sábado, 8 de junho de 2019

Homilia: Solenidade de Pentecostes

São Gregório Nazianzeno
Sermão na Solenidade de Pentecostes
Ele é e permanece sendo o mesmo, assim como o são aqueles com os quais está unido

O Espírito Santo sempre foi, é e será; não teve princípio nem terá fim, e existe desde sempre na ordem do Pai e do Filho, com os quais é conumerado; porque não convinha que o Filho alguma vez faltasse ao Pai, ou o Espírito ao Filho. E seria muito indigno da divindade que através de uma mudança chegasse à plenitude da perfeição. Porque o Espírito sempre nos fez partícipes, embora ele não participe (de outros); ele conferiu a perfeição, não foi aperfeiçoado; cumulou, não foi cumulado; santificou, não foi santificado; divinizou, não foi divinizado; ele é e permanece sendo o mesmo, assim como o são aqueles (o Pai e o Filho) com os quais está unido; é invisível, intemporal, não circunscrito a um lugar, imutável; não tem qualidades nem quantidade, nem forma, nem tato; eternamente move-se por si mesmo, é autônomo, tem um poder próprio e é onipotente – pois todas as coisas hão de referir-se ao Espírito como a sua primeira causa, assim como também ao Unigênito; é vida e doador de vida; é luz e doador da luz; é a própria bondade e fonte da bondade; é Espírito reto; tem o principado; é Senhor; envia, escolhe, constrói seu próprio templo; mostra o caminho, obra como quer, distribui os dons; é Espírito de filiação, de verdade, de sabedoria, de inteligência, de ciência, de piedade, de conselho, de fortaleza, de temor, e de todas as outras coisas que com estas se enumera.; por Ele conhecemos ao Pai e glorificamos ao Filho, e por estes o conhecemos, e com eles participa de uma mesma dignidade, adoração, veneração, poder, perfeição, santificação. Para que dizer mais? Tudo quanto é do Pai é do Filho, exceto o não ser gerado. Tudo quanto é do Filho é do Espírito, exceto o ser gerado. Estas (propriedades) não determinam a essência, segundo me parece, mas os distinguem dentro da essência...
O Espírito obra em primeiro lugar nos anjos e nos poderes celestes, e nos seres que depois de Deus são os primeiros e que estão ao seu redor. Pois tais seres não têm de outra fonte – a não ser do Espírito Santo – sua perfeição e esplendor, e sua incapacidade de inclinar-se ao mal. Além disto, os pais e os profetas que vieram ou conheceram a Deus em imagem, ou melhor dito, que o previram de modo tipológico, foram conduzidos pelo Espírito, para que tratassem das coisas futuras como das presentes. Porque este é o poder do Espírito.
Assim também logo atuou nos discípulos de Cristo - para não falar de Cristo, sobre o qual não atuava, a não ser com ele, acompanhando-o como quem participa da mesma honra e poder; e o fez de uma tríplice maneira, conforme eles eram capazes de recebê-lo, e em três períodos distintos: antes que Cristo fosse glorificado em sua Paixão, depois que foi glorificado por sua Ressurreição, e após sua Ascensão ou regresso aos céus, ou como queira se lhe chamar. O primeiro explica como eram libertados das enfermidades e dos espíritos, coisa que evidentemente não se realizava sem o Espírito; e igualmente após a economia do Sopro (do Espírito), que é sem dúvida um sopro divino; e finalmente a distribuição das línguas de fogo, das quais fazemos hoje panegírico. O primeiro é obscuro, o segundo mais explícito, e o que hoje celebramos é o mais perfeito, enquanto que já não está presente somente o seu poder, como antes, mas de modo essencial; ou, como se alguém dissesse, enquanto está conosco e habita em nós. Porque convinha que, assim como o Filho morou corporalmente conosco, assim também o Espírito se manifestasse corporalmente, de maneira que, quando Cristo voltou para onde estava antes, o Espírito descesse a nós, vindo como Senhor e como enviado, não como adversário. Estas expressões não só mostram a igualdade, mas também distinguem as naturezas (*).

(*) Expressão inadequada: em Deus só há uma natureza. O que se distingue em cada Pessoa são as propriedades pessoais.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 616-617. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.

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