quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A pinça eucarística e a colher do cálice

Nesta postagem trazemos, como curiosidade, dois pequenos objetos litúrgicos ligados à Eucaristia: a pinça eucarística e a colher de água para o cálice.

A pinça eucarística

No ano de 2020, devido à pandemia de coronavírus (Covid-19), alguns sacerdotes em diversos lugares do mundo começaram a distribuir a Comunhão usando uma pinça.

Tal gesto gerou certa perplexidade no início, como se fosse uma invenção contemporânea. Mas não é o caso: embora tenha posteriormente caído em desuso, seu uso remonta ao menos ao século XIV.

Modelo contemporâneo de pinça eucarística

O uso das pinças eucarísticas é atestado pelo grande historiador da Liturgia italiano Mario Righetti, em sua excelente Historia de la Liturgia, publicada em 1955. O autor menciona o uso, ainda que pouco frequente, de uma pinça de ouro para distribuir a Comunhão aos fiéis, como testemunha um inventário da igreja de Praga de 1354.

O célebre sacerdote genovês é profético sobre o uso da pinça eucarística: hoje poderia renovar-se no caso da Comunhão aos enfermos, sobretudo se acometidos por doenças contagiosas [1].

Outro modelo, mais como uma "espátula"

A colher de água para o cálice

No Rito Bizantino, por sua vez, a Comunhão é distribuída com o uso de uma colher.  Como neste rito se usa pão fermentado para a consagração e a Comunhão é feita sempre sob as duas espécies, com a mistura do pão e do vinho consagrados, os sacerdotes fazem uso de uma colher de ouro para distribuir a “mistura” aos fiéis [2].

O uso da colher para a Comunhão no Rito Bizantino

No Rito Romano, por sua vez, encontramos duas colheres. A mais conhecida é aquela que acompanha a naveta, com a qual o sacerdote recolhe os grãos do incenso para impô-los no turíbulo. O Cerimonial dos Bispos a recorda em algumas ocasiões dentre os objetos a preparar para as Missas solenes: “Turíbulo com a naveta do incenso e a colher” [3].

Temos porém outra colher em nosso rito, menos conhecida, uma vez que seu uso é facultativo. Trata-se da colher que pode ser utilizada pelo diácono ou pelo sacerdote para depor a gota d’água no cálice no momento da apresentação das oferendas (cf. Introdução Geral do Missal Romano, 3ª edição, n. 142).

Esta rubrica, uma vez que diz respeito à matéria do sacramento da Eucaristia, está indicada no Código de Direito Canônico: “O sacrossanto Sacrifício eucarístico deve celebrar-se com pão e vinho, ao qual se há de juntar uma pequena quantidade de água” (cân. 924, § 1).

No texto original em latim a quantidade de água é indicada com a palavra “modica”, enquanto que a legislação anterior, isto é, o Código de 1917, usava o superlativo: “modicissima aqua” (cân. 814), já indicado em textos anteriores, como a Bula Exsultate Deo do Concílio de Florença (1439).

A gota d'água no cálice

A fim de garantir que a quantidade de água fosse realmente “modicíssima”, introduziu-se em muitos lugares o costume de recolhê-la da galheta com uma pequena colher. Embora não esteja prevista pelos livros litúrgicos, seu uso é válido, como respondeu a Santa Sé em 1858: “usum parvi cochlearis non esse prohibitum” (o uso de uma pequena colher não está proibido).

Embora atualmente a colher tenha um cabo maior e, desde o início da Missa até a apresentação das oferendas, seja colocada junto às galhetas, anteriormente ela costumava ser menor e sua localização variava conforme a região.

Na Alemanha a colher era colocada dentro do cálice, sobre o sanguíneo “afundado” no centro até tocar o fundo do cálice.

Na Espanha, por sua vez, a colher costumava ser acompanhada de uma fita que geralmente terminava em uma borla ou medalha (para equilibrar o peso). Assim, era colocada junto com o sanguíneo disposto sobre o cálice, com a colher propriamente dita pendente de um lado e a borla do outro.

A colher com fita, típica da Espanha

Notas:
[1] RIGHETTI, Mario. Historia de la Liturgia, v. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1945, p. 516.
[2] cf. SCHILLER, Soter. Nossa Liturgia: Comentários à Divina Liturgia de São João Crisóstomo. Curitiba: Edições Basilianas, 2008, pp. 194-196.
[3] CERIMONIAL DOS BISPOS: Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988, p. 210.

Sobre a colher do cálice:
Inter vestibulum et altare: La cucharilla litúrgica.

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