São Gregório Nazianzeno
Sermão na Solenidade de Pentecostes
“Ele
é e permanece sendo o mesmo, assim como o são aqueles com os quais está unido”
O Espírito Santo
sempre foi, é e será; não teve princípio nem terá fim, e existe desde sempre na
ordem do Pai e do Filho, com os quais é conumerado; porque não convinha que o
Filho alguma vez faltasse ao Pai, ou o Espírito ao Filho. E seria muito indigno
da divindade que através de uma mudança chegasse à plenitude da perfeição.
Porque o Espírito sempre nos fez partícipes, embora ele não participe (de
outros); ele conferiu a perfeição, não foi aperfeiçoado; cumulou, não foi
cumulado; santificou, não foi santificado; divinizou, não foi divinizado; ele é
e permanece sendo o mesmo, assim como o são aqueles (o Pai e o Filho) com os
quais está unido; é invisível, intemporal, não circunscrito a um lugar,
imutável; não tem qualidades nem quantidade, nem forma, nem tato; eternamente
move-se por si mesmo, é autônomo, tem um poder próprio e é onipotente – pois todas
as coisas hão de referir-se ao Espírito como a sua primeira causa, assim como
também ao Unigênito; é vida e doador de vida; é luz e doador da luz; é a
própria bondade e fonte da bondade; é Espírito reto; tem o principado; é
Senhor; envia, escolhe, constrói seu próprio templo; mostra o caminho, obra
como quer, distribui os dons; é Espírito de filiação, de verdade, de sabedoria,
de inteligência, de ciência, de piedade, de conselho, de fortaleza, de temor, e
de todas as outras coisas que com estas se enumera.; por Ele conhecemos ao Pai
e glorificamos ao Filho, e por estes o conhecemos, e com eles participa de uma
mesma dignidade, adoração, veneração, poder, perfeição, santificação. Para que
dizer mais? Tudo quanto é do Pai é do Filho, exceto o não ser gerado. Tudo
quanto é do Filho é do Espírito, exceto o ser gerado. Estas (propriedades) não
determinam a essência, segundo me parece, mas os distinguem dentro da
essência...
O Espírito obra
em primeiro lugar nos anjos e nos poderes celestes, e nos seres que depois de
Deus são os primeiros e que estão ao seu redor. Pois tais seres não têm de
outra fonte – a não ser do Espírito Santo – sua perfeição e esplendor, e sua
incapacidade de inclinar-se ao mal. Além disto, os pais e os profetas que
vieram ou conheceram a Deus em imagem, ou melhor dito, que o previram de modo
tipológico, foram conduzidos pelo Espírito, para que tratassem das coisas
futuras como das presentes. Porque este é o poder do Espírito.
Assim também
logo atuou nos discípulos de Cristo - para não falar de Cristo, sobre o qual
não atuava, a não ser com ele, acompanhando-o como quem participa da mesma
honra e poder; e o fez de uma tríplice maneira, conforme eles eram capazes de
recebê-lo, e em três períodos distintos: antes que Cristo fosse glorificado em
sua Paixão, depois que foi glorificado por sua Ressurreição, e após sua
Ascensão ou regresso aos céus, ou como queira se lhe chamar. O primeiro explica
como eram libertados das enfermidades e dos espíritos, coisa que evidentemente
não se realizava sem o Espírito; e igualmente após a economia do Sopro (do
Espírito), que é sem dúvida um sopro divino; e finalmente a distribuição das
línguas de fogo, das quais fazemos hoje panegírico. O primeiro é obscuro, o
segundo mais explícito, e o que hoje celebramos é o mais perfeito, enquanto que
já não está presente somente o seu poder, como antes, mas de modo essencial;
ou, como se alguém dissesse, enquanto está conosco e habita em nós. Porque
convinha que, assim como o Filho morou corporalmente conosco, assim também o
Espírito se manifestasse corporalmente, de maneira que, quando Cristo voltou
para onde estava antes, o Espírito descesse a nós, vindo como Senhor e como
enviado, não como adversário. Estas expressões não só mostram a igualdade, mas
também distinguem as naturezas (*).
(*) Expressão inadequada: em Deus só há uma
natureza. O que se distingue em cada Pessoa são as propriedades pessoais.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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