quinta-feira, 2 de junho de 2016

Homilia: Solenidade do Sagrado Coração de Jesus - Ano C

Santo Ambrósio
Comentário sobre o Salmo 118
Vem Senhor, busca a tua ovelha

Em seu Evangelho, o próprio Senhor Jesus assegurou que o pastor deixa as noventa e nove ovelhas e vai à busca da desgarrada. É a ovelha centésima da qual se diz que se tinha desgarrado. Que a própria perfeição e plenitude do número te instrua e te ensine. Não é sem motivo que se lhe dá a preferência sobre as demais, porque é mais valioso um consciente retorno do mal do que um quase total desconhecimento dos próprios vícios. Pois ao haver corrigido a alma enlameada no vício, liberando-a das trevas da concupiscência, não somente é indício de uma virtude consumada, mas também é, ainda, sinal eficaz da presença da divina graça. Contudo, corrigir o futuro é tarefa da atenção humana; remir o passado é tarefa do divino poder.
Uma vez encontrada a ovelha, o pastor a carrega sobre seus ombros. Considera atentamente o mistério: a ovelha cansada encontra o repouso, pois a extenuada condição humana não pode recuperar as forças a não ser no sacramento da paixão do Senhor e do sangue de Jesus Cristo, que leva aos ombros o principado; de fato, na cruz carregou nossas enfermidades, para aniquilar nela os pecados de todos. Com razão, se alegram os anjos, porque aquele que antes errou, já não erra, já se esqueceu de seu erro.
Me extraviei como ovelha perdida: busca ao teu servo, que não esquece as tuas ordens. Busca ao teu servo, porque a ovelha desgarrada será buscada pelo pastor, para que não pereça. Entretanto, aquele que se extraviou pode voltar ao caminho, pode ser reconduzido a ele. Vem, pois, Senhor Jesus, busca ao teu servo, busca a tua ovelha afadigada; vem, pastor, guia a José como a um rebanho. Extraviou-se uma ovelha tua enquanto te detinhas, enquanto percorrias pelos montes. Deixa as tuas noventa e nove ovelhas e vem em busca da desgarrada. Vem, mas não com a vara, mas com a caridade e a mansidão do Espírito.
Busca-me, pois eu te busco. Busca-me, encontra-me, recebe-me, leva-me. Podes achar ao que te buscas; dignas-te receber ao que encontraste, e carrega sobre os teus ombros ao que acolheste. Não te incomoda esta piedosa carga, não te é oneroso transportar a justiça. Vem, pois, Senhor, pois se é verdade que eu me extraviei, no entanto, não esqueci dos teus mandamentos; tenho minha esperança depositada na medicina. Vem, Senhor, porque és o único capaz de conduzir a ovelha desgarrada; e aos que deixares, não lhes causarás tristeza, e ao teu regresso eles mesmos mostrarão aos pecadores sua alegria. Vem atrair a salvação para a terra e a alegria ao céu.
Vem, pois, e busca a tua ovelha, não já por mediação de teus servos ou por meio de mercenários, mas pessoalmente. Recebe-me na carne, que decaiu em Adão. Recebe-me como filho não de Sara, mas de Maria, para que seja uma virgem incorrupta, virgem de toda mácula de pecado pela graça. Leva-me sobre a cruz, que é a salvação para os extraviados: somente nela encontram descanso os fatigados, somente nela têm vida todos os que morrem.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 770-771. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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