Em nossas postagens sobre a Revista Notitiae, publicação oficial da Congregação para o Culto Divino,
sempre temos assinalado a concessão do título de Basílica Menor, sobretudo a
igrejas do Brasil.
O que é uma “basílica”?
A basílica (do grego βασιλική, pertencente ao rei) era
originalmente um edifício público romano onde, entre outras atividades, era
administrada a justiça. Suas características arquitetônicas eram: uma grande
nave central que terminava em uma abside geralmente semicircular; e naves
laterais menores, separadas da nave central por colunas.
Após o Edito de Milão (313), com o qual o imperador
Constantino proibiu a perseguição aos cristãos, começaram a ser construídas as
primeiras igrejas com o formato da basílica romana. A primeira basílica cristã
foi provavelmente a Basílica do Latrão, a Catedral de Roma. Ainda no século IV
foram construídas também as outras três basílicas maiores romanas, sobre as
quais falaremos mais adiante, e as três principais basílicas da Terra Santa (da
Anunciação em Nazaré, da Natividade em Belém e do Santo Sepulcro em Jerusalém).
Posteriormente, a “basílica” perdeu sua relação com o
formato arquitetônico e passou a ser um título honorífico conferido pelo Papa a
igrejas de especial importância. A concessão deste título é regulamentada pelo
Decreto Domus Dei de 06 de junho de
1968 [1], confirmado pela Congregação do Culto Divino em 1975 [2].
Diferentemente do título de “santuário”, cujo critério para
concessão é ser um destino de peregrinação [3], o grande critério para a
concessão do título de “basílica” é o valor histórico e artístico da igreja.
As basílicas dividem-se em “maiores” e “menores”. As maiores
são apenas quatro:
- Arquibasílica do Santíssimo Salvador e São João Batista e
Evangelista no Latrão (Catedral de Roma);
- Basílica de São Pedro no Vaticano;
- Basílica de São Paulo fora dos muros na Via Ostiense;
- Basílica de Santa Maria Maior no Esquilino.
As quatro basílicas maiores possuem uma Porta Santa, que só
é aberta durante os Jubileus, e um Cardeal Arcipreste nomeado pelo Papa [4].
Além disso, o aniversário da sua dedicação é celebrado por todos que seguem o
Rito Romano [5].
Arquibasílica do Latrão, "omnium urbis et orbis ecclesiarum mater et caput" (mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade e do mundo) |
Todas as demais basílicas, tanto em Roma quanto no resto do
mundo, são basílicas menores. Segundo o site GCatholic.org, no final de 2019 havia 1.820 basílicas menores em
todo o mundo (sendo 71 delas no Brasil) [5].
Além de algumas concessões a respeito das indulgências,
todas as basílicas possuem por tradição duas insígnias próprias: o umbráculo e
o tintinábulo.
O umbráculo e o
tintinábulo basilicais
O umbráculo (do
latim umbraculum, aquele que faz
sombra), ou umbela basilical, é uma espécie de guarda-sol de seda com listras
amarelas e vermelhas (as cores da antiga bandeira da Santa Sé). Permanece sempre semi-aberto, seja no presbitério da
igreja ou levado nas procissões que partem da basílica ou a ela se dirigem, só
sendo aberto totalmente na presença do Papa.
Geralmente nas franjas do umbráculo são bordados símbolos
religiosos e brasões (como o do Papa que concedeu o título, do Bispo, da
diocese e da própria basílica). O umbráculo costuma ser encimado por um globo e
uma cruz.
Umbráculo da Basílica de Santa Ana (Arquidiocese de São Paulo) |
O tintinábulo (do
latim tintinnabulum, pequeno sino) é,
como o nome indica, um pequeno sino colocado no alto de uma haste, no topo da
qual é representada a imagem do titular da igreja, ladeada por anjos e corada
pelo símbolo da Santa Sé (as duas chaves cruzadas sob a tiara papal).
Geralmente fica no presbitério da basílica, no lado oposto
ao umbráculo, e junto com este é conduzido nas procissões que partem da
basílica ou a ela se dirigem.
Tintinábulo da Basílica de Santa Ana |
A origem destas duas insígnias, com efeito, está ligado às
procissões: o umbráculo era levado sobre o Papa para protegê-lo do sol,
enquanto o tintinábulo ia à frente para anunciar aos fiéis a sua presença na
procissão.
Com o tempo, as igrejas onde o Bispo de Roma costumava
celebrar tinham cada uma seu umbráculo e seu tintinábulo, à sua espera. Alguns
remontam este costume ao pontificado de Alexandre VI (1492-1503). Com o tempo,
os dois objetos tornaram-se símbolos das basílicas, representando a união destas
igrejas com o Romano Pontífice.
O umbráculo sobre as chaves petrinas é também o emblema do
Colégio dos Cardeais e particularmente do Cardeal Camerlengo, indicando sua
função de “proteger” a Santa Sé até a eleição de um novo Papa durante a Sede
Vacante.
Símbolo da Sede Vacante |
Os mesmos elementos aparecem no brasão das basílicas,
indicando sua relação com o Papa. Por exemplo, no brasão da Basílica Menor de
Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, Catedral da Arquidiocese de Curitiba (PR),
que recebeu o título em 1993 (para conhecer a explicação do brasão, clique aqui).
[2] cf. Revista Notitiae, vol. 11 (1975), n. 10, pp. 260-262.
[3] cf. SAGRADA
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia.
São Paulo: Paulinas, 2003, p. 228; Código de Direito Canônico, cân. 1230-1234.
[4] No momento da publicação desta postagem os quatro
Arciprestes são:
Basílica do Latrão: Cardeal Angelo De Donatis;
Basílica de São Pedro: Cardeal Angelo Comastri;
Basílica de São Paulo fora dos muros: Cardeal James Michael Harvey;
Basílica de Santa Maria Maior: Cardeal Stanisław Ryłko.
Basílica do Latrão: Cardeal Angelo De Donatis;
Basílica de São Pedro: Cardeal Angelo Comastri;
Basílica de São Paulo fora dos muros: Cardeal James Michael Harvey;
Basílica de Santa Maria Maior: Cardeal Stanisław Ryłko.
[5] Basílica do Latrão: 09 de novembro, com o grau de festa;
Basílicas de São Pedro e São Paulo: 18 de novembro, com o grau de memória facultativa;
Basílica de Santa Maria Maior: 05 de agosto, também como memória facultativa.
Basílicas de São Pedro e São Paulo: 18 de novembro, com o grau de memória facultativa;
Basílica de Santa Maria Maior: 05 de agosto, também como memória facultativa.
Imagens da Basílica de Santa Ana: O São Paulo - Semanário da Arquidiocese de São Paulo
oa tarde André, tudo bom?
ResponderExcluirE sobre a disposição das bandeiras no altar, do vaticano e do estado, onde sirvo na Liturgia da Basilica Menor de Nossa Senhora do Patrocínio de Araras, temos duas bandeiras de cada lado, em que documento se fala das bandeiras e os locais (lado) onde devem ficar ?
Obrigado.
As normas para a concessão do título de Basílica Menor (Revista Notitiae, vol. 11, 1975, n. 10, pp. 260-262) não mencionam nada a respeito de bandeiras. Desconheço se há outra normativa a respeito.
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