São Gregório Magno
Sermão sobre os Evangelhos
“Existe
mais alegria no céu pela conversão do pecador do que pela perseverança do justo”
Eu vos digo que haverá mais alegria no céu
por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não
necessitam de conversão. Devemos considerar, meus irmãos, por que o Senhor
diz que existe no céu maior alegria na conversão dos pecadores do que na
perseverança dos justos; e é pelo mesmo que estamos vendo todos os dias, ou
seja, porque muitas vezes aqueles que sabem que não estão contaminados pelos
pecadores se encontram, sim, no caminho da justiça, não cometem nenhuma coisa
ilícita, mas, no entanto, não desejam ansiosamente irem para a pátria
celestial, e se permitem usar de coisas lícitas, enquanto lembram-se de não ter
cometido nada de ilícito. E muitas vezes são fracos para praticar as principais
virtudes, porque estão muito seguros de que não cometeram nenhuma falta grave.
Mas, pelo
contrário, algumas vezes aqueles que sabem que fizeram alguma coisa ilícita,
oprimidos por sua própria dor, incendeiam-se no amor de Deus, exercitam-se nas
maiores virtudes, empreendem com santo valor tudo que é mais difícil, deixam
todas as coisas deste mundo, fogem das honras, alegram-se com as afrontas que
lhes serão inferidas, ardem em santos desejos e anelam ir para a pátria
celestial, e considerando que se afastaram de Deus, recompensam os prejuízos
precedentes com os bens que alcançam depois.
Portanto, existe
mais alegria no céu pela conversão do pecador do que pela perseverança do
justo, porque um capitão ama mais numa batalha aquele soldado que, tendo
voltado ao combate após ter fugido, ataca com coragem o inimigo, que ao outro
que, embora nunca tenha voltado às costas, contudo, também nunca fez nada de
valor. Assim também o lavrador estima mais aquela terra que, depois de ter
ervas daninhas, dá abundantes frutos, que aquela que nunca teve espinhos, porém
tampouco produz messe em abundância.
Apesar do que
foi dito, devemos considerar também que existem muitos justos, em cuja vida
existe tanta alegria, que de nenhuma forma será postergada aquela que se
experimenta com qualquer penitência dos pecadores. Pois muitos justos sabem
perfeitamente que não têm pecado algum e, contudo, afligem-se de tal maneira
como se estivessem manchados com todos os pecados do mundo. Privam-se de todas
as coisas, até mesmo das lícitas; submetem-se com abnegação ao desprezo do
mundo, não querem permitir-se nem sequer as menores coisas; abstém-se dos bens,
mesmo daqueles que lhes foram concedidos; alegram-se com os seus sofrimentos e
se humilham em todas as coisas; e, como alguns, choram os pecados de atos,
lamentam os pecados de pensamento.
Como se há de
chamar a estes, senão justos e penitentes, que se humilham no pecado de
pensamento e perseveram sempre retos nas obras? Daqui temos de inferir quão
grande será a alegria do Senhor quando humildemente chora o justo, sendo que há
alegria no céu quando o injusto reprova pela penitência o mal que fez.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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