sábado, 2 de maio de 2020

Homilia: IV Domingo de Páscoa - Ano A

São Basílio Magno
Sobre o Espírito Santo
 Ele é designado por nomes que designam como nos comunica a graça

Ao confessar a graça que por Ele (Cristo) se realizou em nós, acaso lhe rebaixamos a glória? Ou seria mais verdadeiro dizer que narrar seus benefícios é o argumento apropriado ao louvor? Por este motivo descobrimos que a Escritura não apresenta-nos o Senhor com um só nome, nem escolheu somente os que denotam sua divindade e grandeza, mas que utiliza as características da natureza; porque sabe que o nome do Filho é o que está acima de todo nome, e o chama Filho verdadeiro, Deus unigênito, Poder, Sabedoria e Verbo de Deus.
E também, pela múltipla maneira de como nos comunica a graça, que por sua bondade distribui àqueles que a necessitam segundo a riqueza de sua sabedoria, Ele é designado com outras inumeráveis expressões: algumas vezes é chamado pastor, outras de rei, médico, esposo, caminho, porta, fonte, pão, machado e pedra.
Como disse antes, estas denominações não determinam a natureza, mas a variedade de sua obra; porque, com suas entranhas de bondade por sua própria criatura, a distribui àqueles que a pedem, conforme a particular necessidade de cada um. Para quem se refugiou sob a sua guarda, e tem orientado sua generosidade mediante a paciência, Ele os chama ovelhas; e confessa ser Ele mesmo o pastor dos que escutam a sua voz, e não prestam atenção a doutrinas estranhas. Pois diz: Minhas ovelhas ouvem a minha voz. É rei dos que já se elevaram, e que necessitam de uma lei que os guarde. Também é porta, enquanto conduz às ações virtuosas mediante a retidão de seus mandatos, e também porque acolhe quem a Ele se refugia pela fé, para dar-lhes a segurança no dom do conhecimento. Daí que, se alguém entra por mim, entrará e sairá e encontrará pastagem. É pedra, porque é para os fiéis proteção vigorosa que não esmorece, e mais resistente que qualquer fortaleza.
Em torno a estas expressões se usa “por meio dele” de modo mais apropriado e claro quando se fala dele como porta e como caminho. Mas enquanto Deus e Filho tem a mesma glória que o Pai, porque ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, sobre a terra e embaixo da terra, e toda língua reconheça que Jesus Cristo é Senhor para a glória do Pai. Por este motivo usamos as duas expressões: com uma proclamamos sua própria dignidade, com a outra sua graça em nosso favor.
Porque por meio dele provém todo o auxílio às almas, e para cada tipo de apoio se concebe alguma denominação apropriada. Quando une a si a alma incontaminada, que não tem mancha nem ruga, como a uma casta virgem, é chamado esposo; quando a acolhe maltratada pelos malvados golpes do diabo, e a cura da grave debilidade de seus pecados, é nomeado médico. Acaso estes cuidados que tem de nós nos levam a senti-lo inferior? Ou terão efeito contrário, ou seja, fazer-nos admirar o grande poder e o amor de nosso Salvador pelos homens, já que Ele quis partilhar nossas debilidades e abaixar-se à nossa fraqueza?
Porque o céu e a terra, a imensidão dos mares, os animais que habitam nas águas ou na terra, as plantas, os astros, o ar, as estações, e todo o ornato do universo não podem todos juntos provar a excelência de seu poder, como o fato de que Deus, o imenso, de modo impassível tenha capacidade de deixar-se atar da morte por meio da carne, para conceder-nos como dom a impassibilidade através de sua própria Paixão. Pois o Apóstolo disse: Em todas estas coisas vencemos por Aquele que nos amou.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 100-102. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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