segunda-feira, 24 de junho de 2019

III Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 19 de junho de 2019
Atos dos Apóstolos (3)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Cinquenta dias depois da Páscoa, naquele Cenáculo que já é como a sua casa e onde a presença de Maria, Mãe do Senhor, é o elemento de coesão, os Apóstolos vivem um evento que supera as suas expectativas. Reunidos em oração – a oração é o “pulmão” que dá respiro aos discípulos de todos os tempos; sem oração não se pode ser discípulo de Jesus; sem oração nós não podemos ser cristãos! É o ar, é o pulmão da vida cristã –, são surpreendidos pela irrupção de Deus. Trata-se de uma irrupção que não tolera o fechamento: escancara as portas através da força de um vento que recorda a ruah, o sopro primordial, e cumpre a promessa da “força” feita pelo Ressuscitado antes de sua despedida (cf. At 1,8). Chega de improviso, do alto, «um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam» (At 2,2).
Ao vento depois se une o fogo que recorda a sarça ardente e o Sinai com o dom das dez palavras (cf. Ex 19,16-19). Na tradição bíblica o fogo acompanha a manifestação de Deus. No fogo Deus entrega a sua palavra viva e enérgica (cf. Hb 4,12) que abre ao futuro; o fogo exprime simbolicamente a sua obra de aquecer, iluminar e provar os corações, seu cuidado em provar a resistência das obras humanas, em purificá-las e revitalizá-las. Enquanto no Sinai se ouve a voz de Deus, em Jerusalém, na festa de Pentecostes, é Pedro a falar, a rocha sobre a qual Cristo escolheu edificar a sua Igreja. A sua palavra, débil e capaz inclusive de renegar o Senhor, atravessada pelo fogo do Espírito, adquire força, se torna capaz de atravessar os corações e de movê-los para a conversão. Deus, com efeito, escolhe aquilo que no mundo é débil para confundir os fortes (cf. 1Cor 1,27).
A Igreja nasce assim do fogo do amor e de um “incêndio” que se propaga no Pentecostes e que manifesta a força da Palavra do Ressuscitado cheia do Espírito Santo. A Aliança nova e definitiva é fundada não mais sobre uma lei escrita em tábuas de pedra, mas sobre a ação do Espírito Santo que faz novas todas as coisas e se grava em corações de carne.
A palavra dos Apóstolos se impregna do Espírito do Ressuscitado e se torna uma palavra nova, diferente, que porém se pode compreender, quase como se fosse traduzida simultaneamente em todas as línguas: com efeito, «cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua» (At 2,6). Trata-se da linguagem da verdade e do amor, que é a língua universal: também os analfabetos podem entendê-la. A linguagem da verdade e do amor todos podem entender. Se tu vais com a verdade do teu coração, com a sinceridade, e vai com amor, todos te entenderão. Ainda que não possas falar, mas com uma carícia, que seja verdadeira e amorosa.
O Espírito Santo não apenas se manifesta mediante uma sinfonia de sons que unem e compõem harmonicamente a diversidade, mas se apresenta como o diretor da orquestra que faz soar a partitura dos louvores pelas «grandes obras» de Deus. O Espírito Santo é o artífice da comunhão, é o artista da reconciliação que sabe remover as barreiras entre judeus e gregos, entre escravos e livres, para fazer-nos um só corpo. Ele edifica a comunhão dos crentes harmonizando a unidade do corpo e a multiplicidade dos membros. Faz crescer a Igreja ajudando-a a andar para além dos limites humanos, dos pecados e de qualquer escândalo.
A maravilha é tanta, que alguém se pergunta se aqueles homens estão embriagados. Agora Pedro intervém em nome de todos os Apóstolos e relê aquele evento à luz de Joel 3, onde se anuncia uma nova efusão do Espírito Santo. Os seguidores de Jesus não são embriagados, mas vivem aquela que Santo Ambrósio define como «a sóbria embriaguez do Espírito», que acende em meio ao povo do Deus a profecia através de sonhos e visões. Este dom profético não é reservado apenas a alguns, mas a todos aqueles que invocam o nome do Senhor.
De agora em diante, daquele momento, o Espírito de Deus move os corações a acolher a salvação que passa através de uma Pessoa, Jesus Cristo, Aquele a quem os homens pregaram no lenho da cruz e que Deus ressuscitou dos mortos, «libertando-o das dores da morte» (At 2,24). É Ele que derramou aquele Espírito que orquestra a polifonia de louvores e que todos podem escutar. Como dizia Bento XVI, «o Pentecostes é isso: Jesus, e mediante Ele Deus mesmo, vem a nós e nos atrai para dentro de si» (Homilia, 03 de junho de 2006). O Espírito opera a atração divina: Deus nos seduz com o seu Amor e assim nos envolve, para mover a história e iniciar processos através dos quais filtra a vida nova. Com efeito, apenas o Espírito de Deus tem o poder de humanizar e fraternizar cada contexto, a partir daqueles que o acolhem.
Peçamos ao Senhor que nos faça experimentar um novo Pentecostes, que dilate os nossos corações e sintonize os nossos sentimentos com aqueles de Cristo, de modo que anunciemos sem vergonha a sua palavra transformadora e testemunhemos a força do amor que traz à vida tudo aquilo que encontra.


Tradução livre do original italiano.

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