Santo Agostinho
Tratado sobre a 1ª Carta de São João
Pergunta ao teu coração se existe nele lugar
para o amor fraterno
Este é o seu mandamento: que creiamos no
nome de seu Filho, Jesus Cristo, e que nos amemos uns aos outros. Logo
percebes que este é o seu mandamento; percebes que quem age contra este
mandamento comete pecado, pecado de que carece aquele que nasceu de Deus. Tal
como Ele nos ordenou: que nos amemos mutuamente. Percebes que não nos ordena
outra coisa, a não ser que nos amemos uns aos outros. Quem guarda seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele; nisto
conhecemos que permanece em nós: pelo Espírito que nos deu.
Acaso não é
evidente que a obra do Espírito Santo no homem é que nele está a dileção e o
amor? Acaso não é evidente o que diz o Apóstolo Paulo: O amor de Deus foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo
que nos foi dado? Falava, pois, do amor e dizia que devemos interrogar
nosso coração na presença de Deus. No
caso de que não nos condene nossa consciência, isto é, se dá testemunho de
que o amor fraterno é a fonte de tudo o que de bom existe em nossas obras.
Acrescentamos
ainda que, falando do mandamento, João diz: E
este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e que
nos amemos uns aos outros. Quem guarda seus mandamentos permanece em Deus e
Deus nele; nisto conhecemos que permanece em nós: pelo Espírito que nos deu.
Realmente, se comprovas possuir a caridade, possuis o Espírito de Deus para
compreender, o qual é muito necessário.
Nos primeiros
tempos, o Espírito Santo descia sobre os crentes e falava em línguas que não
tinham aprendido, cada um na língua que o Espírito lhe sugeria. Eram sinais
apropriados aos tempos, porque era muito conveniente que o Espírito Santo fosse
significado por este dom da universalidade das línguas, já que através de todas
as línguas iria difundir-se o Evangelho de Deus por todo o orbe da terra. Uma
vez que isto foi significado, o sinal passou.
Acaso hoje
esperamos que aqueles sobre quem se impõem as mãos para que recebam o Espírito
Santo se ponham a falar em línguas? Ou será que, quando impusemos as mãos a
estas crianças, estava cada um de vós inclinado a ver se falariam em línguas? E
ao comprovar que não falavam em línguas, houve algum de vós de coração tão
perverso que dissesse: “Estes não têm recebido o Espírito Santo, porque, se
houvessem recebido, falariam em línguas como aconteceu naquela ocasião”? E se
agora não se comprova a presença do Espírito Santo mediante este tipo de
milagres, o que fazer, como conhecer que alguém recebeu o Espírito Santo?
Que cada um
interrogue o seu coração: se ama ao irmão, o Espírito Santo permanece nele. Que
veja e se examine aos olhos de Deus, que veja se ama a paz e a unidade, se ama
a Igreja difundida por toda a terra. Que não ame somente ao irmão que tem
diante de si, porque são muitos os irmãos que não vemos e aos quais estamos
vinculados na unidade do Espírito. Há algo de estranho que não estejam conosco?
Formamos um só corpo, temos uma só cabeça no céu. Portanto, se queres saber se
recebeste o Espirito Santo, pergunta ao teu coração, não aconteça que tenhas o
sacramento e te falte a virtude do sacramento. Pergunta ao teu coração se nele
há um lugar para o amor fraterno, e fica tranquilo. Não pode haver amor sem o
Espírito de Deus, visto que Paulo exclama: O
amor de Deus foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo que nos foi dado.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 114-115. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
Confira também outra homilia de Santo Agostinho para esta Solenidade clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário