sábado, 20 de junho de 2020

Homilia: XII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Santo Atanásio de Alexandria
Tratado sobre a Encarnação do Verbo
O Salvador ressuscitou; Cristo vive; Cristo é a própria vida

Se mediante o sinal da cruz e a fé em Cristo calcamos a morte, terá que concluir, a juízo da verdade, que é Cristo e não outro quem conseguiu a palma e o triunfo sobre a morte, reduzindo-a quase à impotência. Se ainda acrescentamos que a morte - antes prepotente e, em consequência, terrível -, é desprezada por causa da vinda do Salvador, de sua morte corporal e de sua ressurreição, é lógico deduzir que a morte foi aniquilada e vencida por Cristo ao ser suspenso na cruz.
Quando, transcorrida a noite, o sol aparece e ilumina com seus raios a face da terra, a ninguém lhe ocorre duvidar de que é o sol que, espargindo sua luz por toda parte, afugenta as trevas inundando tudo com o seu esplendor. Assim também, quando a morte começou a ser desprezada e pisoteada após a vinda do Salvador em forma humana para salvar-nos e de sua morte na cruz, torna-se manifesto que foi o próprio Salvador quem, manifestando-se corporalmente, destruiu a morte e alcança cada dia em seus discípulos novos troféus sobre ela.
Se alguém vir a alguns homens, naturalmente pusilânimes, lançar-se com confiança à morte sem temer a corrupção do sepulcro nem evitar a descida aos infernos, mas provocá-la com alegre disposição de espírito; que não temem os tormentos, antes preferem, por amor a Cristo, a morte à presente vida; ainda mais: se alguém fosse testemunha de homens, mulheres e até de tenras crianças que, impulsionados por seu amor a Cristo, correm pressurosamente ao encontro da morte, quem seria tão tolo, tão incrédulo ou tão cego de entendimento que não compreendesse e reconhecesse que esse Cristo - a quem tais homens rendem um testemunho autêntico - é o que concede e outorga a cada um deles a vitória sobre a morte e destrói o seu poder em todos aqueles que creem nele e estão marcados com o sinal da cruz?
O que acabamos de dizer é um argumento não desprezível de que a morte foi aniquilada por Cristo e de que a cruz do Senhor foi suspensa como estandarte contra ela. Com respeito à qual Cristo, comum Salvador de todos e vida verdadeira, tenha realizado a imortal ressurreição do corpo, torna-se muito mais manifesto dos fatos que das palavras para aqueles que conservam são o olho da alma.
Assim, se a morte foi destruída e todos têm o poder de vencê-la mediante Cristo, com muito mais razão a venceu e a destruiu primeiramente Ele em seu próprio corpo. Portanto, tendo dado morte à morte, que alternativa restava a não ser ressuscitar o corpo e erigi-lo em troféu de sua vitória? E como poderia se comprovar que a morte foi destruída se não houvesse ressuscitado o corpo do Senhor? Se o que foi dito não fosse para alguém prova suficiente para demonstrar sua ressurreição, deposite sua fé em nossas palavras ao menos apoiado no que é comprovável com os olhos.
Pois se um morto não pode fazer absolutamente nada: sua memória permanece viva somente até o sepulcro, e em seguida se desvanece; e se somente os vivos podem agir e exercer certa influência sobre os homens: que o comprove quem queira e, feitas as oportunas verificações, julgue por si mesmo e confesse a verdade. Bem: se o Salvador realiza entre os homens tantas e tão magníficas coisas; se por toda parte convence silenciosamente a tantos gregos e bárbaros a que abracem a fé e obedeçam a sua doutrina, haverá alguém que duvide de que o Salvador ressuscitou, de que Cristo vive, ainda mais, de que é a própria vida?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 160-162. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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