sábado, 29 de agosto de 2020

Homilia: XXII Domingo do Tempo Comum - Ano A

São João Crisóstomo
Sermão 54 sobre o Evangelho de São Mateus
Tudo se consuma entre nós pela cruz

Que ninguém se envergonhe dos sagrados símbolos de nossa salvação, que em si contêm a origem de todos os bens, e pelos quais temos vida e existimos. Antes, levemos por toda a parte, como uma coroa, a cruz de Cristo. Tudo, de fato, se consuma entre nós pela cruz. Quando temos de regenerar-nos, ali está presente a cruz; quando nos alimentamos do místico alimento; quando somos consagrados ministros do altar; se é necessária qualquer outra ação sagrada, ali está sempre presente este símbolo da vitória. Daí o fervor com que o inscrevemos e desenhamos sobre as nossas casas e paredes, sobre as janelas, sobre nossa fronte e sobre o coração.
Porque este é o sinal de nossa salvação, o sinal da liberdade do gênero humano, o sinal da mansidão do Senhor para conosco que como ovelha foi levado ao matadouro. Portanto, quando te persignar, considera todo o mistério da cruz e apaga de ti toda ira e todas as demais paixões. Quando te persignar, ocupa amplamente toda a tua frente libertando assim a tua alma. Sabeis bem que coisas são as que nos geram a liberdade. Daí que Paulo, para levar-nos a isso, quero dizer, para a liberdade que nos convém, nos conduziu pela memória da cruz e do sangue do Senhor: Foram comprados, disse ele, por alto preço. Não vos deixeis escravizar pelos homens.
É como se dissesse: Pensa no preço que foi pago por ti e nunca te farás escravo dos homens; e chama preço à cruz. É necessário que a formemos não somente com os dedos, mas que primeiramente o façamos com a vontade e uma grande fé. Se com esta condição a traças em tua casa, nenhum demônio impuro poderá estar contra ti, pois verá a espada com que foi ferido com ferida mortal. Se nós, que somente ao ver o lugar onde executam os réus sentimos horror, considera o que sofrerão o diabo e todos os demônios ao ver o dardo com que Cristo venceu todo o seu poder e cortou a cabeça do dragão.
Não te envergonhes, pois, de tão grande dom, para que Cristo não se envergonhe de ti quando venha em sua glória e se veja este sinal que desce, mais brilhante que os raios do sol, diante de Cristo. Porque então verás a cruz clamando somente com sua presença e defendendo diante de todo o orbe a causa do Senhor e demonstrando que da parte d’Ele nada faltou para salvar-nos. Este sinal no tempo de nossos antepassados, e também nos atuais, abriu as portas fechadas; este sinal destruiu os venenos; este sinal desfez a força da cicuta; este sinal curou as mordidas das feras venenosas. Pois se abriu as portas infernais, abriu as portas do céu e renovou a entrada ao paraíso, destroçou a força dos demônios, porque seria extraordinário que vencesse os venenos, as feras e as outras coisas semelhantes a estas?
Grava isto em tua mente e abraça este sinal, salvação de nossas almas. Porque esta cruz salvou e converteu ao orbe, afastou o erro, trouxe a verdade, fez da terra céu e dos homens fez anjos. Por virtude da cruz já não são temíveis os demônios; a morte já não é morte, mas sono; pela cruz tudo o que nos era contrário ficou abatido, por terra, pisoteado. De modo que se alguém te pergunta: Adoras ao Crucificado? Com voz forte, com rosto alegre, responde-lhe: O adoro e nunca deixarei de adorá-lo! E se esse tal te ridiculariza, chora tu por sua loucura. Dá graças ao Senhor por tão imensos benefícios, que se não fosse pela revelação ninguém poderia nem sequer conhecê-los.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 205-207. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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