Nesta postagem trazemos, como curiosidade, dois pequenos
objetos litúrgicos ligados à Eucaristia: a pinça eucarística e a colher de água
para o cálice.
A pinça eucarística
No ano de 2020, devido à pandemia de coronavírus (Covid-19),
alguns sacerdotes em diversos lugares do mundo começaram a distribuir a
Comunhão usando uma pinça.
Tal gesto gerou certa perplexidade no início, como se fosse
uma invenção contemporânea. Mas não é o caso: embora tenha posteriormente caído
em desuso, seu uso remonta ao menos ao século XIV.
Modelo contemporâneo de pinça eucarística |
O uso das pinças eucarísticas é atestado pelo grande
historiador da Liturgia italiano Mario Righetti, em sua excelente Historia de la Liturgia, publicada em
1955. O autor menciona o uso, ainda que pouco frequente, de uma pinça de ouro
para distribuir a Comunhão aos fiéis, como testemunha um inventário da igreja
de Praga de 1354.
O célebre sacerdote genovês é profético sobre o uso da pinça
eucarística: hoje poderia renovar-se no caso da Comunhão aos enfermos,
sobretudo se acometidos por doenças contagiosas [1].
Outro modelo, mais como uma "espátula" |
A colher de água para
o cálice
No Rito Bizantino, por sua vez, a Comunhão é distribuída com
o uso de uma colher. Como neste rito se
usa pão fermentado para a consagração e a Comunhão é feita sempre sob as duas
espécies, com a mistura do pão e do vinho consagrados, os sacerdotes fazem uso
de uma colher de ouro para distribuir a “mistura” aos fiéis [2].
O uso da colher para a Comunhão no Rito Bizantino |
No Rito Romano, por sua vez, encontramos duas colheres. A mais
conhecida é aquela que acompanha a naveta, com a qual o sacerdote recolhe os
grãos do incenso para impô-los no turíbulo. O Cerimonial dos Bispos a recorda
em algumas ocasiões dentre os objetos a preparar para as Missas solenes:
“Turíbulo com a naveta do incenso e a colher” [3].
Temos porém outra colher em nosso rito, menos conhecida, uma
vez que seu uso é facultativo. Trata-se da colher que pode ser utilizada pelo
diácono ou pelo sacerdote para depor a gota d’água no cálice no momento da
apresentação das oferendas (cf.
Introdução Geral do Missal Romano, 3ª edição, n. 142).
Esta rubrica, uma vez que diz respeito à matéria do
sacramento da Eucaristia, está indicada no Código de Direito Canônico: “O
sacrossanto Sacrifício eucarístico deve celebrar-se com pão e vinho, ao qual se
há de juntar uma pequena quantidade de água” (cân. 924, § 1).
No texto original em latim a quantidade de água é indicada
com a palavra “modica”, enquanto que
a legislação anterior, isto é, o Código de 1917, usava o superlativo: “modicissima aqua” (cân. 814), já indicado
em textos anteriores, como a Bula Exsultate
Deo do Concílio de Florença (1439).
A gota d'água no cálice |
A fim de garantir que a quantidade de água fosse realmente
“modicíssima”, introduziu-se em muitos lugares o costume de recolhê-la da
galheta com uma pequena colher. Embora não esteja prevista pelos livros
litúrgicos, seu uso é válido, como respondeu a Santa Sé em 1858: “usum parvi cochlearis non esse prohibitum”
(o uso de uma pequena colher não está proibido).
Embora atualmente a colher tenha um cabo maior e, desde o início
da Missa até a apresentação das oferendas, seja colocada junto às galhetas,
anteriormente ela costumava ser menor e sua localização variava conforme a
região.
Na Alemanha a colher era colocada dentro do cálice, sobre o
sanguíneo “afundado” no centro até tocar o fundo do cálice.
Na Espanha, por sua vez, a colher costumava ser acompanhada
de uma fita que geralmente terminava em uma borla ou medalha (para equilibrar o
peso). Assim, era colocada junto com o sanguíneo disposto sobre o cálice, com a
colher propriamente dita pendente de um lado e a borla do outro.
A colher com fita, típica da Espanha |
Notas:
[1] RIGHETTI, Mario. Historia
de la Liturgia, v. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario.
Madrid: BAC, 1945, p. 516.
[2] cf. SCHILLER,
Soter. Nossa Liturgia: Comentários à
Divina Liturgia de São João Crisóstomo. Curitiba: Edições Basilianas, 2008,
pp. 194-196.
[3] CERIMONIAL DOS BISPOS: Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São
Paulo: Paulus, 1988, p. 210.
Sobre a colher do
cálice:
Inter vestibulum et
altare: La cucharilla litúrgica.
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