quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Evangeliário da Missa Crismal no Vaticano

Vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual” (1Pd 2,5)

Já apresentamos aqui em nosso blog dois dos Evangeliários utilizados nas celebrações do Vaticano: o Evangeliário de Alexandre VI, usado no Tempo do Natal, e o Evangeliário húngaro, usado na Páscoa.

Nesta postagem gostaríamos de apresentar brevemente o Evangeliário usado comumente na Missa Crismal celebrada pelo Papa na Basílica de São Pedro na manhã da Quinta-feira Santa. Desconhecemos a sua história, mas podemos nos aprofundar aqui em sua simbologia.


O grande elemento característico deste Evangeliário são doze pedras coloridas incrustadas na capa. Estas doze pedras, presentes no peitoral do sumo sacerdote no Antigo Testamento (hoshen), representavam as doze tribos de Israel, como recordou o Papa Francisco na homilia da Missa Crismal de 2013:

As vestes sagradas do Sumo Sacerdote são ricas de simbolismos; um deles é o dos nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de ónix que adornavam as ombreiras do efod, do qual provém a nossa casula atual: seis sobre a pedra do ombro direito e seis na do ombro esquerdo (cf. Ex 28,6-14). Também no peitoral estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel (cf. Ex 28,21). Isto significa que o sacerdote celebra levando sobre os ombros o povo que lhe está confiado e tendo os seus nomes gravados no coração”.


No Novo Testamento estas doze pedras simbolizam a totalidade do novo Israel, isto é, a Igreja. As pedras mencionadas no Êxodo (Ex 28,15-30) aparecem no Livro do Apocalipse nos alicerces da Jerusalém celeste, imagem da Igreja (cf. Ap 21,19-20). Nestes doze alicerces “estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,14).

As pedras no Evangeliário ladeiam o ícone da Crucificação do Senhor, com suas características tradicionais: a cruz ao centro sobre a montanha com os ossos de Adão (indicando a salvação oferecida a toda a humanidade), a presença da Virgem Maria e do Apóstolo João em pé junto à cruz, as muralhas da cidade ao fundo, etc. Tudo isso ladeado nas extremidades pelos símbolos dos quatro evangelistas (o homem, o leão, o touro e a águia, simbolizando respectivamente Mateus, Marcos, Lucas e João).

Na contracapa do livro encontramos mais quatro pedras nas extremidades de uma cruz, que poderiam simbolizar a difusão do Evangelho, boa-nova da salvação, pelos quatro cantos do mundo. No centro da cruz há um medalhão com o Cordeiro pascal, símbolo central do Cristo Crucificado-Ressuscitado no Livro do Apocalipse. Vemos que o Evangeliário faz, pois, uma perfeita síntese do Mistério Pascal.


Existe também outra versão deste Evangeliário, ligeiramente distinta, que também já foi usada na Missa Crismal no Vaticano. Aqui encontramos na capa a imagem do Cordeiro pascal ao centro da cruz, circundado pelas doze pedras coloridas.

Na parte de trás há novamente a cruz, no centro da qual está um candelabro de sete velas, símbolo da sarça ardente do Êxodo e dos sete dias da criação no Gênesis. De toda forma, um símbolo do Antigo Testamento, contrastando com a síntese do Novo Testamento na capa com a imagem do Cordeiro.


3 comentários:

  1. Meu caro, esses dois evangeliários são os modelos usados pelo Caminho Neocatecumenal. Inclusive as comunidades mais velhas usam esse primeiro modelo nas Bíblias delas. A minha comunidade acabou de adquirir essa capa para dar mais dignidade às celebrações da Palavra.

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    1. Muito obrigado pela informação. Saberia me dizer onde poderia encontrar mais dados a respeito (por exemplo, quem foi o artista que elaborou as capas)?

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    2. Toda a arte sacra do Caminho Neocatecumenal foi desenvolvida pelo seu iniciador, Kiko Arguello.

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