São Máximo de Turim
Sermão 56
A Ascensão de Cristo é o triunfo do vencedor
Se o grão de trigo não cai na terra e morre,
fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto. Floresceu, pois, novamente o
Senhor ressuscitando do sepulcro; frutifica quando sobe ao céu. É flor quando é
gerado nas profundezas da terra; é fruto quando é assentado em sua sublime
sede. É grão – como Ele mesmo diz – quando, só, padece a cruz; é fruto quando
se vê cercado da copiosa fé dos Apóstolos.
De fato, durante
aqueles quarenta dias em que, depois da Ressurreição, conviveu com seus
discípulos, instruiu-lhes em toda a maturidade da sabedoria e os preparou para
uma safra abundante com toda a fecundidade de sua doutrina. Depois subiu ao
céu, ou seja, ao Pai, levando o fruto da carne e deixando em seus discípulos as
sementes da justiça.
Subiu, portanto,
o Senhor ao Pai. Vossa santidade recordará, sem dúvida, que comparei o Salvador
com aquela águia do salmista, da qual lemos que renova sua juventude. Realmente
existe uma semelhança, e não pequena. Pois assim como a águia abandonando os
vales se eleva às alturas e penetra impetuosa nos céus, assim também o Salvador
abandonando as profundidades do abismo se elevou aos serenos picos do paraíso,
e penetrou nas mais elevadas regiões do céu. E assim como a águia, abandonando
a mesquinharia da terra, e voando para as alturas, usufrui da salubridade de um
ar mais puro, assim também o Senhor, abandonando a imundície dos pecados
terrenos e revoando em seus santos, alegra-se na simplicidade de uma vida mais
pura.
De forma que a
comparação com a águia se encaixa perfeitamente ao Salvador. Mas, então, como
explicar o fato de que frequentemente a águia destroça sua presa e arrebata
seguidamente a presa alheia? Contudo, tampouco nisto é dessemelhante ao
Salvador. De certo modo arrastou com a presa quando ao homem que tinha
assumido, arrancado das gargantas do inferno, o conduziu ao céu, e ao que era
escravo de uma dominação alheia, isto é, da potestade diabólica, libertado da
catividade, cativo o conduziu às regiões elevadas, como escreve o profeta: Subiu ao alto levando cativa a catividade e
deu dons aos homens. Esta frase certamente significa que levou ao alto dos
céus a catividade cativa. Uma e outra catividade são designadas com idêntica
palavra. Mas ambas com um significado bem distinto, visto que a catividade do
diabo reduz o homem à escravidão, enquanto que a catividade de Cristo restitui
a liberdade.
Subiu, disse, ao alto levando cativa a catividade. Quão bem descreve o profeta o
triunfo de Cristo! Pois, segundo dizem, a pompa da carruagem dos vencidos
costuma preceder ao rei vencedor. Mas eis aqui que a catividade gloriosa não
precede ao Senhor em sua Ascensão aos céus, mas que o acompanha; não é
conduzida a carruagem à frente, mas sim que é ela a que leva ao Salvador. Por
um inefável mistério, enquanto o Filho de Deus eleva ao céu o Filho do homem, a
própria catividade é ao mesmo tempo portadora e portada. O que acrescenta: Deu dons aos homens, é o gesto típico do
vencedor.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 110-111. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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