Confira o segundo dos três textos publicados pelo Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice em fevereiro de 2012 sobre a Liturgia como obra da Trindade.
À luz dos nn. 1084-1090 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), reflete-se aqui sobre a obra do Filho na Liturgia:
Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
A Liturgia, obra da Trindade: Deus Filho
Na segunda parte da seção sobre a Liturgia como
obra da Santíssima Trindade, dedicada a Deus Filho, o Catecismo da Igreja Católica apresenta os elementos essenciais da
doutrina sacramental. Cristo, Ressuscitado e glorificado, derramando o Espírito
Santo no Seu Corpo que é a Igreja, age agora nos sacramentos e por meio deles
comunica a sua graça. O Catecismo
lembra a definição clássica dos sacramentos, que são:
1) sinais sensíveis (palavras e ações),
2) instituídos por Cristo,
3) que realizam de modo eficaz a graça que
significam (CIC, n. 1084).
Na celebração dos sacramentos, ou seja, na sagrada
Liturgia, Cristo, no poder do Espírito Santo, significa e realiza o Mistério Pascal
da sua Paixão, Morte de Cruz e Ressurreição. Tal Mistério não é simplesmente
uma série de eventos do passado distante (embora não se possa ignorar a
historicidade daqueles acontecimentos!), mas entra na dimensão da eternidade,
porque o “ator” – ou seja, Aquele que agiu e sofreu naqueles eventos - foi o
Verbo encarnado. Por isso, o Mistério Pascal de Cristo “transcende todos os
tempos e em todos se torna presente” (CIC, n. 1085) por meio dos sacramentos
que Ele mesmo confiou à sua Igreja, especialmente o Sacrifício Eucarístico.
Este dom particular foi dado primeiro aos Apóstolos,
quando o Ressuscitado, na força do Espírito Santo, deu-lhes o seu próprio poder
de santificação. E os Apóstolos também deram tais poderes aos seus sucessores,
os Bispos, e dessa forma os bens da salvação são transmitidos e atualizados na
vida sacramental do povo de Deus até a parusia,
quando o Senhor vier na glória para cumprir o Reino de Deus. Assim, a Sucessão Apostólica
assegura que, na celebração dos sacramentos, os fiéis estejam imersos na
comunhão com Cristo, que os abençoa com o dom do seu amor salvífico,
especialmente na Eucaristia, onde oferece a si mesmo sob as aparências do pão e
do vinho.
A participação sacramental na vida de Cristo tem
uma forma específica, dada no “rito” que o então Cardeal Ratzinger em 2004
explicou como “a forma de celebração e de oração que amadurece na fé e na vida
da Igreja”. O rito - ou melhor a família dos ritos que vêm das Igrejas de
origem apostólica - “é forma condensada da Tradição viva (...) fazendo
assim sensível, ao mesmo tempo, a comunhão entre as gerações, a comunhão com
aqueles que rezam antes de nós e depois de nós. Assim, o rito é como um dom
dado à Igreja, uma forma viva de parádosis
[tradição]” (30Giorni, n. 12, 2004).
Referindo-se ao ensinamento da Constituição
conciliar sobre a Sagrada Liturgia, o Catecismo
aponta as diversas formas da presença de Cristo nas ações litúrgicas. Em
primeiro lugar, o Senhor está presente no Sacrifício Eucarístico na pessoa do
ministro ordenado, porque “oferecido uma vez na cruz, oferece novamente a Si
mesmo através do ministério dos sacerdotes” [Concílio de Trento] e,
especialmente, sob as espécies eucarísticas. Além disso, Cristo está presente
com a sua virtude nos sacramentos, na sua Palavra quando é proclamada a Sagrada
Escritura, e, finalmente, quando os membros da Igreja, Esposa amadíssima de
Cristo, se reúnem em seu nome para a oração e o louvor (cf. CIC, n. 1088; Sacrosanctum Concilium, n. 7). Assim,
na Liturgia terrena, realiza-se a dupla finalidade de todo o culto divino, isto
é, a glorificação de Deus e a santificação do homem (cf. CIC, n. 1089).
Na verdade, a celebração terrena, tanto no
esplendor de uma das grandes catedrais como nos lugares mais simples, mas
dignos, participa da Liturgia celeste da nova Jerusalém e antecipa a glória
futura na presença do Deus vivo. Essa dinâmica dá à Liturgia a sua grandeza,
impede que a comunidade individual se feche em si mesma e a abre à assembleia
dos santos da cidade celestial, como evocado na Carta aos Hebreus: “Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da
Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, e de milhões de anjos reunidos em
festa, e da assembleia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e
de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição,
e de Jesus, mediador de nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloquente
que o de Abel” (Hb 12,22-24).
Parece apropriado, portanto, concluir estes breves
comentários com as palavras certeiras do Beato Cardeal Ildefonso Schuster, que
descreveu a Liturgia como “um poema sagrado, ao qual realmente colocaram as
mãos tanto o céu quanto a terra”.
Deus Filho (Vitral da Catedral de Quimper, França) |
Fonte: Santa Sé.
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