Em nossa última sugestão de leitura do ano de 2021, no mês
de dezembro, apresentamos aqui no blog a obra Celebrar para viver: Liturgia e sacramentos da Igreja, do sacerdote espanhol Dionisio Borobio, uma “catequese”
introdutória à Liturgia e aos sacramentos para leigos jovens e adultos.
Continuando com o mesmo autor, que é um grande estudioso dos
sacramentos, trazemos como sugestão de leitura deste mês de janeiro de 2022 sua
obra História
e teologia comparada dos sacramentos: O princípio da analogia sacramental,
publicada em 2017 como uma co-edição das Edições Loyola e Editora Ave-Maria.
O texto foi publicado originalmente em 2012 em espanhol (Historia y teologia comparada de los sacramentos)
pelas Ediciones Sígueme de Salamanca (Espanha).
Capa da edição brasileira |
Como indica o próprio Borobio no Prólogo, após o Concílio
Vaticano II (1962-1965) muito se escreveu sobre os sacramentos. Porém, a
maioria dessas obras analisa cada um dos sacramentos separadamente. Assim, o
objetivo do livro é refletir sobre o princípio da analogia sacramental,
considerando as semelhanças e as diferenças entre os sete sacramentos.
A obra está dividida em duas grandes partes, além de uma
introdução e uma conclusão, que apresentamos brevemente a seguir:
INTRODUÇÃO: O conceito de analogia (pp. 09-19)
Na Introdução o autor apresenta o
conceito de “analogia” e como este se aplica aos sacramentos. A analogia, com
efeito, é o processo pelo qual se estabelece relações entre conceitos ou seres
através de suas semelhanças, embora esses conservem também suas diferenças.
Borobio recorda dois tipos
principais de analogia:
- analogia de proporcionalidade: por exemplo, contemplando os vários
graus de beleza da criação podemos chegar a Deus, que é a própria Beleza;
- analogia de atribuição: quando um termo é aplicado a diferentes
realidades em razão da semelhança entre elas. Por exemplo, como veremos
adiante, o termo “sacramento” não é aplicado apenas ao “setenário sacramental”,
mas também a Cristo, à Igreja, ao homem, ao mundo...
PRIMEIRA PARTE: Variantes históricas do princípio de analogia
sacramental (pp. 21-98)
Nesta primeira parte o autor nos
oferece um percurso pela história analogia sacramental, isto é, pela história da
aplicação do princípio da analogia aos sacramentos, desde a Sagrada Escritura
até os nossos dias:
1. Sagrada Escritura (pp. 23-27)
Além de recordar a “estrutura
sacramental” da história da salvação - Antigo e Novo Testamento -, Borobio
destaca que o termo latino “sacramentum”
traduz o grego “mysterion”, que se
refere ao desígnio salvífico de Deus, revelado em Cristo (cf. Rm 16, 25-27; 1Cor
2,7-10; Ef 3, 1-13; Cl 1,26).
2. Patrística (pp. 27-33)
O autor apresenta
brevemente a contribuição de alguns Padres da Igreja, como Ambrósio, Agostinho
e João Crisóstomo. Nesse período, com efeito, a teologia sacramental começa a
tomar forma.
3. Escolástica (pp. 33-44)
Durante o período da Escolástica
há uma sistematização muito mais precisa do conceito de “sacramento” e da
teologia sacramental. Borobio recorda aqui as contribuições de Hugo de São
Vítor, Pedro Lombardo, Tomás de Aquino...
4. Concílios (pp. 44-46)
Recordam-se brevemente alguns
Concílios que trataram do tema dos sacramentos: Lyon (1274), Florença (1439) e
sobretudo Trento (1547).
5. Teólogos tridentinos e pós-tridentinos (pp. 46-65)
Após a definição dogmática do
“setenário sacramental” no Concílio de Trento, destaca-se a contribuição da
“Escola de Salamanca”, que aprofundou a teologia sacramental de Tomás de Aquino:
Francisco de Vitória, Melchior Cano, Domingos de Soto...
6. Concílio Vaticano II (pp.
65-76)
Com o Concílio Vaticano II há uma
extensão do conceito de “sacramento”, como Borobio recorda em outras obras
suas: Cristo, “sacramento original”; a Igreja, “sacramento principal”; o
cristão, “sacramento existencial”; o mundo, “sacramento cósmico”.
7. Teologia ecumênica (pp.
76-94)
Por fim, o autor recorda
brevemente as posições das diferentes igrejas cristãs sobre os sacramentos: se
a teologia protestante tem uma visão bastante redutiva sobre os sacramentos, a
teologia oriental (à qual o autor dedica mais espaço) tem uma visão mais ampla,
destacando suas dimensões pneumatológica, eclesiológica e cósmica.
