sexta-feira, 23 de março de 2012

A Grande Quaresma na Tradição Bizantina: Os Dois Últimos Domingos

4º Domingo: Domingo de São João Clímaco

No Quarto Domingo da Quaresma os fieis são convidados a meditar sobre a figura de São João Clímaco. João Clímaco viveu entre 579 e 649, descobrindo muito jovem sua vocação para a vida monástica. Ingressando no Mosteiro do Monte Sinai, de onde foi eleito abade no final de sua vida, dedicou-se à oração e à penitência. O nome “Clímaco” refere-se à sua grande obra, a Escada para o Paraíso (em grego, Clímax ton Paradeison).


Sua obra está dividida em 30 capítulos, ou melhor, em 30 degraus que o monge deve percorrer para atingir a santidade. Ao longo da obra, São João Clímaco explica quais os vícios perigosos para os monges e quais as virtudes para vencê-los. Especialmente é necessário ao monge lutar constantemente contra os maus pensamentos que atrapalham a oração através da repetição constante de uma palavra (o nome de Jesus, por exemplo). É a chamada “Monologia”.

Apesar de ser uma obra destinada aos monges, a Escada para o Paraíso alcançou grande popularidade entre religiosos tanto do Oriente quanto do Ocidente. E igualmente os fieis cristãos são chamados a imitarem o exemplo de santidade de São João Clímaco e subir a escada que conduz ao paraíso, escada esta que implica na renúncia aos nossos vícios e na prática das virtudes.


Ofereceste-nos os teus ensinamentos como frutos sempre maduros, que deleitam os corações dos que os ouvem com atenção, ó sábio e bem-aventurado! São eles, com efeito, uma escada que conduz para a celeste gloria as almas dos que te honram com fé.

5º Domingo: Domingo de Santa Maria Egipcíaca

No Quinto Domingo da Grande Quaresma os fieis de rito bizantino celebram Santa Maria Egipcíaca, também conhecida como Santa Maria do Egito. Maria nasceu no Egito, no séculao V. Com apenas 12 anos saiu de casa e entregou-se à prostituição. Querendo conhecer a Terra Santa, Maria foi com um grupo de peregrinos cristãos, entregando seu corpo aos marinheiros como pagamento pela viagem.


Chegando à Terra Santa, Maria decidiu visitar a Basílica do Santo Sepulcro afim de adorar a Santa Cruz. Por diversas vezes tentou entrar na Basílica, mas alguma força invisível a impedia. Concluiu então que não podia entrar por estar manchada por muitos pecados. Imediatamente voltou-se para uma imagem da Virgem Maria que ali havia e humildemente implorou o perdão de Deus. Conseguiu, então, entrar sem dificuldade e adorou a Cruz.

Maria dirigiu-se então para o deserto além do Jordão, onde permaneceu por 47 anos fazendo penitência. Diz a tradição que os três pães que ela levou ao deserto bastaram-lhe para alimentá-la durante todo este tempo. Suas roupas contudo, teriam se deteriorado e seus cabelos crescido a tal ponto de substituírem as roupas.

Certa vez, um abade chamado Zózimo dirigiu-se para o deserto, desejando virar eremita. Este abade encontrou Maria em seu caminho, que contou-lhe sua história e implorou-lhe que a abençoasse. Pediu também que na próxima Quinta-feira Santa o Abade Zózimo lhe levasse a Sagrada Comunhão na margem do rio Jordão, o que ele fez piedosamente. Na ocasião, pediu ao Abade que fizesse o mesmo no ano seguinte.


Passado um ano, o abade dirigiu-se ao deserto para cumprir o prometido. Porém, sem encontrar Maria na margem do Jordão, Zózimo foi até a gruta onde ela habitava e encontrou-a morta. Diz a tradição que, não conseguindo Zózimo cavar a sepultura por ser velho e faltarem-lhe ferramentas, um leão aproximou-se mansamente e ajudou-o a cavar a sepultura.

Aprendamos de Santa Maria Egipcíaca que a penitência, o jejum e a oração ajudam-nos a vencer as nossas inclinações para o pecado e, assim, chegar um dia à vida eterna.

Em ti foi conservada com fidelidade a imagem de Deus, ó Maria; pois tomaste a Cruz e seguiste Cristo, ensinando, com o teu exemplo, a desprezar o corpo, porque mortal, e a cuidar da alma imortal. Por isso, ó Santa, tua alma se rejubila com os Anjos.


REFERÊNCIAS:

DONADEO, Maria. O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo: Ave Maria, 1998.

ROSSO, Stefano. La Celebrazione della Storia della Salvezza nel Rito Bizantino. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2010.

SERBAI, Paulo. A Grande Quaresma na Igreja Ucraniana do Rito Bizantino. Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia. Studium Theologicum: Curitiba, 1995.

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