Santo Ambrósio
Comentário sobre o Salmo 118
“Vem
Senhor, busca a tua ovelha”
Em seu
Evangelho, o próprio Senhor Jesus assegurou que o pastor deixa as noventa e
nove ovelhas e vai à busca da desgarrada. É a ovelha centésima da qual se diz
que se tinha desgarrado. Que a própria perfeição e plenitude do número te
instrua e te ensine. Não é sem motivo que se lhe dá a preferência sobre as
demais, porque é mais valioso um consciente retorno do mal do que um quase
total desconhecimento dos próprios vícios. Pois ao haver corrigido a alma
enlameada no vício, liberando-a das trevas da concupiscência, não somente é
indício de uma virtude consumada, mas também é, ainda, sinal eficaz da presença
da divina graça. Contudo, corrigir o futuro é tarefa da atenção humana; remir o
passado é tarefa do divino poder.
Uma vez
encontrada a ovelha, o pastor a carrega sobre seus ombros. Considera
atentamente o mistério: a ovelha cansada encontra o repouso, pois a extenuada
condição humana não pode recuperar as forças a não ser no sacramento da paixão
do Senhor e do sangue de Jesus Cristo, que leva aos ombros o principado; de
fato, na cruz carregou nossas enfermidades, para aniquilar nela os pecados de
todos. Com razão, se alegram os anjos, porque aquele que antes errou, já não
erra, já se esqueceu de seu erro.
Me extraviei como ovelha perdida: busca ao
teu servo, que não esquece as tuas ordens. Busca ao teu servo, porque a
ovelha desgarrada será buscada pelo pastor, para que não pereça. Entretanto,
aquele que se extraviou pode voltar ao caminho, pode ser reconduzido a ele.
Vem, pois, Senhor Jesus, busca ao teu servo, busca a tua ovelha afadigada; vem,
pastor, guia a José como a um rebanho. Extraviou-se uma ovelha tua enquanto te detinhas,
enquanto percorrias pelos montes. Deixa as tuas noventa e nove ovelhas e vem em
busca da desgarrada. Vem, mas não com a vara, mas com a caridade e a mansidão
do Espírito.
Busca-me, pois
eu te busco. Busca-me, encontra-me, recebe-me, leva-me. Podes achar ao que te
buscas; dignas-te receber ao que encontraste, e carrega sobre os teus ombros ao
que acolheste. Não te incomoda esta piedosa carga, não te é oneroso transportar
a justiça. Vem, pois, Senhor, pois se é verdade que eu me extraviei, no entanto,
não esqueci dos teus mandamentos;
tenho minha esperança depositada na medicina. Vem, Senhor, porque és o único
capaz de conduzir a ovelha desgarrada; e aos que deixares, não lhes causarás
tristeza, e ao teu regresso eles mesmos mostrarão aos pecadores sua alegria.
Vem atrair a salvação para a terra e a alegria ao céu.
Vem, pois, e
busca a tua ovelha, não já por mediação de teus servos ou por meio de
mercenários, mas pessoalmente. Recebe-me na carne, que decaiu em Adão.
Recebe-me como filho não de Sara, mas de Maria, para que seja uma virgem
incorrupta, virgem de toda mácula de pecado pela graça. Leva-me sobre a cruz,
que é a salvação para os extraviados: somente nela encontram descanso os
fatigados, somente nela têm vida todos os que morrem.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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