8. Conclusão (pp. 94-98)
Na conclusão desta primeira
parte, Borobio retoma as “quatro sacramentalidades” destacadas após o Vaticano
II: Cristo, a Igreja, o homem, o mundo.
SEGUNDA PARTE: Semelhanças e diferenças entre os sacramentos (pp. 99-245)
Após o percurso histórico, na
segunda parte o autor aplica o princípio da “analogia sacramental” a diferentes
aspectos dos sete sacramentos da Igreja (Batismo, Confirmação, Eucaristia,
Reconciliação, Unção dos Enfermos, Matrimônio e Ordem).
Em cada seção primeiramente se
identificam os elementos comuns aos sete sacramentos, para em seguida
observar-se as singularidades de cada um dos sinais sacramentais.
1. Sete únicos sacramentos, variedade na instituição e na configuração
histórica: Analogia intersacramental (pp.
103-140)
Antes de tudo, a Igreja considera
que um “sinal” é “sacramento” se este tem sua origem e fundamento no próprio
Cristo. A instituição por Cristo, porém, apresenta-se de maneira distinta em
cada um dos sete sacramentos. Além da instituição, Borobio apresenta aqui
também a distinta configuração histórica dos sete sacramentos.
2. Uma sacramentalidade, diferente estrutura dos sinais: Analogia dos
“sinais” (pp. 140-169)
Os sete sacramentos possuem uma
estrutura comum, composta por um elemento “sensível” (captado pelos sentidos),
e um elemento “invisível”, a graça sacramental. O elemento “sensível” é
composto por uma “matéria” (elemento material ou gesto) e uma “forma” (as
palavras que acompanham o gesto). Há sem dúvida uma grande riqueza de sinais:
aqueles que aparecem com clareza na Escritura (como a água do Batismo ou o pão
e o vinho da Eucaristia) e aqueles que vão se estruturando ao longo da
história.
3. Um mesmo sujeito humano, situações diferentes: Analogia
antropológica (pp. 169-201)
O sujeito dos sacramentos é
sempre a pessoa humana. Porém, essa recebe os sacramentos ao longo de todo o
itinerário da sua existência. Assim, após uma consideração sobre a ordem dos
sacramentos e sua necessidade para a salvação, Borobio reflete sobre as
diferentes “situações antropológicas”: a Iniciação Cristã das crianças e dos
adultos, a experiência da enfermidade na Unção dos Enfermos...
4. Um único mistério, dimensões diferentes: Analogia mistérica (pp. 201-219)
Também o mistério que celebramos
nos sacramentos é sempre o mesmo: o mistério de Cristo, sobretudo o Mistério
Pascal da sua Morte-Ressurreição. Ao mesmo tempo, os sete sacramentos atualizam
diversos aspectos desse mistério, o que se reflete na “graça sacramental” e nos
“efeitos” de cada um dos sacramentos.
5. Uma mesma Igreja, ministérios diferentes: Analogia eclesiológica
(pp. 219-245)
Por fim, os sete sacramentos são celebrados
no seio da mesma Igreja, ela mesma um sinal sacramental. Ao mesmo tempo, neles
manifestam-se diversos ministérios, que o autor fundamenta no sacerdócio de Cristo,
verdadeiro ministro dos sacramentos. É participando desse único sacerdócio de
Cristo que os fiéis são “habilitados” a presidir os sacramentos.
CONCLUSÃO (pp. 247-251)
Dionisio Borobio conclui sua obra
fazendo uma breve síntese de tudo que foi abordado e refletindo sobre o alcance
pastoral do princípio da analogia sacramental.
Completam ainda a obra uma Bibliografia geral sobre os sacramentos
(pp. 253-259), com textos em várias
línguas, e um Índice onomástico (pp. 261-265).
Sobre o autor:
Dionisio Borobio García nasceu em Soria (Espanha) em 1938 e
foi ordenado sacerdote em 1965, na Diocese de Bilbao. Obteve o Doutorado em
Teologia litúrgica pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) e o
Mestrado em Filosofia pela Universidade Complutense de Madrid.
Foi professor de Liturgia e sacramentos na Universidade de
Deusto (Bilbao) e na Pontifícia Universidade de Salamanca. Atualmente é
professor emérito.
Possui dezenas de livros publicados sobre Liturgia,
sacramentos e pastoral, além de artigos em diversas revistas especializadas.
Para
adquirir o livro no site das editoras, clique aqui: Edições Loyola / Editora Ave Maria.
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