Santo Atanásio de Alexandria
Tratado sobre a Encarnação do Verbo
O
Salvador ressuscitou; Cristo vive; Cristo é a própria vida
Se mediante o
sinal da cruz e a fé em Cristo calcamos a morte, terá que concluir, a juízo da
verdade, que é Cristo e não outro quem conseguiu a palma e o triunfo sobre a
morte, reduzindo-a quase à impotência. Se ainda acrescentamos que a morte -
antes prepotente e, em consequência, terrível -, é desprezada por causa da
vinda do Salvador, de sua morte corporal e de sua ressurreição, é lógico
deduzir que a morte foi aniquilada e vencida por Cristo ao ser suspenso na
cruz.
Quando,
transcorrida a noite, o sol aparece e ilumina com seus raios a face da terra, a
ninguém lhe ocorre duvidar de que é o sol que, espargindo sua luz por toda
parte, afugenta as trevas inundando tudo com o seu esplendor. Assim também,
quando a morte começou a ser desprezada e pisoteada após a vinda do Salvador em
forma humana para salvar-nos e de sua morte na cruz, torna-se manifesto que foi
o próprio Salvador quem, manifestando-se corporalmente, destruiu a morte e
alcança cada dia em seus discípulos novos troféus sobre ela.
Se alguém vir a
alguns homens, naturalmente pusilânimes, lançar-se com confiança à morte sem
temer a corrupção do sepulcro nem evitar a descida aos infernos, mas provocá-la
com alegre disposição de espírito; que não temem os tormentos, antes preferem,
por amor a Cristo, a morte à presente vida; ainda mais: se alguém fosse
testemunha de homens, mulheres e até de tenras crianças que, impulsionados por
seu amor a Cristo, correm pressurosamente ao encontro da morte, quem seria tão
tolo, tão incrédulo ou tão cego de entendimento que não compreendesse e
reconhecesse que esse Cristo - a quem tais homens rendem um testemunho
autêntico - é o que concede e outorga a cada um deles a vitória sobre a morte e
destrói o seu poder em todos aqueles que creem nele e estão marcados com o
sinal da cruz?
O que acabamos
de dizer é um argumento não desprezível de que a morte foi aniquilada por
Cristo e de que a cruz do Senhor foi suspensa como estandarte contra ela. Com
respeito à qual Cristo, comum Salvador de todos e vida verdadeira, tenha
realizado a imortal ressurreição do corpo, torna-se muito mais manifesto dos
fatos que das palavras para aqueles que conservam são o olho da alma.
Assim, se a
morte foi destruída e todos têm o poder de vencê-la mediante Cristo, com muito
mais razão a venceu e a destruiu primeiramente Ele em seu próprio corpo.
Portanto, tendo dado morte à morte, que alternativa restava a não ser
ressuscitar o corpo e erigi-lo em troféu de sua vitória? E como poderia se
comprovar que a morte foi destruída se não houvesse ressuscitado o corpo do
Senhor? Se o que foi dito não fosse para alguém prova suficiente para
demonstrar sua ressurreição, deposite sua fé em nossas palavras ao menos
apoiado no que é comprovável com os olhos.
Pois se um morto
não pode fazer absolutamente nada: sua memória permanece viva somente até o
sepulcro, e em seguida se desvanece; e se somente os vivos podem agir e exercer
certa influência sobre os homens: que o comprove quem queira e, feitas as
oportunas verificações, julgue por si mesmo e confesse a verdade. Bem: se o
Salvador realiza entre os homens tantas e tão magníficas coisas; se por toda
parte convence silenciosamente a tantos gregos e bárbaros a que abracem a fé e
obedeçam a sua doutrina, haverá alguém que duvide de que o Salvador
ressuscitou, de que Cristo vive, ainda mais, de que é a própria vida?
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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