Na manhã deste sábado, 20 de junho (neste ano, Memória do
Imaculado Coração de Maria) a Santa Sé divulgou uma Carta do Cardeal Robert
Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, endereçada aos Presidentes das Conferências Episcopais, na qual
ele comunica a decisão do Papa Francisco de inserir três invocações na Ladainha
de Nossa Senhora.
Maria, Mãe de misericórdia |
A Ladainha de Nossa Senhora também é chamada de “Ladainha
Lauretana”, uma vez que foi bastante difundida através do Santuário de Loreto,
na Itália, sobretudo em meados do século XVI. Sua origem, porém, é mais antiga.
A Ladainha é bastante associada à oração do rosário, embora,
como afirma o Diretório sobre Piedade popular e Liturgia (n. 203), “é um ato
cultual independente: pode ser um canto processional, fazer parte de uma
celebração da Palavra de Deus ou outras estruturas cultuais” [1].
Embora não esteja diretamente associada a uma ação
litúrgica, a Ladainha de Nossa Senhora é regulamentada pela Congregação para o
Culto Divino, a fim de evitar que sejam introduzidas devoções “estranhas”, que
possam gerar dúvidas entre os fiéis.
Foi através da Congregação que os Papas, sobretudo ao longo
do último século, acrescentaram de maneira oficial algumas invocações à
Ladainha. O último acréscimo foi feito por São João Paulo II com a invocação “Rainha
da família”, inserida através da Carta do Prefeito da Congregação para o Culto
Divino datada de 31 de dezembro de 1995 [2].
As três invocações inseridas pelo Papa Francisco são: “Mater
misericordiae” (Mãe de misericórdia), “Mater spei” (Mãe da
esperança) e “Solacium migrantium” (Conforto dos migrantes).
As duas primeiras já são bastante difundidas, tendo
inclusive seus próprios formulários na Coletânea de Missas de Nossa Senhora: n.
39 (Santa Maria, Rainha e Mãe de misericórdia) e n. 37 (Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da santa esperança) [3], além de serem referenciadas na célebre
antífona “Salve, mater misericordiae”:
Na sequência segue a Carta na íntegra, em tradução livre:
Carta aos Presidentes das Conferências Episcopais
sobre as invocações “Mater misericordiae”,
“Mater spei” e “Solacium migrantium”
a inserir na Ladainha Lauretana
Do Vaticano, 20 de junho
de 2020,
Memória do Imaculado
Coração da Bem-aventurada Virgem Maria.
Excelentíssimo,
Peregrina rumo a Santa Jerusalém do céu, para gozar da
comunhão inseparável com Cristo, seu Esposo e Salvador, a Igreja caminha
através dos caminhos da história confiando-se Àquela que acreditou na Palavra
do Senhor. Conhecemos pelo Evangelho que os discípulos de Jesus de fato
aprenderam, desde o início, a louvar a “bendita entre as mulheres” e a contar
com sua materna intercessão. Inumeráveis são os títulos e as invocações que a piedade
cristã, no decorrer dos séculos, reservou à Virgem Maria, via privilegiada e
segura do encontro com Cristo. Também no tempo presente, atravessado por
motivos de incerteza e de perda, o devoto recurso a ela, cheio de afeto e de
confiança, é particularmente querido pelo povo de Deus.
Intérprete de tal sentimento, o Sumo Pontífice Francisco,
acolhendo os desejos expresso, deseja dispor que no formulário da Ladainha da
Bem-aventurada Virgem Maria, chamada “Lauretana”, sejam inseridas as invocações
“Mater misericordiae” (Mãe de
misericórdia), “Mater spei” (Mãe da
esperança) e “Solacium migrantium”
(Conforto dos migrantes).
A primeira invocação será colocada após “Mater Ecclesiae” (Mãe da Igreja), a
segunda depois de “Mater divinae gratiae”
(Mãe da divina graça), a terceira depois de “Refugium peccatorum” (Refúgio dos pecadores).
Enquanto me alegro de comunicar a Vossa Excelência tal
disposição para conhecimento e aplicação, aproveito a ocasião para
manifestar-lhe a minha estima.
Do devotíssimo no Senhor,
Cardeal Robert Sarah - Prefeito
Arthur Roche - Arcebispo Secretário
Maria, Mãe da esperança |
Notas:
[1] SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA
DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade
Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 172.
[2] cf. Revista Notitiae, n. 357 (1994, n. 4), pp. 189-190.
Outras inserções feitas pelos Papas foram:
“Rainha concebida sem
pecado original” pelo Papa Pio IX por ocasião da proclamação do dogma da
Imaculada Conceição em 1854;
“Rainha do santíssimo
Rosário” pelo Papa Leão XIII em 1883, associando a Ladainha à recitação do
rosário, particularmente no mês de outubro;
“Rainha da paz”
pelo Papa Bento XV durante a Primeira Guerra Mundial;
“Rainha assunta ao céu”
pelo Papa Pio XII por ocasião da proclamação do dogma da Assunção em 1950;
“Mãe da Igreja”
pelo Papa Paulo VI por ocasião da conclusão do Concílio Vaticano II em 1965.
[3] cf. Missas de
Nossa Senhora. Edições CNBB: Brasília, 2016, pp. 203-206; pp. 193-196. Confira todas das Missas da Coletânea de Nossa Senhora clicando aqui.
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