sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Sugestão de leitura: Introdução à Teologia Litúrgica

Em nossa sugestão de leitura mensal, propusemos no mês de janeiro a obra “A Liturgia da Igreja: Teologia, história, espiritualidade e pastoral”, de Dom Julián López Martín, primeiro volume da coleção “Liturgia Fundamental” da editora Paulinas.

Neste mês propomos o segundo volume: “Introdução à Teologia Litúrgica”, do Padre Juan Javier Flores, editada em português em 2006. A obra foi publicada originalmente em espanhol em 2003, como parte da coleção “Biblioteca Litúrgica” da editora do Centro de Pastoral Litúrgica de Barcelona.

O livro é fruto das aulas ministradas pelo autor no Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo, na matéria que leva o mesmo nome da obra: “Introdução à Teologia Litúrgica”. Como indica o autor na Apresentação, o objetivo aqui não é aprofundar a teologia sacramental mas, partir “da compreensão da Liturgia como locus theologicus para chegar à compreensão da teologia como locus liturgicus”, com ênfase na contribuição do Movimento Litúrgico que culminou na reforma do Concílio Vaticano II.


                                                        
A obra não está dividida em capítulos, mas sim em cinco partes, além de uma conclusão, as quais apresentamos sinteticamente na sequência:

I parte: Os antecedentes da Teologia Litúrgica

Esta primeira parte da obra traça um histórico dos antecedentes do Movimento Litúrgico, primeiramente do início da Igreja até o Concílio de Trento, em seguida a partir do Iluminismo, com ênfase na contribuição de Dom Próspero Guéranguer (1805-1875) e sua interpretação histórico-filológica da Liturgia.

A primeira parte conclui-se com os antecedentes mais próximos do Movimento Litúrgico, a partir do Motu proprio Tra le sollecitudini, do Papa Pio X, que abriu a discussão sobre a participação litúrgica.

II parte: Os teóricos da Teologia Litúrgica

Na segunda parte do livro são apresentadas as linhas teológico-litúrgicas de oito pensadores do Movimento Litúrgico, em ordem cronológica:

a) Linha teológico-pastoral de Dom Lambert Beauduin (1873-1960): Sua contribuição está centrada nos temas da pastoral litúrgica e na eclesiologia fundamentada no conceito de economia da salvação.

b) Linha teológico-pastoral de Dom Emanuele Caronti: Continuador do pensamento de Beauduin.

c) Linha estético-espiritual de Romano Guardini (1885-1968): Destaca-se sua célebre obra “O Espírito da Liturgia”, de 1918, na qual reflete sobre a dimensão simbólica da Liturgia.

d) Linha filosófico-antropológica de Dom Maurice Festugière (1870-1950): Reflete sobre os fundamentos da Liturgia

e) Linha teológico-sacramental de Dom Odo Casel (1886-1948): Sua contribuição se dá sobretudo na reflexão sobre o conceito de “mistério” em sua obra “O mistério do culto cristão”.

f) Linha metodológico-escolástica de Cipriano Vagaggini (1909-1999): Aprofunda a metodologia para o estudo da relação entre teologia e Liturgia, sobretudo em sua obra “O sentido teológico da Liturgia”.

g) Linha teológico-celebrativa de Salvatore Marsili (1910-1983): Prosseguiu com as reflexões de Casel e Vagaggini, chegando a uma autêntica Teologia Litúrgica centrada na sacramentalidade da Revelação.

III parte: A realização da Teologia Litúrgica

Nesta parte da obra estudam-se dois documentos fundamentais para a Teologia Litúrgica: a Encíclica Mediator Dei do Papa Pio XII (1947) e a Constituição Sacrosanctum Concilium do Concílio Vaticano II (1963).

A Mediator Dei é analisada sobretudo em sua primeira parte, intitulada “Natureza, origem, desenvolvimento da Liturgia”, com suas reflexões sobre a Liturgia como culto público, como culto interno e externo, etc.

Da Sacrosanctum Concilium, igualmente, é estudado o capítulo primeiro - “Princípios gerais para a reforma e fomento da Sagrada Liturgia” -, repassando cada um dos parágrafos mais importantes no que se refere à Teologia Litúrgica (nn. 5-13).

Ainda nesta terceira parte o autor prossegue a reflexão sobre três conceitos-chave da Liturgia: a história da salvação, a presença de Cristo e a realização do mistério pascal (eficácia sacramental).

IV parte: As consequências da Teologia Litúrgica

A quarta parte da obra está dividida em quatro partes:

a) Teologia Litúrgica em alguns documentos da Igreja pós-conciliar: O autor analisa a teologia litúrgica presente no Catecismo da Igreja Católica (1992), no Diretório Geral para a Catequese (1997) e no Ritual da Penitência (1974).

b) A Teologia Litúrgica em alguns teólogos recentes: Aqui se verificam as contribuições de quatro teólogos não liturgistas: Yves Congar, Henri de Lubac, Hans Urs von Balthasar e Jean Marie Roger Tillard.

c) A Teologia Litúrgica em relação às demais teologias: A Teologia litúrgica é aqui relacionada com outras quatro áreas da teologia: sistemática, fundamental, sacramentária e ecumênica.

d) Da Teologia Litúrgica à espiritualidade litúrgica para chegar à vida litúrgica: Como o título indica, este último texto da quarta parte apresenta a relação entre teologia, espiritualidade e vida no que concerne à Liturgia.

V parte: Os componentes essenciais de uma ação litúrgica

Na quinta e última parte da obra se retomam dois elementos fundamentais da Teologia Litúrgica: a eclesiologia e a cristologia. Primeiramente, no campo da eclesiologia, se considera a Liturgia enquanto ação cultual da Igreja, enquanto na dimensão cristológica se recorda o aspecto da atualização do mistério de Cristo.

Conclusão:

Por fim, a conclusão da obra é elaborada através de sete leis da Teologia Litúrgica:
a) Uma teologia que se alimente da Liturgia e, ao mesmo tempo, uma Liturgia que se alimente da teologia;
b) Uma teologia litúrgica que apele para o texto, enquanto a Palavra é veículo de transmissão da mensagem divina;
c) Uma teologia que, partindo da celebração, manifeste-a como epifania da Igreja;
d) Uma teologia que parta da Páscoa de Cristo e termine nela;
e) Uma teologia que faça da celebração uma Páscoa permanente;
f) Uma teologia litúrgica com fundamento na história, centrada na celebração, aberta para o “eschaton”;
g) Uma teologia que nos permita entrar no mistério de Cristo através de uma celebração que é Páscoa total.

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Sobre o autor
Juan Javier Flores Arcas nasceu em Linares (Espanha) em 07 de março de 1951. Ingressando na Abadia Beneditina de Santo Domingo de Silos (Burgos), professou seus votos em 1978 e foi ordenado sacerdote em 1981.

Obtendo o doutorado em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) em 1995, tornou-se professor do mesmo, exercendo o ofício de presidente de 2000 a 2008.

É ainda Consultor da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (confirmado pelo Papa Francisco em 2016), tendo atuado como experto nos Sínodos sobre a Eucaristia (2005) e a Palavra de Deus (2008).

Colabora com diversas revistas de Liturgia, sendo membro do Conselho da Revista «Phase» do Centro de Pastoral Litúrgica de Barcelona.


Infelizmente este livro não está mais disponível para ser adquirido no site da editora. Nossos leitores podem procurá-lo em bibliotecas ou livrarias especializadas em livros usados.

Confira também nossa análise da obra "Teologia da Liturgia", primeiro volume da Opera Omnia de Joseph Ratzinger, clicando aqui.

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