São João Paulo II, Papa
Da Homilia na Dedicação do Santuário de
Aparecida
04 de julho de 1980
“A
devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda”
“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado
concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”
Desde que pus os
pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde passei, ouvi este cântico.
Ele é, na ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma, uma
saudação, uma invocação cheia de filial devoção e confiança para com aquela
que, sendo verdadeira Mãe de Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento
extremo da sua vida para ser nossa Mãe (...).
Sim, amados
irmãos e filhos, Maria, a Mãe de Deus, é modelo para a Igreja, é Mãe para os
remidos. Por sua adesão pronta e incondicional à vontade divina que lhe foi
revelada, torna-se Mãe do Redentor, com uma participação íntima e toda especial
na história da salvação. Pelos méritos de seu Filho, é Imaculada em sua
Conceição, concebida sem a mancha original, preservada do pecado e cheia de
graça (...).
Ao
confessar-se serva do Senhor (Lc 1,38) e ao pronunciar o seu sim,
acolhendo “em seu coração e em seu seio” o mistério de Cristo Redentor, Maria
não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na
salvação dos homens com fé livre e inteira obediência. Sem nada tirar ou
diminuir e nada acrescentar à ação daquele que é o único Mediador entre Deus e
os homens, Jesus Cristo, Maria nos aponta as vias da salvação, vias que
convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora.
Maria nos leva a
Cristo, como afirma com precisão o Concílio Vaticano II: “A função maternal de
Maria, em relação aos homens, de modo algum ofusca ou diminui esta única
mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia. E de nenhum modo impede o
contato imediato dos fiéis com Cristo, antes o favorece”.
Mãe da Igreja, a
Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e na ação desta mesma
Igreja. Por isso mesmo, a Igreja tem os olhos sempre voltados para aquela que,
permanecendo virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne.
Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos
fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização? Assim, a
“Estrela da Evangelização”, como a chamou o meu Predecessor Paulo VI, aponta e
ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor,
de sua mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de
bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana
coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do
pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com
Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se
convertem a Cristo, autor da salvação e princípio de unidade, são chamados a
congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade humana
salvífica.
Por tudo isto,
nós todos, os que formamos a geração hodierna dos discípulos de Cristo, com
total aderência à tradição antiga e com pleno respeito e amor pelos membros de
todas as comunidades cristãs, desejamos unir-nos a Maria, impelidos por uma
profunda necessidade da fé, da esperança e da caridade. Discípulos de Jesus
Cristo neste momento crucial da história humana, em plena adesão à ininterrupta
Tradição e ao sentimento constante da Igreja, impelidos por um íntimo
imperativo de fé, esperança e caridade, nós desejamos unir-nos a Maria. E
queremos fazê-lo através das expressões da piedade mariana da Igreja de todos
os tempos (...).
A devoção a
Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os
irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus
exemplos. Como ouvimos no Evangelho, ela nos orienta para Jesus: Fazei o
que ele vos disser (Jo 2,5). E, como outrora em Caná da Galileia,
encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo dele as graças
desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa”.
Fonte: Liturgia das Horas, v. IV, pp.
1369-1371.
A homilia
completa está disponível no site da Santa Sé.
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