sexta-feira, 16 de março de 2012

A Liturgia, obra da Trindade: Deus Espírito Santo

Terceiro e último dos textos publicados pelo Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice em fevereiro de 2012 sobre a Liturgia como obra da Trindade.

Aqui, à luz dos nn. 1091-1109 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), reflete-se sobre a obra do Espírito Santo na Liturgia:

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
A Liturgia, obra da Trindade: Deus Espírito Santo

A Liturgia, obra pública realizada em nome do povo, é a nossa participação na oração de Cristo ao Pai no Espírito Santo. A sua celebração mergulha-nos na vida divina de Deus, como expressado pelo Prefácio Comum IV: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, Vós concedeis o dom de vos louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós, por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso”. Consequentemente, a Liturgia existia antes que nós tivéssemos participado dela, porque foi iniciada na Santíssima Trindade, e Cristo, que na sua vida terrena nos mostrou o exemplo de como adorar o Pai, concedeu àqueles que creem, os meios para deixar transformar as suas vidas a partir da celebração da Liturgia, que nos comunica a vida da Trindade.

A obra do Espírito Santo na Liturgia, santificando-nos, nos sela na relação de amor da Trindade que é o coração da Igreja. É o Espírito Santo que inspira a fé e provoca a nossa cooperação. É esta cooperação genuína, indicativa do nosso desejo de Deus, que faz que a liturgia se torne uma obra comum da Trindade e da Igreja (cf. CIC, nn. 1091-1092).

Antes que a missão salvífica de Cristo no mundo pudesse começar, o Espírito Santo tinha colocado os fundamentos para receber a Cristo, cumprindo assim as promessas da Antiga Aliança, cuja narração das maravilhas de Deus, forma, nada mais que a espinha dorsal da nossa Liturgia, como havia feito pela Liturgia da casa de Israel. Desde o Antigo Testamento, com a sua vasta coleção de literatura, juntamente com a beleza dos Salmos, onde estaria a celebração do Advento da Igreja sem o profeta Isaías? E a Liturgia da tarde da Quinta-Feira Santa, sem a proclamação do ritual da Páscoa em Êxodo 12? Além disso, como a Vigília Pascal evidenciaria, da forma tão extraordinária como o faz, a harmonia do Antigo e do Novo Testamento sem a narração da travessia do Mar Vermelho, com o seu cântico, em Êxodo 14-15? (cf. CIC, nn. 1093-1095) As grandes festas do Ano Litúrgico revelam a relação intrínseca entre as Liturgias hebraica e cristã como se pode ver na celebração da Páscoa, “Páscoa da história, dirigida para o futuro, junto aos hebreus; entre os cristãos, Páscoa realizada na Morte e na Ressurreição de Cristo, embora ainda aguardando a consumação final” (CIC, n. 1096).

Enquanto, na Liturgia da Nova Aliança, a assembleia deve ser preparada para o seu encontro com Cristo e a sua Igreja, esta preparação, em primeiro lugar, não é uma recepção intelectual de verdades teológicas, mas um assunto interior do coração, onde melhor se expressa a conversão e a convicção a uma vida em união com a vontade do Pai é reconhecida mais vivamente. Essa disponibilidade ou docilidade ao Espírito Santo é o pré-requisito para as graças recebidas durante a celebração em si e para os seus sucessivos afetos e efeitos (cf. CIC, nn. 1097-1098).

A ligação entre o Espírito e a Igreja manifesta Cristo e a sua obra salvadora na Liturgia. Especialmente na Missa, a Liturgia é “Memorial do mistério da salvação”, enquanto o Espírito Santo é a “memória viva da Igreja”, porque Ele recorda o mistério de Cristo. A primeira maneira pela qual o Espírito Santo lembra o sentido do evento da salvação é dando vida à Palavra de Deus proclamada na Liturgia, para que possa se tornar um projeto de vida para aqueles que a ouvem. A Constituição Sacrosanctum Concilium explica que a vitalidade da Sagrada Escritura coloca tanto os ministros quanto os fiéis em uma relação viva com Cristo (cf. CIC, nn. 1099-1101):

“É enorme a importância da Sagrada Escritura na celebração da Liturgia. Porque é a ela que se vão buscar as leituras que se explicam na homilia e os salmos para cantar; com o seu espírito e da sua inspiração nasceram as preces, as orações e os hinos litúrgicos; dela tiram a sua capacidade de significação as ações e os sinais” (Sacrosanctum Concilium, 24).

A assembleia litúrgica, portanto, não é tanto uma coleção de diferentes temperamentos, mas uma comunhão na fé. A proclamação litúrgica pede uma “resposta da fé”, indicativa de “adesão e empenho” e fortalecida pelo Espírito Santo, que infunde nos membros da assembleia “a memória das obras maravilhosas de Deus” no desenvolvimento da anamnese. Em seguida, a ação de graças a Deus por tudo o que fez flui naturalmente ao louvor a Deus ou doxologia (cf. CIC, nn.  1102-1103).

Nas celebrações do Mistério Pascal, este não se repete. São as celebrações que se repetem. Em cada celebração, é o derramamento do Espírito Santo que torna presente este mistério específico. A epiclese é a invocação do Espírito Santo e, recebendo o Corpo e Sangue de Cristo na Santíssima Eucaristia com disposições apropriadas, os próprios fiéis também se tornam uma oferta vida para Deus, ansiosos na esperança da sua herança celeste e testemunhando a vida do Espírito Santo, além da própria celebração litúrgica. Naquele momento “o fruto do Espírito na Liturgia é inseparavelmente comunhão com a Santíssima Trindade e comunhão fraterna” (cf. CIC, nn. 1104-1109).

Como o Abade Alcuíno Deutsch de Collegeville escreveu em 1926 em seu Prefácio para a tradução inglesa feita por Virgil Michel de La pieté de l'Église de Lambert Beauduin, “a Liturgia é a expressão, num modo solene e público, das crenças, amores, aspirações, esperanças e temores dos fiéis com relação a Deus. (...) é o produto de uma experiência emocionante, que pulsa com a vida e o calor do fogo do Espírito Santo, de cujas palavras está cheia, e sob cuja inspiração nasceu. Como nada mais tem o poder de abalar a alma, de vivificá-la, e dar-lhe interesse pelas coisas de Deus”.

Deus Espírito Santo (Vitral da Catedral de Quimper, França)

Fonte: Santa Sé.

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