São Máximo de Turim
Sermão 55
Cristo é comparado com a águia
Irmãos:
Recordará vossa santidade que recentemente disse em minha pregação que o homem
recupera sua juventude e que, mesmo debilitado pela idade, converte-se
novamente em criança pela inocência de seus costumes; de maneira que, mediante
o sacramento, vemos os anciãos transformarem-se em crianças. Realmente, abandonar
o que alguém era para assumir o que antes tinha sido não deixa de ser uma
espécie de inovação. É, repito, uma inovação. Por isso são chamados “neófitos”,
pois graças a uma concreta novidade têm abandonado as marcas da velhice e
assumido a graça da simplicidade, como diz o Apóstolo: Despojai-vos da velha condição humana, com suas obras, e vesti-vos da
nova condição criada à imagem de Deus. E o santo Davi também afirma: E como uma águia se renova tua juventude,
dando a entender que, pela graça do Batismo, é possível fazer reviver o que de
envelhecido há em nossa vida, e renovar-se com uma nova juventude o que em nós
estava arruinado pela caducidade do pecado. E para que compreendas que o
profeta fala da graça do Batismo, compara a inovação batismal com a renovação
da águia, da qual se diz que prolonga sua vida mediante a contínua troca de
plumagem e que, ao irem-se caindo as plumas velhas, se rejuvenesce com a nova
plumagem da qual vai se revestindo, de maneira que, depostos os sinais da
velhice, veste-se o ornato da renovada novidade. De onde podemos deduzir que a
velhice da águia se faz sentir não em seus membros, mas na plumagem. De fato,
veste-se novamente, e, ao bater das asas, outra vez a velha mãe se converte em
aguioto. Pois temos de compará-la aos franguinhos quando, com a plumagem
aveludada recém-estreada, têm que treinar-se novamente em seus lentos voos e
reduzir, como ave novata, a estreiteza do ninho e a algumas inseguras
tentativas, os majestosos voos de outros tempos. Porque ainda que o costume lhe
tenha dotado da arte de voar, a escassez da plumagem lhe diminui a confiança em
si mesma.
Esta profecia do
salmista se refere, pois, à graça do Batismo. De fato, também nós neófitos,
batizados recentemente, depondo como a águia os sinais da velhice,
revestiram-se das novas vestes da santidade; e enquanto as antigas marcas vão
desprendendo-se quais leves plumas, ornam-se com a renascida graça da
imortalidade. De tal maneira que neles somente envelhecem os caducos pecados da
senilidade, não a vida. E assim como a águia se transforma em aguioto, assim
eles voltam à infância. Estão inteirados da vida no mundo, porém lhes assiste a
segurança da reencontrada justiça.
Mas examinemos
ainda com maior atenção o que diz o santo Davi. Não diz: se renova como as
águias, mas: como uma águia se renova tua
juventude. Afirma, pois, que nossa juventude se há de renovar como a de uma
só águia. E eu diria que esta só e única águia é em realidade Cristo o Senhor,
cuja juventude se renovou quando ressuscitou dentre os mortos. Pois, depostos
os mortais despojos da corrupção, voltou a florescer mediante a assunção da
carne rediviva, como Ele mesmo diz pela boca do profeta: Minha carne floresceu novamente, lhe dou graças de todo o coração.
Minha carne, diz, floresceu novamente.
Observai que verbo utilizou. Não disse: “floresceu”, mas “refloresceu”, pois
não refloresce a não ser o que já floresceu. Floresceu verdadeiramente a carne
do Senhor quando, pela primeira vez, saiu do incontaminado seio da Virgem
Maria, como diz Isaías: Brotará um renovo
do tronco de Jessé, e de sua raiz florescerá um rebento. Refloresceu, ao
invés, quando cortada pelos judeus a flor do corpo, germinou rediviva no
sepulcro pela glória da ressurreição; e como uma flor, exalou sobre todos os
homens o aroma e o esplendor da imortalidade, espargindo por toda parte com
suavidade o odor das boas obras e manifestando com majestade a
incorruptibilidade da eterna divindade.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 107-108. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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