domingo, 12 de abril de 2020

Homilia: Domingo de Páscoa

Orígenes
Comentário sobre a Carta aos Romanos
 Se alguém foi reconciliado pelo sangue de Cristo, que não se relacione mais com o que é inimigo de Deus

Já que ressuscitastes com Cristo, buscai os bens do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai aos bens do alto, não aos da terra, pois o que procede desta maneira dá provas de crer n’Aquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo dentre os mortos, e a este a fé realmente aumenta aos seus bens. Pois é impossível que alguém que retenha em si uma porção qualquer de injustiça, a justiça aumente seus bens, mesmo que creia n’Aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus dentre os mortos, pois a injustiça nada pode ter em comum com a justiça, como nada tem a ver a luz com as trevas, nem a vida com a morte. Portanto, aos que creem em Cristo, mas não se despojam da velha condição humana, com suas obras injustas, a fé não pode assomar seus méritos.
Paralelamente podemos afirmar que, assim como ao injusto não se pode contar a justiça entre seus bens, assim tampouco ao impudico a honestidade, ao iníquo a equidade, ao avaro a liberalidade, nem ao ímpio pode se atribuir a piedade, enquanto não destitua a antiga vestimenta dos vícios e se revista da nova condição criada segundo Deus, e que vai se renovando como imagem de seu Criador, até chegar a conhecê-lo.
Foi entregue por nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação, para demonstrar-nos que também nós temos de abominar e desprezar tudo aquilo pelo qual Cristo foi entregue. Porque se cremos que Cristo foi entregue por nossos pecados, como não considerar impróprio e hostil todo tipo de pecado, pelo qual sabemos que nosso Redentor foi entregue à morte? Realmente, se estabelecermos novamente relações de interesse ou de amizade com o pecado, demonstramos não valorizar devidamente a morte de Cristo Jesus toda vez que abraçamos e favorecemos aquilo que Ele conquistou e venceu, assim que foi entregue por nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação.
Porque se ressuscitamos com Cristo, que é a própria justiça, e andamos em uma vida nova, e vivemos segundo a justiça, Cristo ressuscitou para nossa justificação. Porém, se ainda não nos despojamos da velha condição humana, com suas obras, mas vivemos na injustiça, atrevo-me a dizer que Cristo não ressuscitou ainda para nossa justificação nem foi entregue por nossos pecados. E se estou convencido disto, como amo aquilo que o levou à morte? Se creio que Ele ressuscitou para a minha justificação, como me deleito na injustiça? Portanto, Cristo justifica unicamente  aos que, a exemplo de sua Ressurreição, empreenderam uma vida nova, e rejeitam como causa de morte as antigas vestes da injustiça e da iniquidade.
Já que recebemos a justificação pela fé, estamos em paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele temos alcançado com a fé o acesso a esta graça em que estamos: e nos gloriamos, apoiados na esperança de alcançar a glória de Deus. Mas, para melhor penetrarmos o sentido destas palavras do Apóstolo, examinemos o que significa a palavra “paz”, a paz que nos advém por nosso Senhor Jesus Cristo.
Diz-se que há paz aonde ninguém discorda, onde ninguém está em desacordo, onde não existe nem hostilidade nem barbárie. Portanto, nós que em um período fomos inimigos de Deus, seguindo as ordens do inimigo hostil, do diabo, se agora lançamos nossas armas, estamos em paz com Deus, mas isto graças a nosso Senhor Jesus Cristo, que pela oferenda de seu sangue nos reconciliou com Deus. Portanto, se alguém está em paz com Deus e foi reconciliado pelo sangue de Cristo, que não se relacione de agora em diante com aquele que é inimigo de Deus.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 90-91. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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