quinta-feira, 22 de março de 2012

A Grande Quaresma na Tradição Bizantina: O Terceiro Domingo

3º Domingo: Domingo da Santa Cruz

A festa por excelência em louvor à Santa Cruz é, tanto no Oriente como no Ocidente, a da Exaltação da Santa Cruz, no dia 14 de Setembro. Mas, no Terceiro Domingo da Quaresma, a Gloriosa e Vivificante Cruz é exposta à veneração dos fieis como sinal da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Esta vitória de Cristo é igualmente a nossa se aceitarmos carregar nossa cruz e perseverarmos nesta caminhada quaresmal de penitência e conversão.


A cruz é apresentada neste Domingo não como sinal de sofrimento, mas como sinal de vitória. Com efeito, a cruz é apresentada como um estímulo para os fieis, tendo em vista que este domingo marca a metade do período quaresmal. A recordação da cruz é uma antecipação e um anúncio das solenidades pascais que se aproximam. A cruz recorda o mistério pascal como um todo: a Morte-Ressurreição de Cristo são duas realidades inseparáveis, ambas simbolizadas pela cruz.

No final da Divina Liturgia, é realizada a Procissão e Adoração da Santa Cruz. Enquanto se entoa o Triságion (Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tende piedade de nós) forma-se a procissão, precedida pelo turiferário e pelos ceroferários, na qual o celebrante leva a cruz por toda a igreja, saindo da porta norte da iconostase. Retornando à frente do presbitério, o celebrante deposita a cruz sobre uma mesa no centro da igreja, onde se costuma colocar o proskinetárion (estante para o ícone da festa) e incensa a cruz. Esta mesa deve ser ornada com palmas e flores.


Colocando-se diante à cruz, isto é, voltado para o Oriente, o celebrante implora o perdão de Deus e abençoa com a cruz em direção ao Oriente. Enquanto o celebrante realiza a grande metânia, isto é, prostra-se encostando a testa no chão e levantando-se em seguida, o coro entoa por 40 vezes o Kyrie eleison (Senhor, tende piedade de nós).

Em seguida, coloca-se ao lado direito da mesa e procede-se da mesma forma, dirigindo uma prece pelo país e seus governantes e abençoando com a cruz na direção Sul.

Colocando-se atrás da mesa, o celebrante reza pelo Papa (pelo Patriarca, no caso dos ortodoxos), pelo Bispo, pelos presbíteros, diáconos e religiosos. Abençoa, então, na direção Oeste.

Em seguida, do lado esquerdo da mesa, reza por todos os fieis católicos (ou ortodoxos), enquanto abençoa na direção Norte.

Retornando para a frente da mesa e voltado para o Oriente, o celebrante reza pelos benfeitores da Igreja e por todo o povo presente. Após a grande metânia, eleva a cruz e canta o Kontákion, pequena estrofe alusiva à festa. Em seguida, volta-se para os fiéis e abençoa-os com a cruz.


Depositando novamente a cruz sobre a mesa, entoa-se por três vezes a antífona que é repetida durante todos os ofícios litúrgicos da semana seguinte: “Adoramos a Tua Cruz, ó Mestre, e glorificamos a tua Santa Ressurreição”.

A celebração encerra-se com a adoração da cruz. O sacerdote, seguido pelos ministros e pelos fieis, aproxima-se, faz uma inclinação à cruz e a venera com um beijo. Os fieis que desejarem podem igualmente levar as flores que enfeitam a cruz. Enquanto os fieis adoram a cruz, o coro canta o seguinte hino:

Vinde, fiéis! Adoremos o Madeiro que dá a vida, no qual, Cristo, o Rei da glória, estendeu voluntariamente seus braços, restaurando em nós a felicidade primitiva; nós que, dominados pelo mal e pelas paixões estávamos afastados de Deus. Vinde, adoremos a Cruz, que nos dá a vitória sobre o mal. Vinde, povos da terra, honremos com hinos a Cruz do Senhor, cantando: Salve ó Cruz, libertação de Adão decaído, porque em ti, toda a Igreja se alegra! Nós, fieis, a venerar-te com respeito e devoção, glorificamos a Deus que em ti foi fixado, dizendo: Senhor que foste crucificado, tem piedade de nós, porque Tu és bom e amas a humanidade!



Durante toda a Terceira Semana da Quaresma a cruz fica solenemente exposta no centro da igreja, para a adoração dos fieis.

REFERÊNCIAS:

DONADEO, Maria. O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo: Ave Maria, 1998.

ROSSO, Stefano. La Celebrazione della Storia della Salvezza nel Rito Bizantino. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2010.

SERBAI, Paulo. A Grande Quaresma na Igreja Ucraniana do Rito Bizantino. Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia. Studium Theologicum: Curitiba, 1995.

CRÉDITO DAS FOTOS: Luz do Oriente

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