coisas de Deus”.
Deus Espírito Santo (Vitral da Catedral de Quimper, França) |
Fonte: Santa Sé.
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