São João Crisóstomo
Sermão sobre o Evangelho de São Mateus
“Se
Deus aceita os dons para o seu templo lhe agradam, no entanto, muito mais as
oferendas que se dão aos pobres”
Desejas honrar o
Corpo de Cristo? Não o desprezes, pois, quando o contemplas nu nos pobres, nem
o honres aqui, no templo, com lenços de seda, se ao sair o abandonas em seu
frio e nudez. Porque o mesmo que disse: Isto
é o meu Corpo, e com sua palavra trouxe à realidade o que dizia, afirmou
também: Tive fome e não me destes de
comer, e mais adiante: Sempre que o
deixastes de fazer a um destes pequeninos, a mim o deixastes de fazer. O
templo não necessita de vestes e lenços, mas pureza de alma; os pobres, porém,
necessitam que com muita dedicação nos preocupemos com eles.
Reflitamos,
portanto, e honremos a Cristo com aquela mesma honra com que Ele deseja ser
honrado; pois, quando se quer honrar alguém, devemos pensar na honra que lhe
agrada, e não no que nos satisfaz. Também Pedro quis honrar ao Senhor quando
não permitiu deixar-se lavar os pés, mas o que ele queria impedir não era a
honra que o Senhor desejava, mas sim o contrário. Assim, tu deves prestar ao
Senhor a honra que Ele mesmo te indicou, distribuindo tuas riquezas aos pobres.
Pois Deus certamente não tem necessidade de taças de ouro, mas, ao contrário,
deseja almas de ouro.
Não digo isto
com intenção de proibir a entrega de dons preciosos para os templos, mas que,
junto com estes dons e até mesmo acima deles, deve-se pensar na caridade para
com os pobres. Porque, se Deus aceita os dons para o seu templo, lhe agradam,
no entanto, muito mais as oferendas que se dão aos pobres. De fato, da oferenda
feita ao templo somente tira proveito quem a fez; mas da esmola tira proveito
tanto quem a faz como quem a recebe. O dom dado para o templo pode ser motivo
de vanglória; a esmola, entretanto, somente é sinal de amor e caridade.
De que serviria
adornar a mesa de Cristo com taças de ouro se o próprio Cristo morre de fome?
Dá primeiro de comer ao faminto, e em seguida, com o que te sobrar,
ornamentarás a mesa de Cristo. Queres fazer oferenda de taças de ouro e não és
capaz de dar um copo de água? E de que serviria recobrir o altar com lenços
bordados de ouro, quando negas ao próprio Senhor a veste necessária para cobrir
a sua nudez? O que ganhas com isso? Não se indignará ainda mais contigo? Ou se,
vendo-o vestido de farrapos e morto de frio, sem lembrar-te de sua nudez,
levantas em sua honra monumentos de ouro, afirmando que com estes presentes o
está honrando, Ele não pensará que queres zombar de sua indigência com a mais
sarcástica de tuas ironias?
Pensa, portanto,
que é isto o que fazes com Cristo, quando o contemplas errante, peregrino e sem
teto e, sem recebê-lo, te dedicas a adornar o pavimento, as paredes e as
colunas do templo. Prende lâmpadas com correntes de prata, e te negas a
visitá-lo quando Ele está acorrentado na prisão. Com isto que estou dizendo não
pretendo proibir o uso de tais adornos, mas afirmo que é absolutamente
necessário fazer um sem descuidar do outro; mais: exorto-vos a que sintais
maior preocupação pelo irmão necessitado do que pela decoração do templo.
Realmente ninguém estará condenado por omitir este segundo; mas os castigos do
inferno, o fogo inextinguível e a companhia dos demônios estão destinados para
aqueles que descuidem do primeiro. Portanto, ao decorar o templo, procurai não
desprezar o irmão necessitado, porque este templo é muito mais precioso que aquele
outro.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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