Autor anônimo do século IV
Sermão 48
“Sobre
a perfeita fé em Deus”
Querendo o
Senhor conduzir seus discípulos para fé perfeita, disse no Evangelho: Quem é fiel nas coisas pequenas também é
fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes.
O que são as coisas pequenas? As pequenas são os bens desta vida, que ele
prometeu dar aos que creem nele, tais como o sustento, as vestes e outras
necessidades corporais, como a saúde e coisas do tipo, ordenando-nos
categoricamente que não andemos preocupados com elas, mas esperemos com
confiança n’Ele, pois Deus é a providência daquele que a Ele se acolhem,
providência total e segura.
As coisas
grandes são os dons da vida eterna e incorruptível, que Ele prometeu a quantos
creiam n’Ele e aos que continuamente estão dependentes destas coisas e a Ele
buscam em suas necessidades, porque assim está ordenado: Vós, porém, buscai sobretudo
o Reino de Deus e a sua justiça, e as outras coisas vos serão dadas por
acréscimo. Nestas coisas pequenas e temporais se demonstrará se alguém crê
em Deus, que prometeu concedê-las a nós, na condição, porém, de que não andemos
oprimidos por elas, mas unicamente nos preocupemos das realidades futuras e
eternas.
E ficará perfeitamente
estabelecido que alguém crê nos bens incorruptíveis e busca de verdade os bens
eternos se conserva uma fé sadia nestes bens. De fato, cada um dos que
aceitaram a Palavra de verdade deve provar-se e examinar a si mesmo, ou ser
examinado e provado por mestres do espírito, sobre quais são as razões de sua
fé e quais as motivações de sua entrega a Deus: deve ponderar se crê realmente
e de verdade apoiado na Palavra de Deus, ou se crê mais induzido pela opinião
que formou sobre a justificação e a fé.
Toda pessoa tem
ao seu alcance a possibilidade de comprovar e demonstrar a si mesmo se é fiel
nas pequenas coisas – refiro-me aos bens temporais. De que forma? Escuta: te
crês digno do Reino dos Céus? Te confessas filho de Deus nascido do alto? Te
consideras co-herdeiro de Cristo, destinado a reinar eternamente com Ele e a
gozar das delícias na misteriosa luz por séculos incontáveis e infinitos, assim
como Deus? Me contestarás, sem dúvida: Certamente! Essa é precisamente a razão
pela qual deixei o mundo e me entreguei em corpo e alma ao Senhor.
Examina-te,
portanto, e observa se as preocupações terrenas ainda não te retêm, ou o
desmedido cuidado do sustento e da veste corporal, ou também outros interesses
e o conforto, como se tu fosses capaz de prover-te por ti mesmo do que te foi
ordenado de não preocupar-te de forma alguma, ou seja, de tua vida. Pois se
estás convencido de poder alcançar os bens imortais, eternos, permanentes e
carentes de inveja, muito mais convencido tem de estar de que o Senhor te concederá
estes bens efêmeros e terrenos, que Ele concede inclusive aos homens ímpios e
até aos próprios pássaros, havendo-te Ele mesmo ensinado a não preocupar-te com
nada destas coisas.
Portanto, você,
que te fizeste peregrino deste mundo, deves obter uma fé nova e peregrina, um
modo de pensar e de viver superior ao de todos os homens deste mundo. Glória ao
Pai e ao Filho e ao Espírito Santo pelos séculos. Amém.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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