Santo Agostinho
Sermão 109
Convertei-vos,
porque está próximo o Reino dos Céus
Escutamos o
Evangelho, e no Evangelho ao Senhor revelando a cegueira daqueles que são
capazes de interpretar o aspecto do céu, porém são incapazes de discernir o
tempo da fé em um Reino dos Céus que já está chegando. Ele dizia isto aos
judeus, mas as suas palavras afetam também a nós. E o próprio Jesus Cristo
começou a pregação de seu Evangelho desta forma: Convertei-vos, porque está
próximo o Reino dos Céus. Da mesma forma João o Batista, seu Precursor,
começou assim: Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus. E
agora o Senhor corrige aqueles que se negam a converterem-se, já estando
próximo o Reino dos Céus. O Reino dos
Céus - como Ele mesmo afirma - não
virá de uma maneira surpreendente. E acrescenta: O Reino de Deus está no meio de vós.
Que cada um
receba com prudência as advertências do Precursor, se não quer perder a hora da
misericórdia do Salvador, misericórdia que se concede no contexto atual, em que
ao gênero humano se oferece o perdão. Precisamente ao homem se presenteia o
perdão para que se converta e não exista a quem condenar. Isto Deus decidirá
quando chegue o fim do mundo; mas de momento nos encontramos no tempo da fé. Se
o fim do mundo encontrará ou não aqui a alguns de nós, eu o ignoro;
possivelmente não encontre a nenhum. O certo é que o tempo de cada um de nós
está próximo, porque somos mortais. Andamos no meio de perigos. Assustam-nos
mais as quedas do que se fôssemos de vidro. E existe algo mais frágil do que um
vaso de cristal? Mas, contudo, conserva-se e dura séculos. E mesmo que se possa
temer a queda de um vaso de cristal, não existe medo de que a velhice ou a
febre o afete.
Somos, portanto,
mais frágeis do que o cristal, porque devido, sem dúvida, a nossa própria
fragilidade, cada dia nos espreita o temor dos numerosos e constantes acidentes
inerentes à condição humana; e ainda que estes temores não cheguem a se
concretizar, o tempo corre: e o homem que pode evitar um golpe, poderá também
evitar a morte? E se consegue escapar dos perigos exteriores, conseguirá evitar
também os que vêm de dentro? Algumas vezes são os vírus que se multiplicam no
interior do homem, outras é a enfermidade que se abate subitamente sobre nós; e
mesmo que o homem consiga ver-se livre destas taras, a velhice acabará
finalmente por chegar a ele, se moratória possível.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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